TERRORISMO

EXCLUSIVO: Bomba numerada que não explodiu em Brasília pode ter sido uma entre muitas

Fonte da PF dá detalhe assustador não revelado no caso dos terroristas bolsonaristas que tentaram explodir caminhão-tanque no aeroporto do DF. Entenda do que o Brasil se livrou

Caixa com a bomba que explodiria o aeroporto de Brasília.Créditos: Redes sociais/Reprodução
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Era 24 dezembro, véspera de Natal, e o Brasil ainda acordava e ia dormir assustado com as ameaças golpistas que não paravam de brotar e que pareciam ter tomado forma pouco mais de uma semana antes, no fim da tarde do dia 12, quando uma horda de extremistas tentou literalmente incendiar Brasília e invadir a sede da Polícia Federal, numa ação que tentava impedir a diplomação do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na data mais importante do cristianismo, os terroristas que se dizem cristãos tentariam o mais ousado e horrendo plano: explodir o aeroporto Juscelino Kubitschek, na capital da República.

A história, passados nove meses, é bem conhecida. George Washington de Oliveira Sousa, Alan Diego dos Santos Rodrigues e Wellington Macedo de Souza, o trio aloprado de bolsonaristas, viu sua funesta ação ir pelo cano depois que o motorista de um caminhão-tanque carregado com 60 mil litros de querosene de aviação notou uma caixa, onde estava uma bomba com detonador remoto, presa ao veículo. Ele largou a carreta numa área segura da rodovia por onde trafegava, se afastou e acionou a polícia, que chegou rapidamente.

O inapagável capítulo de horror da História do Brasil volta à tona nesta quinta-feira (28) porque um dos condenados pelo plano criminoso, Alan Diego, comparecerá à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, no Congresso Nacional, para prestar depoimento aos deputados e senadores que examinam os intentos golpistas que quase liquidaram a democracia brasileira.

Embora a investigação desse crime tenha sido conduzida e concluída pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), que apresentou o inquérito ao Ministério Público, tendo já levando à condenação de George Washington e Alan Diego pela Justiça, enquanto Wellington Macedo seguia foragido, um servidor da Polícia Federal que atuava no Palácio do Planalto no conturbado período da transição governamental, e que revelou com exclusividade à Fórum o envolvimento do GSI na desordem golpista que tomou o Brasil naquele momento, conta agora um detalhe que pouca gente conhece sobre o episódio da tentativa de mandar pelos ares o aeródromo de Brasília lotado de passageiros.

Nas fotos que circularam na imprensa mundial da caixa de papelão largada na via pública, onde uma bomba com um detonador eletrônico repousava, aguardando um técnico do esquadrão antibombas da PF chegar paramentado, como nos filmes de Hollywood, ou na vida real cotidiana de Israel, um adesivo transparente, com um papel branco por baixo, mostra o número “01”.

Bomba do trio bolsonarista não detonada que pretendia explodir o aeroporto de Brasília.

Mas por que diabos uma bomba levada por três terroristas num carro, para ser colocada num caminhão que explodiria um aeroporto na véspera de Natal, teria uma numeração com dois algarismos a identificando? A resposta é simples e o agente da PF ouvido pela Fórum é direto: ocorreriam outros atentados naquele 24 de dezembro.

“É certo que havia outros artefatos explosivos espalhados que seriam detonados. O próprio depoimento do George Washington, e as investigações da PCDF, além daquilo que chegou à PF até agora, mostraram isso, assim como no relato do outro condenado que foi preso, que aponta para o fato de que haveria uma sequência a ser executada de acordo com um plano estipulado, debatido e construído, lá dentro do acampamento do QG do Exército, do chamado Forte Apache, aqui em Brasília. É um fato essa ideia de sequenciar os atentados com base nesse plano gestado na frente dos quartéis”, diz o servidor que estava no Palácio do Planalto naquele período.

Bomba de bolsonaristas, ainda dentro da caixa, após motorista encontrar o explosivo.

Para ele, quanto mais se avança sobre esses condenados, assim como sobre outros personagens especificamente deste caso, mais a investigação se aproxima do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), comandado à época pelo general Augusto Heleno, o homem mais fiel e próximo de Jair Bolsonaro (PL).

“O curioso nessa investigação é quanto mais a gente puxa o fio, mais a gente vai descobrindo outras pessoas envolvidas nisso... Foram pegos esses três indivíduos inicialmente, que são a pontinha dessa operação, mas por trás disso, e eu venho salientando isso, dentro do acampamento, havia a utilização de agentes de inteligência, e se presume que do GSI, naturalmente, que não só monitoravam em termos de inteligência, e é claro que falo no sentido de inteligência para eles, do próprio GSI, mas que faziam esse trabalho ininterrupto de informação e de dissonância, agitando e dizendo ‘ah, não pode deixar esse governo do Lula assumir’, ‘ah, tá na hora de agir’... A bomba foi só uma parte da operação desse pessoal lá dentro, e de fato eram muito mais bombas, não era só aquela do caminhão... Não à toa elas estavam numeradas”, acrescentou o PF.

A fonte da Fórum pondera que, de fato, os agentes do GSI não executaram pessoalmente as ações envolvendo as bombas numeradas, mas ela lembra que seria impossível um nível de sofisticação como aquele encontrado nos explosivos, sem contar nos insumos utilizados nas engenhocas mortais, sem a ajuda direta de profissionais habituados com esse universo, que é, por lógica, militar.

“É evidente pelo que temos até agora que eles não precisaram botar a mão na massa, mas qualquer um sabe que para montar um artefato daquele você precisa do conhecimento de um especialista, isso é inevitável... Como chegou explosivo lá dentro, como chegou espoleta, detonador remoto, tudo... Quem sabe fazer uma bomba profissional daquela? Essa bomba numerada, e da forma como foi numerada, indica um sequenciamento dos atos de terrorismo e o que corrobora isso são os depoimentos desses detidos até agora, que estão justamente nessa linha... Era provavelmente uma sequência que envolvia a explosão do caminhão-tanque no aeroporto, a explosão de torres de transmissão de alta-tensão, da explosão da plataforma superior da rodoviária, enfim... Mas logo no primeiro ataque isso foi frustrado prematuramente, fazendo com que essas ações fossem abortadas”, concluiu o servidor da Polícia Federal.