Jair Bolsonaro pode ter se autoincriminado no caso da fraude nos cartões de vacina por suas próprias declarações. Logo após a operação de busca e apreensão da Polícia Federal em sua casa, no dia 3 abril, o ex-presidente disse em entrevista que não teria motivos para falsificar seu comprovante de vacinação contra a Covid-19 pois não teria tomado as doses.
A PF, entretanto, reuniu inúmeras evidências que apontam para o fato de que o ex-mandatário, de fato, fraudou o cartão de vacina para conseguir entrar em países que exigiam o comprovante, como os Estados Unidos, seu destino de "fuga" após perder as eleições de 2022.
Além disso, usuários das redes sociais resgataram um vídeo de janeiro de 2021 em que Bolsonaro afirma estar com a "cartela de vacinação em dia" para viajar ao exterior. À época, inúmeros países exigiam o comprovante de vacina contra a Covid-19 dos viajantes.
"A revista Época publicou que eu decretei no meu cartão de vacina sigilo por 100 anos. Se eu decretei, tem um decreto. Se tem um decreto, está publicado no Diário Oficial da União. Não tem, não existe no Diário Oficial. Por que os caras fazem isso? Para tumultuar, 'tá vendo, ele é negacionista, ele não toma vacina'. Pessoal, eu estou com a minha cartela de vacina em dia, eu viajo o mundo todo, tem pais que exige certas vacinas e com razão. E vale para o presidente da República também. Mentira em cima de mentira", disse na ocasião, durante uma live nas redes sociais.
O vídeo em questão coloca a declaração de Bolsonaro sobre não ter tomado vacina contra a Covid-19 em contradição, o que reforça a tese da PF de que ele de fato fraudou o certificado vacinal.
Assista
Contradição
A busca e apreensão da PF na casa de Bolsonaro teve por objetivo reunir elementos para uma investigação que mira um esquema de inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde que teriam gerado comprovantes fraudulentos de imunização para burlar regras sanitárias de entrada em alguns países como os Estados Unidos. O ex-presidente sempre fez questão de afirmar que não tomaria a vacina e, em dezembro de 2022, viajou para o país da América do Norte dias após, segundo as apurações, falsificar seu cartão de vacinação.
Além do certificado de vacina de Bolsonaro, teriam sido fraudados os documentos equivalentes de sua filha Laura, menor de idade, além de militares e auxiliares próximos, entre eles seu ex-ajudante de ordens e amigo íntimo, o tenente-coronel Mauro Cesar Cid, que foi preso na mesma operação e é apontado como coordenador do esquema. Na casa do militar, policiais encontraram US $35 mil dólares e R $16 mil em espécie.
Bolsonaro não foi preso, mas teve seu celular apreendido e a avaliação geral no meio político e jurídico é a de que ele está muito próximo da cadeia.
Em entrevista logo após a operação, Bolsonaro disse que não tomou a vacina e que por isso não teria motivos para fraudar seu cartão de imunização. A justificativa do ex-presidente, entretanto, é justamente um dos indícios da PF de que ele cometeu fraude - isto é, como não estava imunizado e não queria tomar as doses, precisou falsificar o documento para, assim, se livrar de burocracias como, por exemplo, entrar em um país com restrições sanitárias.
Na semana em que viajou para os EUA, em dezembro de 2022, foram emitidos, pela contra de Bolsonaro no sistema do SUS, 2 cartões de vacina que são utilizados para viagens, de acordo com as investigações da PF.