REPARAÇÃO

Toffoli negou direito de Lula ir ao enterro do irmão antes de considerar prisão como "erro histórico"

Desde a vitória do líder petista à presidência da República no pleito de 2022, que o ministro do STF busca se reaproximar daquele que o indicou à Corte

Toffoli negou direito de Lula ir ao enterro do irmão antes de considerar prisão como "erro histórico".Créditos: Agência Brasil
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Histórica. É dessa maneira que a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli, despachada na manhã desta quarta-feira (6) e que anulou todas as provas colhidas pela Lava Jato contra a Odebrecht, tem sido classificada.

Em sua decisão, Dias Toffoli afirma que a prisão de Lula "foi um erro histórico". "Pela gravidade das situações estarrecedoras postas nestes autos, somadas a outras tantas decisões exaradas pelo STF e também tornadas públicas e notórias, já seria possível, simplesmente, concluir que a prisão do reclamante, Luiz Inácio Lula da Silva, até poder-se-ia chamar de um dos maiores erros judiciários da história do país", sentencia o ministro.

Além disso, Toffoli também decreta que a prisão de Lula é fruto "de uma armação fruto de um projeto de poder de determinados agentes públicos em seu objetivo de conquista do Estado por meios aparentemente legais, mas com métodos e ações contra legem".

Toffoli também determinou que a Advocacia-Geral da União (AGU) e a Polícia Federal investiguem as condutas de Sergio Moro, Deltan Dallagnol e de outros agentes envolvidos na Operação Lava Jato.

Tortura institucional

A decisão de Toffoli acontece dentro de um contexto em que o ministro do STF busca uma reaproximação com o presidente Lula, visto que a relação com o presidente se encontra fortemente abalada desde o episódio em que o juiz da Suprema Corte não permitiu a ida do líder petista ao velório de seu irmão, Vavá.

Genival Inácio da Silva, o Vavá, faleceu aos 79 anos vítima de um câncer. À época, Lula estava preso, e sua defesa entrou com um pedido para que ele pudesse ir ao velório. O pedido foi negado pela juíza federal Carolina Lebbos, da 12ª Vara Criminal de Curitiba, e pelo desembargador Leandro Paulsen, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

Dessa maneira, o caso chegou ao ministro Toffoli, que apresentou uma solução esdrúxula para o caso: Lula poderia se reunir com sua família em uma unidade familiar para onde o corpo de Vavá poderia ser levado antes do sepultamento. Lula agradeceu, mas não aceitou a proposta do magistrado.

Durante o velório de Vavá, a deputada federal e presidenta do PT, Gleisi Hoffmann (PT-PR), transmitiu uma mensagem de Lula, que classificou a decisão de Toffoli como "maldade".

"Não deixaram que eu me despedisse do Vavá por pura maldade. Não posso fazer nada porque não me deixaram ir. O que eu posso fazer é ficar aqui e chorar", declarou Lula à época.

O caso foi classificado como “tortura institucional” por vários especialistas da área jurídica.

"Perdão"

Durante a cerimônia de diplomação de Lula, em dezembro de 2022, para o seu terceiro mandato presidencial, o ministro Dias Toffoli se aproximou do mandatário e pediu o seu perdão pelo fato de tê-lo impedido de velar o seu irmão.

"O senhor tinha direito de ir ao velório. Me sinto mal com aquela decisão, e queria dormir nesta noite com o seu perdão", declarou Toffoli ao presidente Lula.

Segundo a jornalista Mônica Bergamo, o presidente Lula teria dito para o ministro ficar tranquilo e que conversaria com ele em outro momento sobre a questão, de maneira reservada.

Contornar erros 

O ministro Dias Toffoli foi indicado pelo presidente Lula ao STF durante o seu segundo mandato, em 2009.

Toffoli já tinha passagem, como advogado, pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e pela Advocacia-Geral da União (AGU). Dessa maneira, era visto como um quadro progressista a ocupar uma cadeira na Suprema Corte.

No entanto, com a eclosão da crise política e institucional provocada pelas Manifestações de Junho de 2013, e com o alvorecer da Operação Lava Jato, Dias Toffoli passou a colecionar uma série de declarações duras contra o governo comandado pelo PT e contra Dilma Rousseff e Lula.

Porém, em 2019, primeiro ano de governo Bolsonaro, Toffoli tomou a decisão de abrir o inquérito das Fake News, em curso até hoje sob o comando do ministro Alexandre de Moraes.

Um ano após a abertura do inquérito, Toffoli, que era presidente do STF, falou sobre os ataques às instituições brasileiras. "Aqueles que estudaram a história do Brasil sabem e têm noção de que não foi uma decisão fácil. Foi a decisão mais difícil da minha gestão a abertura do inquérito. A gente viu o início de uma política de ódio que quer destruir instituições e instalar o caos", afirmou o ministro.

No entanto, Toffoli falou sobre a sua relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro e que, naquela época, não identificava “atitudes antidemocráticas” do ex-mandatário e seus ministros.

"No relacionamento que tive com o presidente Jair Bolsonaro e seus ministros, nunca vi diretamente nenhuma atitude contra a democracia. Além disso, tive uma 'convivência mais intensa' com Bolsonaro nos últimos anos para fazê-lo compreender que cabe ao Supremo declarar inconstitucional determinadas normas e cabe a ele respeitar. E ele respeitou", disse Toffoli, em abril de 2020.

De lá para cá, Lula se tornou presidente, e Jair Bolsonaro e sua horda de fanáticos tentaram dar um golpe de Estado. Neste contexto, Toffoli parece buscar contornar alguns erros históricos de sua recente carreira no Supremo Tribunal Federal: pedir perdão a Lula e colocar a Operação Lava Jato em seu devido lugar no que diz respeito a uma série de ilegalidades cometidas durante o seu auge.


 

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