Para Jair Bolsonaro, o suicídio de uma jovem representa uma "luz no fim do túnel" que pode levar ao impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em tom festivo, o ex-presidente divulgou em seu canal oficial do WhatsApp, nesta quinta-feira (4), um texto bizarro assinado por Monica Cury, líder de um grupo de extrema direita, em que tenta estabelecer relação entre a morte de Jéssica Vitória Canedo, que cometeu suicídio no fim do ano passado após ser vítima de fake news associando seu nome ao do humorista Whindersson Nunes, a agência de assessoria a influenciadores Mynd8, a página "Choquei" e o governo Lula.
"Há luz no fim do túnel! Meus amigos, 2024 está começando bem para uns e pessimamente para outros.?? Entenda como o suicídio de uma menina, pode causar o impeachment do Dilmo ou até a cassação da chapa Dilmo/Chuchu", diz o início do texto abjeto divulgado por Bolsonaro.
Confira:
Através das redes X (antigo Twitter), o ex-mandatário ainda divulgou um vídeo em que aparece animado convidado as pessoas a lerem o texto em questão.
"Eu postei na rede zap agora pouco uma mensagem que não é minha. É um texto um pouco longo mas que fala muita coisa. Parabenizo o autor. O que eu peço a vocês? Leiam, se possível, leiam de novo e repassem", disparou Bolsonaro.
Mynd8 se pronuncia
A agência Mynd8, uma das maiores do país que trabalham com influenciadores digitais e suas páginas, usou suas redes sociais nesta quinta-feira (4) para se defender das acusações sofridas por meios de comunicação e personalidades bolsonaristas no bojo da cobertura do Caso Choquei e que, segundo a empresa, desdobraram para ataques de ódio e difusão de fake news nas redes.
Tudo começou com a morte da jovem Jéssica Canedo, de 22 anos. Ela tirou a própria vida no último mês após sofrer ataques digitais sistemáticos decorrentes de uma fake news envolvendo uma suposta relação amorosa com o humorista e influenciador digital Whindersson Nunes. A Choquei, com seus cerca de 30 milhões de seguidores àquela altura, foi apontada como uma das páginas de fofocas que compartilhou a mentira envolvendo Jéssica.
O caso influenciou acalorados debates nas redes sociais, sobretudo em relação a possibilidade de regulação das mesmas. Foi lembrado nesse contexto que o mercado publicitário, nos últimos anos, tem visto a criação de uma série de agências especializadas em administrar as carreiras de influenciadores digitais. E foi aí que a Mynd 8 entrou no radar.
A empresa tem em sua carteira de clientes nomes como Luísa Sonza, Pabllo Vittar, Cleo, Bela Gil, Pequena Lo, Deolane Bezerra, Esse Menino, Bruna Louise, Lexa, Yuri Marçal, Gil do Vigor, entre outros. Além de empresas como Magazine Luiz, Americanas, Ambev, TV Globo e Amazon. A página Choquei chegou a ser cliente da Mynd 8, mas à época dos acontecimentos já não trabalhavam mais juntas.
Nesse contexto, os ataques teriam começado após o youtuber Daniel Penin, um ‘coach de enriquecimento’, afirmar que a Mynd 8 seria a responsável pela distribuição dos conteúdos de perfis de fofoca. A empresa nega.
“Não somos donos de nenhum perfil de conteúdo de notícias ou relacionados. Todos os perfis agenciados são livres, totalmente independentes e têm conteúdo administrado por suas donas e seus donos. Jamais orquestramos postagens em conjunto de nenhuma forma ou criamos estratégias de cunho político para nenhum campo ideológico a não ser a divulgação de ações publicitárias contratadas pelas empresas que atendemos e ativadas pelas pessoas que agenciamos”, diz a nota da empresa.
