"Se me prenderem, eu viro herói. Se me matarem, viro mártir. E, se me deixarem solto, viro presidente de novo".
Luiz Inácio Lula da Silva
A frase premonitória acima foi repetida por Luiz Inácio Lula da Silva, 77, em diversas ocasiões durante o processo de lawfare liderado pelo então juiz da fraudulenta Operação Lava Jato, Sergio Moro, que o levou a 580 dias de prisão em Curitiba (PR), entre 7 de abril de 2018 a 8 de novembro de 2019.
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Nesta Sexta-feira da Paixão (7) completam cinco anos da prisão do hoje presidente do Brasil pelo terceiro mandato. Luiz Inácio Lula da Silva se entregou à Polícia Federal (PF) e foi preso na noite daquele sábado, após ficar dois dias na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP).
Lula saiu a pé da sede do sindicato às 18h42 e caminhou até um prédio próximo, onde equipes da PF o aguardavam. Ele entrou no carro da PF às 18h47. A saída teve de ser feita dessa maneira porque, às 17h, ele tentou sair de carro, mas foi impedido pela militância.
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O atual presidente da República estava no edifício no centro da cidade do ABC desde o dia 5 de abril, quando o juiz Sérgio Moro expediu mandado de prisão. O hoje senador havia determinado a prisão de Lula depois de ter sido condenado em duas instâncias da Justiça no caso do triplex em Guarujá (SP). A data da prisão de Lula foi adiada em 24 horas, de sexta-feira (6) para sábado (7).
A pena definida pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) foi de 12 anos e 1 mês de prisão, com início em regime fechado, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Cobertura histórica
Naquela semana que mudou a história da democracia brasileira, a Revista Fórum realizou uma cobertura histórica e acompanhou passo a passo os fatos que culminaram com a prisão de Lula. O editor Renato Rovai produziu textos nos quais compartilhou os bastidores daqueles dias tensos no ABC paulista. Em um deles, ele analisou a atuação do então juiz Sergio Moro.
"Moro foi coerente em todos os momentos do julgamento que levou Lula à prisão. O juiz de Curitiba sempre dificultou o trabalho dos advogados, autorizando até a instalação de grampos nos telefones do escritório, o que lhe permitiu saber cada passo que a defesa iria dar, segundo Valeska Zanin. Na expedição de mandado de prisão não foi diferente, a imprensa foi informada antes da defesa", escreveu Rovai.
Em outro texto, o jornalista da Fórum entrevistou o ex-prefeito de São Bernardo Luiz Marinho, que era apontado como uma das pessoas que mais buscou alternativas e consensos no período de resistência no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Naquela entrevista, Marinho revelou que o presidente Lula recebeu proposta de asilo político. “Nos foi oferecida uma embaixada, mas nós não aceitamos...”. Questionado sobre qual seria a embaixada ele respondeu: “Essas coisas não se falam...”. Ele não falou nem mesmo com a insistência para que revelasse em off (expediente jornalístico para veicular informações sem identificar a fonte). “Não falo em off”, disse.
“O povo brasileiro não tem vocação para enfrentamentos de rua. Por isso nossa aposta sempre foi no processo democrático. E não dava para ser diferente naquele momento”, observou Marinho. E acrescentou que Lula sempre dizia que não ia fazer como o Saddam Hussein, expor o seu povo a uma guerra para se defender. Não ia se suicidar como o Getúlio. E nem ia fugir como um covarde.
Ao longo dos 580 dias da prisão de Lula, a Fórum acompanhou todos os desdobramentos da prisão de Lula. Esteve no Acampamento Lula Livre, montado na frente à PF logo no dia 7 de abril de 2018 e marcado pelos gritos de "Bom dia, presidente Lula". Segundo o ex-mandatário disse à época, o movimento foi muito importante para lhe dar forças durante a prisão injusta.
No dia 8 de novembro de 2021 Lula foi solto. Em torno das 17h daquela sexta-feira ele deixou a sede da Superintendência da PF, em Curitiba, onde permaneceu preso por quase dois anos e foi se encontrar com a multidão, na Vigília Lula Livre.
Vaza Jato e Operação Spoofing
A Fórum também cobriu com atenção a Operação Spoofing, deflagrada pela PF no dia 23 de julho de 2019 para investigar as invasões às contas de Telegram de autoridades brasileiras e de pessoas relacionadas à operação Lava Jato.
Essa operação estava diretamente ligada à Vaza Jato, que revelou conversas vazadas no aplicativo Telegram sobre ações, decisões e posicionamentos de autoridades que conduzem investigações para a Operação Lava Jato.
Uma dessas mensagens, exposta por Rovai, foi a da procuradora da República Lívia Tinoco, enviada no dia da prisão de Lula em chat mantido com procuradores da Lava Jato e da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) e revelada no âmbito da Operação Spoofing.
“TRF, Moro, Lava Jato e Globo tem (sic) um sonho: Que Lula não seja candidato em 2018. Não querem Lula de volta porque pobre não pode ter direito. (…) e o outro sonho de consumo deles é ter uma fotografia dele preso para um orgasmo múltiplo, para ter tesão”, escreveu a procuradora da República Lívia Tinoco no dia da prisão de Lula em chat mantido com procuradores da “Lava Jato” e da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República), apreendido na Operação Spoofing”.
O que foi revelado nesta operação garantiu a anulação das condenações de Lula e o deixou livre para disputar, e ganhar, a eleição presidencial de 2022.