O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, reagiu às postagens realizadas pelo deputado federal cassado Deltan Dallagnol (Podemos-PR) e pelo senador Sergio Moro (União Brasil- PR), a conhecida dupla que encabeçou a Operação Lava Jato, após o integrante do Grupo Prerrogativas dizer na Comissão de Constituição e Justiça do Senado que os advogados envolvidos em processos ilegais e irregulares de delação premiada devem ser investigados pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
“Uma das lideranças do dito Prerrogativas, não satisfeita com a perseguição a parlamentares, juízes e procuradores, avisa, em audiência no Senado, que vai para cima dos advogados que ousaram orientar os seus clientes a fazer acordos de colaboração. A OAB vai permitir?”, escreveu Moro em seu perfil no Twitter.
Dallagnol, que compartilhou a postagem do “parceiro”, ainda acrescentou que “ladrões de bilhões têm caneta para roubar e poder para caçar – e cassar – quem se opuser”, que “no Brasil, o roubo praticado por eles não é crime” e que “proibido é ousar enfrentá-los”, completando com a afirmação de que “quem o fizer será punido”.
Para Kakay, que falou com exclusividade à reportagem da Fórum, a reação de Dallagnol e Moro é “compreensível”, já que eles estão “desestabilizados” por conta de todos os reveses ocorridos após o fim da Lava Jato e a descoberta de todas as ilegalidades cometidas no transcorrer da famosa operação. Ele diz que os dois são “indigentes intelectuais” e que sabem a forma como o instituto da delação foi usada na 13ª Vara Federal de Curitiba foi “um estupro” da lei, já que até os advogados escolhidos pelos réus tinham que passar pelo crivo de procuradores, antes das delações se concretizarem.
“Eu entendo que o Sergio Moro e o Deltan Dallagnol estejam realmente desestabilizados, tendo em vista a cassação do mandato do deputado e a possibilidade real da cassação do mandato do senador, até porque eles terão que responder a vários ilícitos que estão sendo investigados na Justiça comum, que aliás é uma Justiça que eles deveriam respeitar, afinal de contas eles fizeram parte muitos anos desse sistema de Justiça, embora eu entenda e tenha dito várias vezes que eles instrumentalizaram o Judiciário e o Ministério Público... Eu não tenho nenhuma preocupação com fato de estar fazendo uma chamada à Ordem (OAB) para que ela investigue os advogados que foram coniventes com linhas de acusação do MP. Ao contrário, isso mostra uma coerência, e eu não quero proteger advogado nenhum. Eu falo isso há cinco anos, ou seis anos: nós temos hoje uma linha de investigação, que é séria, que diz que existiu uma rede de proteção, e eu não sei se é verdade e por isso tem que se investigar, a algumas pessoas lá na ‘República de Curitiba’... Essa rede de proteção, pelo que se diz, envolvia não só procuradores, mas também advogados... E eram advogados que serviam de linha acusatória suplementar... Eu, mais de uma vez, tive que sair de casos porque os clientes me procuravam e diziam ‘olha, o seu nome foi vetado pelos procuradores’... Como pode ser isso possível num processo num regime democrático? E digo mais, já vinham com nomes que eram nomes de confiança dos procuradores e, segundo dizem, também do juiz... Então, assim, eu tenho o direito e a credibilidade para fazer esse debate. Eu já falo sobre isso há bastante tempo, muito tempo atrás eu chamei a OAB à responsabilidade... E é claro que o advogado pode fazer delação, até porque, dentro da ética, há advogados que acompanham delações, e a delação é também um instituto para defesa, só que lá, infelizmente, na ‘República de Curitiba’, eles estupraram esse instituto... Eu, se tiver que dizer algo ao senhor Sergio Moro e ao senhor Deltan Dallagnol, diria para eles acompanharem os passos e o desenvolvimento das investigações, os debates... Eles ficaram mal acostumados ao terem a grande mídia, a caneta e o apoio irrestrito independentemente do que fizessem. São uns indigentes intelectuais, e isso que eu falo aqui, falo também em público e já falei na Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal... Se tem advogado que agiu em conluio com juiz e procurador, tem que ser responsabilizado da mesma forma que o juiz e o procurador”, disse o jurista.
Kakay também explicou como vê a tese da dupla de Curitiba que aponta a decisão contra Dallagnol como uma “vitória da corrupção”, fazendo uma analogia entre quem tomou a decisão por cassá-lo (os sete ministros do TSE) e criminosos, o que classifica como uma “ousadia” dos antigos protagonistas da Lava Jato.
“Eu fico perplexo de ver um ex-deputado, ainda que tenha que passar tudo pela tramitação normal da Câmara, com todo direito de defesa, dizer que quem o cassou é corrupto. Ele está se insurgindo contra o Tribunal Superior Eleitoral e foram sete ministros, que unanimemente, que acolheram uma tese, um voto extremamente bem feito do ministro Benedito Gonçalves, três deles inclusive indicados pelo Bolsonaro, que eles mesmos ajudaram a eleger, e agora eles têm a ousadia de dizer que o ele (Dallagnol) foi cassado por quem está protegendo a corrupção? Então quer dizer que eles estão dizendo que esses ministros do TSE que cassaram estão protegendo a corrupção? É isso? Isso é de uma ousadia inacreditável... Eles que se preparem para enfrentar as investigações dos processos penais que certamente virão pela frente”, finalizou o advogado.