E a partir da declaração do youtuber, a empresa se tornou alvo de bolsonaristas. O deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) anunciou na última quarta (3) que pretende iniciar uma CPI para investigar a empresa. O fato foi noticiado pela Revista Oeste. O mesmo site, afeito ao bolsonarismo e à extrema direita, também noticiou um tuíte de Rodrigo Silva, do Spotniks, acusando a empresa de promover uma “máfia digital”. Já o site Gazeta do Povo, outro abertamente bolsonarista em sua linha editorial, aponta que a empresa “agencia perfis pró-Lula”, conforme o discurso de Gayer.
Segundo a nota da empresa, seus funcionários e administradores passaram a receber ameaças e sofrer ataques digitais orquestrados paralelamente aos fatos noticiados.
“A Mynd está sofrendo inúmeros ataques organizados e sistemáticos de ódio, mentiras e divulgação de fake news. O alvo é nossa empresa, o time de pessoas sérias que trabalham aqui e, acima de tudo, as pessoas que agenciamos pela relevância que conquistaram no debate público na sociedade brasileira. Além disto, incitando envios de xingamentos e ameaças para executivos e colaboradores. Ações estas que podem gerar danos irreparáveis”, diz a nota da Mynd 8.
Leia a nota da empresa na íntegra
“A Mynd está sofrendo inúmeros ataques organizados e sistemáticos de ódio, mentiras e divulgação de fake news. O alvo é nossa empresa, o time de pessoas sérias que trabalham aqui e, acima de tudo, as pessoas que agenciamos pela relevância que conquistaram no debate público na sociedade brasileira. Além disto, incitando envios de xingamentos e ameaças para executivos e colaboradores. Ações estas que podem gerar danos irreparáveis.
Somos uma agência de marketing de influência. Cuidados exclusivamente da intermediação de venda de publicidade em perfis nas redes sociais e não participamos em nenhum momento da definição do conteúdo pessoal postado nos perfis dos criadores que atendemos.
Por que isso é importante? Porque não somos donos de nenhum perfil de conteúdo de notícias ou relacionados. E porque todos os perfis agenciados são livres, totalmente independentes e têm conteúdo administrado por suas donas e seus donos.
Por que resolvemos vir à público? Porque temos exata noção do quanto as redes sociais podem ser usadas para o bem ou para o mal. Sabemos que fake news repetidas dia e noite geram desinformação, espalham ódio e incitam a violência.
E por isso afirmamos publicamente que jamais orquestramos postagens em conjunto de nenhuma forma ou criamos estratégias de cunho político para nenhum campo ideológico a não ser a divulgação de ações publicitárias contratadas pelas empresas que atendemos e ativadas pelas pessoas que agenciamos.
O que faremos? Vamos defender nossa honra e nosso nome no mercado. Vamos defender cada pessoa que trabalha honestamente e talentosamente em nossa empresa. Vamos defender o direito e a honra de cada pessoa que agenciamos de atuar nas redes sociais de acordo com seus valores e suas posições éticas.
Falamos aqui para a sociedade brasileira, para nossos clientes e para todas as pessoas sérias que buscam a verdade e a construção de um ambiente digital livre, saudável e que respeite os direitos humanos no Brasil.
Por outro lado, há quem só vive para semear o ódio, mentiras, calúnias e fake news. Vamos além, graves violência psicológicas e, acreditem, até mesmo ameaças de morte contra pessoas da Mynd e contra nossas famílias. Nesses casos, nossa resposta jurídica cível e criminal será firme e incansável, em todas as instâncias, sempre confiantes nas instituições da Justiça do nosso país.
Vamos seguir fazendo aquilo que amamos! Seguiremos defendendo uma sociedade livre, tolerante, plural e democrática. Com humildade vamos apreendendo, aprimorando processos e nos desenvolvendo.
Mas acima de tudo seguiremos apoiando as pessoas mais incríveis e talentosas que brilham na internet influenciando milhões e milhões de pessoas no Brasil todos os dias! Esse sempre foi e segue sendo o nosso compromisso de vida!
Por fim, para refletir com profundidade… quando banalizamos o ódio e a mentira estamos banalizando o mal!”