POLÍTICA EXTERNA

G77: o que é cúpula de 134 países que tem Lula como protagonista

Criado para formar uma nova ordem mundial, encontro em Cuba deve ter aproximação do Brasil com o Sul Global e a China

Líder do Mercosul e presidente do G20, Lula será protagonista em mais um evento diplomático.Líder do Mercosul e presidente do G20, Lula será protagonista em mais um evento diplomáticoCréditos: Ricardo Stuckert
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A política externa do Brasil tem se demonstrado como prioridade nos primeiros meses do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em mais um esforço diplomático, Lula viajou a Cuba nesta sexta-feira (15) para participar da cúpula do G77 + China. O G77 deste ano terá como lema "Desafios atuais do desenvolvimento: Papel da Ciência, Tecnologia e Inovação".

O presidente se desloca para mais um encontro com representantes de governo e chefes de Estado, Na última segunda-feira (11), ele retornou da Índia, onde recebeu a presidência do G20, a cúpula de cooperação econômica com as maiores economias mundiais junto da União Europeia.

A cúpula do G77 + China será realizada em Havana, capital de Cuba, entre os dias 15 e 16 de setembro. Os presidentes Alberto Fernández (Argentina), Luis Arce (Bolívia), Gustavo Petro (Colômbia), Xiomara Castro (Honduras) e Lula têm presenças confirmadas.

Lula anunciou nas redes sociais sobre sua viagem ao país insular caribenho. "Indo para Cuba. E também para abrir a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, completando essa volta do Brasil ao cenário internacional. Reabrindo diálogos e abrindo oportunidades de investimento e comércio para nosso país", disse o presidente no X (antigo Twitter).

O que é o G77?

O Grupo dos 77 tem sua origem no período de Guerra Fria, em 1964, a partir de uma declaração conjunta na primeira Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês) assinada por 77 países em desenvolvimento.  

Desde sua fundação, o desafio estabelecido para o grupo é a inclusão das reivindicações das nações mais pobres – o Sul global – na agenda internacional. O grupo poderia ser considerado, hoje, o G134, devido ao número de países que compõem o bloco, sobretudo do Sul Global.

"Ninguém hoje em dia pode dizer que foi cumprida a tarefa inicial do G77 de criar no mundo um melhor sistema econômico", disse Rubens Ricupero, secretário-geral da Unctad na reunião do G77 em 2004, em São Paulo. Na ocasião, Ricupero afirmou que a prioridade do bloco era que "o desenvolvimento e o combate à pobreza ocupem um papel essencial nas negociações comerciais internacionais".

"Viemos com a expectativa de que esta cúpula ouça a voz dos povos do sul, sua luta por desenvolvimento econômico sustentável e justo, e por uma nova ordem econômica mundial."

Nicolás Maduro, em seu discurso na reunião do G77, em 2014

Hoje, o bloco representa 80% da população mundial e compõe um núcleo abrangente de 134 países em desenvolvimento e a China.

O que será tratado neste G77?

Em Havana, o tema da reunião será "Desafios atuais do desenvolvimento: Papel da Ciência, Tecnologia e Inovação". Assim como em outros encontros do grupo, é provável que sejam discutidas a possibilidade de comércio exterior sem o dólar e a cobrança por financiamentos das nações ricas para transição para uma economia verde nos países em desenvolvimento.

Em janeiro deste ano, no Fórum Econômico Mundial, sediado em Davos, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima Marina Silva cobrou o repasse de US$ 100 bilhões para adaptações de mudanças climáticas aos países "menos ricos" – prometido na COP-15, de 2009. 

Na última semana, catástrofes ambientais atingiram países em desenvolvimento com forte intensidade. No dia 8 de setembro, o Marrocos sofreu um abalo sísmico de magnitude 6,8 que deixou quase 3 mil mortos. Na Líbia, enchentes resultaram em 5 mil óbitos e mais de 10 mil desaparecimentos. Por fim, no Brasil, um ciclone destruiu dezenas de cidades no Rio Grande do Sul, com 47 mortes registradas desde a última semana.

