Michelle Bolsonaro tentou dar um ar "épico" para o retorno de Jair Bolsonaro ao Brasil publicando em seu Instagram, na noite desta quarta-feira (29), uma foto do marido na sala de embarque do Aeroporto Internacional de Orlando, na Flórida (EUA), com uma reprodução do Hino Nacional ao fundo.
A volta do ex-presidente, que passou os últimos 3 meses nos EUA, entretanto, está muito mais para melancólica do que para épica. Seu retorno se dá, principalmente, pela intimação da Polícia Federal para que ele deponha no próximo dia 5 de abril no âmbito do inquérito das joias milionárias da Arábia Saudita que tentou se apossar ilegalmente. Caso não comparecesse para depor, o ex-presidente corria o risco ter uma prisão cautelar decretada.
Quando fugiu do país, em 30 de dezembro de 2022, com o intuito de não participar da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de evitar a prisão, Bolsonaro foi para os EUA em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB). Desta vez, entretanto, na condição de ex-presidente, embarcou para o Brasil em um voo comercial e teve uma despedida tímida, com alguns poucos apoiadores o parando para tirar fotos no saguão do aeroporto.
Em uma rápida entrevista à CNN Brasil, o ex-mandatário deu um "banho de água fria" em seus apoiadores, que esperavam uma volta triunfal de um líder liderando a oposição ao governo Lula. Bolsonaro, entretanto, diz que não vai liderar oposição alguma.
“Não vou liderar nenhuma oposição. Vou participar com meu partido, como uma pessoa experiente, 28 anos de Câmara, quatro de presidente, dois de vereador e quinze de Exército, para colaborar com o que eles desejarem, como a gente pode se apresentar para manter o que tiver de ser mantido e mudar o que tiver de ser mudado", declarou.
Na mesma entrevista, ainda frustrou bolsonaristas que ainda acreditam que as eleições foram fraudadas e que algo será feito para reverter o resultado, como questionar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ou ainda reivindicar o "voto impresso e auditável". "As eleições do ano passado eu entendo que seja uma página virada. Tem eleições no ano que vem, o parlamento pode ser que proponha uma modernização nisso daí", disse.
Abordado por um repórter da Folha de S. Paulo ainda no aeroporto, Bolsonaro se recusou a comentar a intimação da PF para que ele preste depoimento.
Chilique pré-embarque
Antes de embarcar, Bolsonaro teve um chilique ao ficar sabendo das medidas de segurança impostas pela Polícia Federal para sua chegada no Brasil. Ele esperava ser recebido por uma multidão de apoiadores e desfilar em carro aberto, o que não deve acontecer.
A principal medida que teria ocasionado a fúria do ex-presidente foi a determinação de que ele terá que deixar o aeroporto pela porta dos fundos.
Ao ser comunicado sobre a impossibilidade de transformar a chegada em ato político com os apoiadores, Bolsonaro teria reagido com uma "cascata de palavrões".
Bolsonaro ainda teria culpado o governo Lula e o ministro da Justiça, Flávio Dino, que nesta quarta-feira (28) desorientou seus aliados em audiência na Comissão de Consituição e Justiça (CCJ) da Câmara.
A maioria das medidas, no entanto, foram sugeridas pelo (ex?) aliado Ibaneis Rocha (MDB), governador do Distrito Federal, que decidiu fechar com barreiras a Praça dos Três Poderes e as imediações do aeroporto para evitar aglomerações - frustrando a expectativa de Bolsonaro de ser recebido com carreata.
Intimado pela PF
Jair Bolsonaro, que está nos Estados Unidos desde 31 de dezembro de 2022 e que deve desembarcar em Brasília nesta quinta-feira (30), já tem um "compromisso" dias após sua chegada. Nesta quarta-feira (29), a Polícia Federal intimou o ex-presidente a prestar depoimento na sede da corporação na capital federal no próximo dia 5 de abril.
Além do ex-mandatário, foi intimado a depor seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid. As oitivas se darão no âmbito do inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre as joias e outros artigos de luxo vindos da Arábia Saudita e Emirados Árabes que Bolsonaro tentou se apropriar de maneira ilegal.