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Juiz Appio afirma que rastreava uso de R$ 3,1 bi da Lava Jato quando TRF-4 o afastou

Magistrado, que ocupava a 13ª Vara Federal de Curitiba (PR), fez revelação durante depoimento ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ele foi substituído por Gabriela Hardt

Créditos: Justiça Federal/Divulgação
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O juiz federal Eduardo Appio, que era titular da 13ª Vara Federal de Curitiba (PR), afirmou num depoimento sigiloso ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que estava investigando o destino dado a R$ 3,1 bilhões oriundos de acordos de delação da extinta Operação Lava Jato quando foi afastado da função pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Ele foi substituído pela juíza Gabriela Hardt, que ficou no lugar de Sergio Moro quando o agora senador deixou a carreira no Judiciário, e que é amplamente reconhecida como uma aliada da autointitulada ‘República de Curitiba’. As informações são da colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo.

Os valores aos quais Appio se refere são montantes arrecadados por meio de depósitos realizados por empresas e por investigados que delataram outros envolvidos, e teriam sido depositados numa conta corrente aberta pela 13ª Vara Criminal de Curitiba no período em que Moro e Hardt estiveram à frente da Lava Jato.

Do valor total, R$ 2,2 bilhões teriam sido repassados para inúmeros setores e organizações do Estado, incluindo aí o poder Judiciário, por meio de depósitos menores, teria assinalado Appio. O uso desse montante colossal de dinheiro, segundo ele, seria ainda um mistério até hoje.

Appio contou no CNJ que tentou organizar esses valores por meio de planilhas e pedindo informações oficialmente a todos os destinatários do dinheiro, mas, de acordo com ele, vinha enfrentando dificuldades na hora de receber essas informações, mesmo mediante ordens judiciais. Outra informação estarrecedora passada pelo magistrado é a de que, em setembro do ano passado, restavam R$ 842 milhões na conta da 13ª Vara Federal de Curitiba, valor que caiu repentinamente para R$ 200 milhões em fevereiro deste ano. A redução brutal no montante teria feito Appio acionar técnicos da 13ª Vara Federal para que documentos sobre essas transferências fossem apresentados.

No depoimento de Appio ainda há a informação de que outras varas federais, de juízes conhecidos por suas posições políticas, alinhamento com a Lava Jato e antipetismo, teriam sido “contempladas” com dinheiro oriundo das arrecadações de empresas e delatores, como a 12ª Vara Federal de Curitiba, da juíza Carolina Lebbos, que executou a pena do presidente Lula enquanto ele esteve preso na Superintendência da PF no Paraná, e a 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro, sob comando do juiz Marcelo Bretas. A primeira teria recebido R$ 2 milhões, enquanto a segunda R$ 10 milhões.

O advogado de Appio, Pedro Serrano, não quis comentar as informações do depoimento, já que tudo corre sob sigilo de Justiça. O afastamento do juiz, em maio, ocorreu após um insólito episódio de uma suposta ligação falsa para o advogado João Eduardo Malucelli, atribuída a Appio, e que teria teor “ameaçador”, embora um laudo tenha mostrado que a voz da pessoa que fala ao telefone não é a do magistrado afastado.

Malucelli é filho do desembargador do TRF-4 Marcelo Malucelli, além de namorado da filha mais velha do ex-juiz e agora senador Sergio Moro (União Brasil-PR) e da deputada Rosangela Moro (União-PR), além de sócio num escritório de advocacia liderado pelo casal.