Cassado e sem foro privilegiado, o ex-procurador e ex-deputado Deltan Dallagnol foi surpreendido nesta terça-feira (30) por uma intimação para que preste depoimento à Polícia Federal (PF).
O próprio Dallagnol que deu a notícia. Ele estava na Câmara dos Deputados para discutir uma possível reversão da cassação do seu mandato quando recebeu a intimação, que atende a uma determinação do delegado Roberto Santos Costa. O depoimento, segundo o documento, se dá no âmbito de "inquéritos nos tribunais superiores".
Não há na intimação, entretanto, esclarecimentos sobre o processo pelo qual Dallagnol deverá prestar depoimento, que está marcado para acontecer na próxima sexta-feira (2) através de vídeo chamada. O documento da PF, entretanto, faz a indicação de como Dallagnol deve proceder para obter esclarecimentos.
"Não fornecemos informações sobre o motivo da intimação ou sobre a investigação por telefone. Para obtê-las, o intimado deve comparecer pessoalmente à sede da Delegacia, munido de cédula de identidade", diz trecho da intimação.
Segundo a CNN Brasil, fontes da Polícia Federal informaram que Dallagnol prestará depoimento na condição de investigado em um inquérito aberto para apurar ataques que o ex-procurador fez ao TSE após a corte declarar sua perda de mandato. O agora ex-deputado chegou dizer que o relator de seu caso no tribunal, ministro Benedito Gonçalves, votou por sua cassação para conseguir uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).
Ataques ao TSE; relembre
Inconformado com a cassação, Dallagnol, no dia 23 de maio, deu uma entrevista incendiária ao jornal Folha de S.Paulo e fez uma acusação gravíssima e direta ao ministro Benedito Gonçalves, relator de seu processo e que fundamentou o voto que foi acatado por todos os demais integrantes da Corte.
“O ministro condutor do voto (Benedito Gonçalves) trouxesse um voto que objetiva entregar a minha cabeça em troca da perspectiva de fortalecer a sua candidatura para uma vaga no STF, num contexto que a gente precisa lembrar. Esse ministro deveria ter se declarado suspeito por ter sido alvo, segundo a imprensa noticiou, de uma delação no âmbito da Lava Jato e num contexto em que nós já vemos vários sinais de amizade e de proximidade entre esse ministro e o próprio presidente Lula”, disparou Dallagnol, após dizer que “uma decisão ocorrida em 66 segundos” seria uma decisão “combinada”.
“O fato de ter existido uma unanimidade nessa decisão tomada em 66 segundos mostra que ela foi combinada. Ainda mais que, em visitas a ministros, houve ministro que nos assegurou que a sua posição era de que eu estava elegível e de que não compactuaria com alguma decisão política que viesse em sentido contrário ao direito”, disse, sem, no entanto, revelar quem foi o ministro que o fez tal proposta de elegibilidade.
“Para além dos interesses desse ministro específico, nós precisamos entender que existem outros interesses de ministros pela indicação de pessoas para as vagas do STF; e a gente precisa entender que vários dos nomes mais poderosos da República são pessoas que foram investigadas na Lava Jato e que tiveram seus interesses atingidos pela Lava Jato”, acrescentou o ex-integrante do MPF.
Questionado sobre a tese atabalhoada de que “Lula pode tudo” e teria articulado sua cassação no TSE, Dallagnol foi confrontado sobre o fato de três dos integrantes do TSE que votaram contra ele terem sido indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seu aliado e inimigo mortal do petista que ocupa a Presidência. O ex-procurador, na tentativa de explicar o “fenômeno”, colocou até o nome do ex-deputado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha no meio da história.
“Quando eu entrei na Câmara, um colega meu de partido estava no elevador e entrou Eduardo Cunha. Eduardo Cunha olhou para essa pessoa e disse: nós vamos cassar o Deltan”, argumentou.