A deputada federal bolsonarista Júlia Zanatta (PL-SC), alvo de ações no Supremo Tribunal Federal (STF) após fazer postagem em que incentiva a violência contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, participou de um debate ao vivo com o deputado Ivan Valente (PSOL-SP) nesta segunda-feira (20) e tentou justificar sua atitude.
Na última sexta-feira (17), a parlamentar publicou uma foto em que aparece segurando uma metralhadora e vestindo uma camiseta com a imagem de uma mão com quatro dedos, em referência a Lula, perfurada por três tiros.
“Não podemos baixar a guarda. Infelizmente a situação não é fácil. Com Lula no poder, deixamos um sonho de liberdade para passar para uma defesa única e exclusiva dos empregos, do pessoal que investiu no setor de armas. Estamos agora falando em socorrer empregos”, escreveu ela junto à foto.
Ao ser confrontada por Ivan Valente em debate ao vivo na CNN Brasil nesta segunda-feira, a bolsonarista disse que "jamais" incitou o ódio e violência, "ainda mais contra um presidente da República". A imagem estampada na camiseta que vestia enquanto exibia uma arma, no entanto, é uma clara referência ao chefe do Executivo.
Júlia Zanatta disse, ainda, que após a publicação passou a ser alvo de ataques "incitados" por parte da esquerda e chegou até mesmo a evocar o Mês das Mulheres para se defender.
"Eles acham que eu incitei a violência? Será que eles estão preocupados com a violência que incitaram de volta, contra mim, minha família? Eu, uma parlamentar mulher, no Mês da Mulher... Quando uma mulher resolve se posicionar e pensar fora da caixinha ideológica, ela é atacada", declarou.
Ivan Valente, então, explicou para a parlamentar o que realmente é uma perseguição, relembrando da prisão e tortura as quais foi submetido na ditadura militar: "Eu fui perseguido político por 10 anos, torturado, preso pela ditadura militar, que defendida pelo Jair Bolsonaro. Eu não defendo que ninguém seja perseguido, eu defendo liberdade de expressão, de manifestação, sempre defendi e defenderei".
O deputado do PSOL, porém, alertou para o fato de que há limites com relação à liberdade de expressão. "A liberdade de expressão e manifestação tem limites constitucionais, inclusive na imunidade parlamentar. Então, se você faz apologia a um crime ou ato criminoso, ele precisa ser investigado, sim. E o que está na camiseta da deputada, com uma metralhadora na mão, só isso, na minha opinião, é algo incitador", disse, destacando que a bolsonarista, na foto em questão, usava uma camiseta com uma mão de 4 dedos perfurada por tiros.
Na sequência, Júlia Zanatta deu uma justificativa bizarra para ter aparecido com a camiseta: "Eu estava dentro de um clube de tiro. Ganhei uma camiseta, coloquei, não quis passar mensagem nenhuma".
Assista
Ações no STF
Ivan Valente, através das redes sociais, anunciou que protocolou notícia-crime no STF contra Júlia Zanatta. "Fascismo precisa ser contido. Basta de violência", escreveu Valente.
O deputado federal Alencar Santana Braga (PT-SP) e o líder da bancada petista na Câmara, Zeca Dirceu (PR), também acionaram o STF contra a deputada. Na representação, os parlamentares apontam que a publicação da bolsonarista configura "uma conduta que para além da prática criminosa de per si, reafirma, infelizmente, uma visão de mundo permeada pelo ódio e desinteligência democrática, que tragicamente tentou se implementar na sociedade brasileira no período de 2019/2022 e cujas raízes tóxicas ainda não foram totalmente extirpadas".
"A Representada, com as ameaças perpetradas, busca a todo custo manter viva uma cultura armamentista já repudiada pela sociedade brasileira, estimula, sob um falso discurso de liberdade, a divisão maniqueísta da sociedade, fomentando, com o uso de armas de fogo, o ódio e a intimidação como instrumentos disputas democráticas", escrevem os parlamentares.
Além de pedirem para que o STF investigue a conduta de Júlia Zanatta, que segundo eles pode ser enquadrada nos crimes de ameaça, incitação e apologia ao crime, passíveis de pena de prisão, os deputados do PT solicitam, ainda, que a Corte adote "medidas legais pertinentes para se verificar as licenças que permitem à Representada a posse, porte ou utilização de armas de fogo, verificação da 9 regularidade das armas que detém e regularidade do clube de tiro que frequenta".