Quatro dias após a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) revelar o caso das pedras preciosas não registradas na lista de presentes recebidos por Jair Bolsonaro, o ex-presidente resolveu se pronunciar.
Através das redes sociais, neste sábado (5), Bolsonaro publicou o print de uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo sobre o assunto e disse que foi "caluniado" por Jandira Feghali.
"Há poucos dias fui caluniado por uma deputada do PCdoB, na CPMI, como tendo recebido diamantes para financiar atos antidemocráticos. Só no Brasil uma comunista, muito bem nutrida, que nunca passou fome na vida, fala em defender a democracia. Depois de muitos ataques pela grande mídia contra a minha pessoa, a verdade apareceu", escreveu o ex-mandatário.
A reportagem compartilhada por Bolsonaro contém uma entrevista com o advogado Josino Correia Junior, morador de Teófilo Otoni (MG), que afirma ter sido ele quem deu o envelope com as pedras para Bolsonaro. O apoiador do ex-presidente diz, contudo, que não se tratavam de pedras preciosas, mas sim semipreciosas.
"São pedras semipreciosas. Comprei na véspera da vinda dele à cidade. Custaram R$ 400", declarou.
Em resposta, a deputada Jandira Feghali afirmou que a declaração do advogado não diz nada, afinal, o e-mail obtido por ela através da CPMI dos Atos Golpistas mostra funcionários da ajudância de ordens da presidência tratando sobre a entrega de "pedras preciosas", que estariam em um envelope e uma caixa, a Mauro Cid, ex-braço-direito de Bolsonaro.
"O que ele diz que tinha na caixa ninguém viu. Alguém viu? Alguém abriu essa caixa para saber se ele está falando a verdade? Terceiro: é só essa caixa? Tem mais caixa? Ou seja, essa fala, para mim, não tem nenhum significado. É o e-mail de passagem de serviço dos ajudantes de ordem e um orientando o outro: não cadastre. Em 11 de novembro essa mensagem some. Ou seja, as pedras devem ter saído do cofre. Qual o destino? Não sei", pontuou a parlamentar.
Entenda o caso
O escândalo das pedras preciosas presenteadas à presidência da República que Jair Bolsonaro (PL) desviava para o seu acervo pessoal, agora ganha um fato novo: o e-mail em que a ajudância de ordens é orientada a entregar tais pacotes pedras preciosas ao tenente-coronel Mauro Cid, ao invés de registrá-las no acervo do Palácio do Planalto, foi revelado.
As mensagens constam em relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) entregue à CPMI dos Atos Golpistas. Cleiton Henrique Holzschuk é o membro da ajudância de ordens que envia a mensagem em questão aos colegas.
O ex-presidente Jair Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro receberam em 26 de outubro de 2022, respectivamente, um envelope e uma caixa contendo pedras preciosas. Mas os presentes não constam na lista de 46 páginas e 1055 itens recebidos durante o mandato.
Em 27 de outubro de 2022, no dia seguinte ao recebimento das pedras preciosas, a referida mensagem de Holzchuk apareceu em troca de e-mails com outros dois colegas: Adriano Alves Teperino e Osmar Crivelatti.
Holzchuk ordena que o envelope e a caixa de pedras preciosas, que seriam de Jair e Michelle Bolsonaro, não fossem cadastrados na lista de presentes recebidos pelo então presidente e entregues a Cid. Além disso, o sagento Marcos Vinícius Pereira Furriel deveria ser acionado em caso de alguma dúvida ou dificuldade.
“Foi guardado no cofre grande, 01 (um) envelope contendo predas preciosas para o PR (presidente) e 01 (uma) caixa de pedras preciosas para a PD (primeira-dama), recebidas em Teólifo Otoni em 26/10/22. A pedido do TC (tenente-coronel) Cid, as pedras não devem ser cadastradas e devem ser entregues em mão para ele (Cid). Demais duvidas, Sgt Furriel está ciente do assunto,” diz o e-mail de Holzchuk.
Os e-mails foram analisados pela CPMI dos Atos Golpistas que tenta chegar aos mandantes e financiadores do processo golpista que começou durante o mandato de Bolsonaro, escalou após o segundo turno das últimas eleições e resultou nos ataques de 8 de janeiro.
Nesse contexto, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) revelou o escândalo na última terça-feira (1), durante sessão da Comissão. Baseada nos mesmos dados da Abin, a parlamentar denunciou o que pode ser um novo escândalo de corrupção de Bolsonaro.
“Na minha interpretação, só tem duas possibilidades para essas joias secretas. Ou é uma corrupção pura e simples, em que ele pega a pedra e fica com o dinheiro para si, o que é um crime e como tal terá que ser indicado dessa forma pela CPMI. Porque um presente pessoal ao presidente da República só pode ir até 100 reais e não me parece que uma caixa de joias para a primeira-dama e um envelope de pedras preciosas para o Bolsonaro estejam dentro desse valor. Obviamente isso deveria ter sido registrado e protocolado. Então, ou ele roubou o patrimônio público para si, ou usou esse recurso para financiar os atos golpistas”, disse a deputada Jandira Feghali com exclusividade para a Revista Fórum.
Jandira agora pressiona a comissão para que o caso seja investigado. A parlamentar requereu nessa semana a presença dos ajudantes de ordem envolvidos nessa troca de e-mails, além do próprios Jair e Michelle Bolsonaro, na CPMI dos Atos Golpistas. Também pediu a quebra do sigilo bancário de todos os envolvidos.