Não é exagero dizer que não passa um dia sem que se tenha conhecimento de uma ameaça ao padre Júlio Lancellotti. O ódio que algumas pessoas dedicam a esse homem ficou evidenciado outro dia num bilhete, escrito por um homem de 72 anos, vizinho da paróquia do padre, que ameaçou: "Seu dia de reinado aqui vai acabar".
E, como o padre Júlio responde a isso? Não tem medo? Não se abate?
Em depoimento ao repórter Carlos Tramontina, padre Júlio responde a essas perguntas e diz de onde vem a força para sua luta diária: a opção por estar ao lado dos chamados perdedores da sociedade, os losers — moradores em situação de rua, presos, viciados.
Sabe também que não tem chances de vencer essa luta ("Eu não luto pra vencer. Sei que vou perder. Luto pra ser fiel até o fim"), que sua perspectiva é o fracasso, "porque se nesse sistema eu não fracassar é porque eu aderi a ele".
Não à toa o padre Júlio é chamado de padre comunista, porque, para o capitalismo, comunista é todo aquele que luta contra as injustiças do sistema e se põe ao lado dos mais desfavorecidos.
Sua declaração faz lembrar de um outro grande "fracassado", o escritor, político, antropólogo, pensador, criador dos CIEPs, professor Darcy Ribeiro, que escreveu:
Fracassei em tudo o que tentei na vida.
Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.
Tentei salvar os índios, não consegui.
Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.
Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei.
Mas os fracassos são minhas vitórias.
Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.
Assista ao depoimento do padre Júlio.
Que bonito isso pic.twitter.com/63p9oKIxpD — André Rizek (@andrizek) September 12, 2023