EM DIA DE DEBATE

Boulos promete expulsar Enel e ataca Tarcísio por privatizar Sabesp

Candidato perde várias oportunidades diante da mídia

Apagão.Boulos apareceu ao lado de Verônica e seu filho José, cujas vidas correm risco por causa de desabamento de árvore.Créditos: Luiz Carlos Azenha
Escrito en POLÍTICA el

Quarenta e oito horas depois de ter postado um vídeo em rede social denunciando o risco da queda de uma árvore sobre a casa de uma família onde vivem cinco pessoas, o candidato Guilherme Boulos conduziu jornalistas de volta ao local para denunciar que a Prefeitura de São Paulo nada fez.

Desde a tempestade da noite de sexta-feira Boulos tem focado neste assunto. Este é o segundo apagão parcial que São Paulo vive em dois anos.

Esta noite, Boulos e o prefeito Ricardo Nunes debatem pela primeira vez na campanha do segundo turno.

Mais de um milhão de paulistanos ficaram sem energia elétrica depois do temporal. Outras centenas de milhares ficaram sem água. Semáforos apagaram, ruas ficaram sem iluminação pública. Centenas de árvores caíram.

A população voltou-se contra a Enel, pela demora do restabelecimento da energia. A reportagem da Fórum conversou com várias pessoas que perderam alimentos que estavam na geladeira na zona Sul de São Paulo. A casa do candidato Boulos, no Campo Limpo, ficou quase 48 horas sem luz.

O prefeito Ricardo Nunes, o governador Tarcísio de Freitas, representantes do governo federal e Guilherme Boulos trocaram acusações sobre a responsabilidade pelo caos.

Nunes e Tarcísio atribuíram o problema à Agência Nacional de Energia Elétrica, órgão federal. O governo Lula diz que não pode trocar o comando da ANEEL, indicado no governo de Jair Bolsonaro.

Hoje, Boulos prometeu que, eleito, trabalhará para cassar a concessão de empresa, que é herdeira do espólio da estatal Eletropaulo.

Lucros bilionários

A Enel é uma multinacional italiana que registrou lucro recorde de 3,44 bilhões de euros em 2023, mais que o dobro do ano anterior.  Boulos afirmou:

Quem é de São Paulo sabe. A conta ficou mais cara e o serviço piorou. A Enel reduziu em mais de 30% o número de funcionários. Menos funcionários, menos condição de dar resposta a uma situação como essa. A Enel lucrou mais de 40 bilhões de reais. [...] A responsabilidade é dupla. Da Enel, uma empresa horrorosa, que eu prefeito de São Paulo vou tirar daqui e de outro lado de um prefeito omisso, covarde, que só aparece em tempo de eleição.

Boulos também atacou o padrinho político de Ricardo Nunes, Tarcísio de Freitas, alertando sobre a recente privatização da Sabesp, à qual se referiu como futura "Enel da água".

A privatização da Sabesp é alvo de grande polêmica.

Chances perdidas

No encontro com jornalistas, o candidato perdeu algumas oportunidades. Não fez referência à crise climática, que prevê tempestades cada vez mais violentas para as quais a metrópole não está preparada.

Não deu ouvidos à denúncia de moradores, segundo os quais a Prefeitura privilegia os bairros mais ricos de São Paulo nas emergências.

Não muito longe de onde Boulos fez a aparição, aliás, dezenas de funcionários da Prefeitura trabalhavam em uma praça para cortar árvores caídas e recolher os galhos -- justamente em área asfaltada, mais afluente.

Já na rua visitada pelo candidato, foram os próprios moradores que fizeram a limpeza. Um deles disse à Fórum ter usado um machado.

Quando expôs sua casa para entrevista à revista Caras, o prefeito Ricardo Nunes posou ao lado de uma piscina com cascata, num bairro nobre da zona Sul -- que aparentemente não sofreu apagão.

Segundo moradores do bairro visitado por Boulos, a Enel privilegia as regiões nobres com manutenção frequente da rede elétrica.

Em nota, a Enel afirmou:

A Enel reitera o seu compromisso com a população em todas as áreas em que atua e seguirá investindo para entregar uma energia de qualidade para todos. Em relação à concessão em São Paulo, a distribuidora está comprometida em ir além dos indicadores estabelecidos e segue com um plano estruturado para seguir a trajetória de melhoria contínua dos serviços.