AGITADOR CATÓLICO

Padre golpista pediu em discurso que Deus mantivesse Bolsonaro no poder

Mauro Cid diz não se lembrar nome do religioso que participou de reunião do golpe

Dia seguinte.Um dia depois de discursar no Alvorada, o padre Genésio (à esquerda) estava no acampamento golpista diante do QGCréditos: Reprodução Facebook
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O tenente-coronel Mauro Cid, na delação que está fazendo tremer a República, afirmou ter testemunhado no final do ano passado uma reunião pró-golpe da qual teriam participado o presidente Jair Bolsonaro, seu assessor internacional Filipe Martins, um constitucionalista e um padre.

As informações são do UOL.

A Polícia Federal quer saber se a minuta de decreto apresentada a Bolsonaro no encontro é a mesma recuperada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.

"O documento sugeria a convocação de novas eleições e autorizava o governo a determinar a prisão de adversários", diz o texto do UOL.

Mauro Cid, que era ajudante de ordens de Bolsonaro, disse não se lembrar quem eram o padre e o constitucionalista presentes.

No dia 30 de novembro de 2022, depois da vitória de Lula no segundo turno, uma audiência pública foi convocada no Congresso e bateu recorde de visualizações na história da TV Senado no You Tube.

Foi um comício golpista de dez horas de duração, conforme demonstram os dois primeiros capítulos da série da TV Fórum sobre o 8 de janeiro.

Na audiência, o jurista Ives Gandra Martins participou de maneira remota. Ele repetiu sua tese segundo a qual o artigo 142 da Constituição de 1988 dava direito às Forças Armadas de intervir se convocadas pelo presidente da República.

No dia 12 de dezembro de 2022, enquanto Lula era diplomado no Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília, apoiadores de Bolsonaro se deslocaram do acampamento diante do QG do Exército até o Palácio do Alvorada.

O padre Genésio fez campanha por Bolsonaro e atacou seu colega Marcelo Rossi quando este desmentiu um áudio de apoio ao candidato da extrerma-direita. Reprodução Facebook

Lá, enquanto o presidente da República ficava calado, o padre Genésio Lamounier Ramos, da diocese de Anápolis, fez um discurso inflamado, misturando orações com pedidos de apoio a Bolsonaro.

Não se sabe se o evento foi coreografado, mas o objetivo do encontro ficou claro: o bolsonarismo não aceitaria a posse de Lula.

O padre falou, inclusive, em "lotar Brasília" para defender a Independência do Brasil, depois de acusar Lula de ser um "bandido safado" e de pedir às Forças Armadas que não batessem continência a ele.

No dia seguinte, 13 de dezembro, o padre Genésio foi entrevistado ao lado de um colega, padre Cristiano, da diocese de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, dentro de uma barraca no acampamento do QG do Exército.

Ele disse que a Constituição estava sendo desrespeitada e era importante fazer pressão sobre o Exército por uma intervenção militar.

O padre disse ser fã de Olavo de Carvalho. "Se eu tiver que pedir benção para bandido no País, se eu tiver que prestar continência para ladrão, eu prefiro morrer", declarou.

Com a posse de Lula, o Brasil seria um país "comunista".

Curiosamente, quando o colega Cristiano encerrava uma fala também denunciando o comunismo, foi interrompido por Genésio, que pediu: "Chama o pessoal para vir para Brasília".

Ou seja, o padre de Anápolis deu claros sinais de que acreditava ser possível impedir Lula de governar através de agitação nas ruas e subsequente intervenção militar.

A seguir, a íntegra da fala do padre no evento de 12 de dezembro, ao lado de Bolsonaro:

Senhor! Nós agradecemos! Nós agradecemos o dom de Deus, que é o Presidente Bolsonaro.

Obrigado pela sua vida, a vida da família, a vida de militar, a vida de político.

Senhor, que o Bolsonaro nunca perca a sua essência, que é ser a cara de todo o Brasil.

Do Norte e do Sul, Leste e Oeste, dos recursos humanos, das nossas matas, de todos os povos.

Abençoai, Senhor, o nosso capitão. O Senhor já o presenteou com a vida, com o milagre da vida, depois daquela facada.