No entanto, Lula deve focar em reivindicações aos países em desenvolvimento, como maior participação no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), a renegociação de dívidas com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a alocação de recursos para a combater o aquecimento global.

Por meio do assessor de Lula para assuntos internacionais, o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, o governo brasileiro deve auxiliar na integração de "Cuba à comunidade latino-americana e caribenha", de modo a contribuir no financiamento de projetos da ilha.

G77 - países membros

O Grupo dos 77 conta atualmente com 134 membros. Nessa reunião, a China - que não faz parte do grupo - também estará presente. Confira a lista:

  • América do Sul, Central e Caribe (32): Antígua e Barbuda, Argentina, Bahamas, Barbados,  Belize, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Dominica, Equador, El Salvador, Granada, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Jamaica, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Santa Lúcia, São Cristóvão e Névis, São Vicente e Granadinas, Suriname, Trinidad e Tobago, Uruguai e Venezuela 
  • Ásia (38): Afeganistão, Arábia Saudita, Azerbaijão, Bangladesh, Bahrein, Brunei, Butão, Camboja, Catar, China, Coreia do Norte, Emirados Árabes, Filipinas, Fiji, Iêmen, Índia, Indonésia, Irã, Iraque, Jordânia, Kuwait, Laos, Líbano, Malásia, Maldivas, Mianmar, Mongólia, Nepal, Omã, Palestina, Paquistão, Sri Lanka, Síria, Tadjiquistão, Tailândia, Timor Leste, Turcomenistão e Vietnã 
  • África (55): África do Sul, Angola, Argélia, Benin, Botsuana, Burkina Faso, Burundi, Cabo Verde, Camarões, Chade, Comores, Congo, Costa do Marfim, Djibouti, Egito, Eritreia, Eswatini, Etiópia, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Ilhas Maurício, Lesoto, Libéria, Líbia, Madagascar, Malaui, Mali, Mauritânia, Marrocos, Moçambique, Namíbia, Niger, Nigéria, Quênia, República Centro Africana, República Democrática do Congo, Ruanda, São Tomé e Príncipe, Senegal, Serra Leoa, Seychelles, Singapura, Somália, Sudão, Sudão do Sul, Tanzânia, Togo, Tunísia, Uganda, Zâmbia, Zimbábue
  • Oceania (9): Ilhas Marshall, Ilhas Salomão, Kiribati, Micronésia, Nauru, Papua Nova Guiné, Samoa, Tonga, Vanuatu

G77, G20 e G7 - diferenças

O G77, o G20 e o G7 são três grupos distintos de países que desempenham papéis diferentes na arena internacional, apesar de todos eles formarem blocos multilaterais.

O G77 (Grupo dos 77) tem como objetivo promover os interesses econômicos e sociais dos países em desenvolvimento nas negociações internacionais, particularmente em questões relacionadas ao desenvolvimento econômico, comércio e cooperação internacional.

O G20 (Grupo dos 20) é um grupo de 19 países e a União Europeia,  considerados as maiores economias do mundo. O G20 foi criado em 1999 como um fórum para a cooperação econômica internacional alternativa ao G7.

Ele reúne líderes de governo e ministros das finanças para discutir questões econômicas e financeiras globais, incluindo estabilidade financeira, comércio internacional e desenvolvimento sustentável de forma mais ampla com os países emergentes e as potências, criando um fórum com voz para nações em crescimento como China, Brasil, Rússia, Índia, México, Turquia, África do Sul, Indonésia e Arábia Saudita.

O G7 é composto por Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos. O clube é tratado como uma cúpula para atender os desejos das principais economias capitalistas do planeta, ainda em 1975. O G77 é, inclusive, uma resposta ao grupo.