Obrigado, Senhor, pelo vereador Bolsonaro. Obrigado, Senhor, pelo deputado Bolsonaro, que discursava sozinho, como João Batista, pregando no deserto.

Obrigado, Senhor, o seu presidente Bolsonaro, que ergueu alto a nossa bandeira e disse claramente que o Cruzeiro do Sul diz que a nossa terra é a terra da Santa Cruz, é a terra da Senhora Aparecida.

Que o Bolsonaro nunca perca a sua essência, que no mais profundo, no coração do Presidente, ele saiba que não está sozinho.

Abençoai, Senhor, o presidente da nossa Nação. Abençoai, Senhor, esses dias de angústia, sobretudo o futuro da nossa Nação.

Nem poderíamos pedir mais, Senhor. Temos tanto para agradecer. A nossa economia cresceu mais em quase quatro anos do que o resto do mundo.

Obrigado, Senhor, pela geração de empregos. Milhões. Obrigado, Senhor, pela parceria com o agronegócio. Obrigado, Senhor, pela atenção e carinho dos nossos povos indígenas.

Obrigado, Senhor, porque o nosso Presidente não disfarça que é pobre, mas ama o pobre. Obrigado, Senhor, porque quando o mundo estava doente, Bolsonaro, depois de investigar a atualidade das vacinas, deixou que cada um vacinasse.

Logo em janeiro de 2021.

Obrigado, Senhor, pelos seus colaboradores, ministros, técnicos, a maioria deles eleita para o Senado, para a Câmara, sem falar o número imenso de aqueles que se elegeram para as câmaras de vereadores nos municípios, para as prefeituras e para os governos de Estado.

Obrigado, Senhor, porque o Bolsonaro outro dia me enviou a seguinte pergunta: eu merecia ficar nessa cadeira e sofrer tanto?

Mas depois Ele completou e disse, ninguém é melhor nessa grande Nação, nesse país continente, para orientar os rumos do nosso país.

Agora eu peço humildemente ao presidente Bolsonaro que estenda as suas mãos para me ajudar a abençoar a população.

Abençoai, Senhor, todo o povo brasileiro, que democraticamente quer dizer que não quer ser roubado, que quer ser respeitado.

Abençoai, Senhor, todo o povo brasileiro que por 14 anos sucessivamente foi roubado, foi estuprado por uma organização criminosa.

Isso digo eu, Padre Genésio. O discurso é inteiramente meu.

Senhor, somos uma Nação grande, somos uma Nação livre, somos uma Nação rica.

Nós não queremos ser escravos. Abençoai, Senhor, o presidente que muitas vezes disse Deus não mandou o Israel ficar em casa.

E Deus não disse você fique em casa enquanto eu desço ao campo para lutar. Mas Deus disse vai lutar. Eu estou com você.

Abençoai, Senhor, o nosso capitão. Abençoai cada soldado da Pátria. Cada um que é brasileiro, Senhor, é soldado e aprendeu nas escolas que o filho não foge à luta.

Aprendeu na escola que é Independência ou Morte. Abençoai, Senhor, a nossa Nação. Senhor, nós queremos o Bolsonaro. Nós confiamos no Bolsonaro.

Pai nosso, santificado seja o Vosso nome. Seja feita a Vossa vontade, assim na Terra como no Céu.

Presidente aqui, presidente, com toda a franqueza de um padre, eu represento o padre católico, o pastor, o evangélico, todos aqui.

Pelo amor que o Senhor tem em Deus, não decepcione essas crianças. É o Brasil presente. Ave Maria, cheia de graça, santificado seja o Vosso nome.

Mais importante é o que?

Lotar Brasília. Lutar com todas as forças do coração para que o nosso Brasil de fato seja livre, de fato seja independente.

Gritem comigo, Bolsonaro eu estou aqui, o Senhor me representa. Dar uma benção especial, abençoai Senhor as nossas Forças Armadas.

A maioria absoluta é a bandeira do Brasil. Abençoai nossos soldados, oficiais, praças, suas famílias.

Senhor, dá coragem a eles, inteligência para que nunca prestem continência para um bandido safado. Em nome do Pai. Amém.