ATOS TERRORISTAS

EXCLUSIVO: “Versão do coronel à CPI só prova que GSI operou ataques”, diz fonte da PF

Servidor da PF, lotado então no Planalto e que é peça-chave nas investigações do terrorismo bolsonarista, falou outra vez à Fórum e retomou acusações após depoimento de oficial da PM

Jair Bolsonaro e Augusto Heleno.Créditos: Presidência da República/Reprodução
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O depoimento do ex-comandante de operações da Polícia Militar do Distrito Federal, coronel Jorge Eduardo Naime, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa do DF, nesta quinta-feira (16), que apura os atos terroristas levados a cabo por bolsonaristas entre o fim de 2022 e o começo de 2023 em Brasília, trouxe uma informação que comprovaria o envolvimento e o protagonismo do GSI (Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República) do governo de Jair Bolsonaro (PL), então comandado pelo general Augusto Heleno, nas ações criminosas e tresloucadas ocorridas na capital da República.

É o que diz o servidor da Polícia Federal àquela altura lotado no Palácio do Planalto e que revelou com exclusividade à Fórum, numa série de reportagens, toda a trama do órgão de Inteligência nas tentativas de golpe de Estado desencadeadas desde a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no pleito nacional de outubro do ano passado. Com a identidade protegida e recentemente “descoberto” como fonte por parte da imprensa, pelo fato de ter se tornado peça-chave nas investigações em diversos âmbitos, a fonte palaciana falou novamente à Fórum com exclusividade e explicou por que as palavras do coronel Naime praticamente põem fim em qualquer dúvida sobre a autoria operacional do GSI na rocambolesca empreitada golpista.

O militar distrital afirmou aos deputados, nesta tarde (16), que os autores dos ataques de 12 de dezembro de 2022, os primeiros dos terroristas bolsonaristas, no qual a sede da Polícia Federal quase foi invadida, sob o pretexto de que uma liderança indígena havia sido detida injustamente, eram “profissionais”, gente que conhecia “técnicas de guerrilha e antiguerrilha”, e que “ficou impressionado com a destreza dos combatentes contra a polícia”.

“O que parece claro é que, no fundo, ele (coronel Naime) não quer dar nome ao que aconteceu, porque se ele relata que havia profissionais ali... Quais são os únicos profissionais desse tipo de coisa, gente que sabe fazer aquilo? É gente que analisa isso, que estuda e que sabe fazer por razões de defesa, que são agentes militares da inteligência e da contrainteligência... E esse pessoal do GSI ativou o modo ‘destruição’, digamos assim... Tudo isso para que ocorresse pânico generalizado, para que as informações fossem desencontradas, para que o governo federal ‘colocasse no ar’ só a narrativa deles... Só que isso foi desfeito, foi desfeito mesmo... E um sinal claro disso foi que em seguida veio aquela nota do antigo chefe do GSI, o general Augusto Heleno, e o ataque direto que ele fez à Revista Fórum e a você (jornalista Henrique Rodrigues), que trouxeram essa informação quando ninguém sequer citava o GSI nessa história”, disse o servidor da PF.

A fonte então lotada no Palácio do Planalto também falou sobre as declarações de Naime em relação ao fato da PMDF não ter feito prisões naquela noite, o que gerou fortíssimas críticas à corporação e ao governo do Distrito Federal. Enquanto o mundo assistia atônito à capital brasileira em chamas, com criminosos tentando arremessar ônibus de viaduto e invadir hotéis com autoridades eleitas, as tropas comandadas por ele não levaram sequer um bolsonarista para a delegacia.

“O coronel Naime, que era o chefe de operações da PM do DF naquele período, ele tenta atribuir no depoimento à CPI, e isso é até uma maneira de apresentar a versão dele, de apresentar a defesa dele... Ele tenta vincular o ‘sumiço’ dos terroristas a um suposto fato de que a PM, a tropa de choque, teriam agido... Pra logo à frente dizer que a PM não prendeu ninguém porque não poderia efetuar essas prisões naquelas circunstâncias, o que não tem lógica e não faz sentido algum, até porque na própria invasão do Planalto, já em janeiro, quem fez a prisão dos terroristas foi a tropa de choque da PM, e isso tá muito claro... Não há qualquer incompatibilidade ou impedimento para que esses policiais detivessem os terroristas... Há várias formas de se exercer o CDC, que é Controle de Distúrbios Civis, e aquele pessoal do choque que estava ali, estava preparado para fazer esse tipo de prisão... Sem contar que a tropa de choque não atua sozinha, ela pode ser o primeiro contato, mas tinham os policiais dos batalhões convencionais, do patrulhamento ordinário, e ninguém fez absolutamente nada na noite do dia 12... Eles simplesmente não efetuaram as prisões em flagrante... Essa parte do depoimento não bate com nada em termos de realidade, e se esses caras sumiram depois dos atos terroristas foi porque eles da PM não fizeram nada, e também, claro, como já disse, porque tinha gente ali do GSI... E não é ‘infiltrado’, é gente operando, e havia bastante tempo que eles operavam, àquela altura, no acampamento lá de frente ao QG do Exército... Esses caras do GSI desceram lá do acampamento direto para porta da PF, com aquela justificativa ridícula da prisão da tal liderança indígena”, acrescentou o funcionário público da área de segurança.

Para o servidor da PF ouvido pela Fórum, esses atores importantes vinculados ao grave episódio histórico da tentativa de golpe de Estado devem trazer informações importantes agora, falando aos deputados distritais da CPI, sobretudo por conta do regresso do governador Ibaneis Rocha (MDB), que foi reconduzido ao cargo após um afastamento de 66 dias determinado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

“Agora, com essa CPI aqui no DF, na Câmara Legislativa, está se dando voz aos principais atores, né, como os comandantes da Polícia Militar e até mesmo Anderson Torres, a Marília Alencar, que era subsecretária de Inteligência do DF, que é notoriamente bolsonarista e que lá, quando foi perguntada, disse que não... Enfim, esses atores sabem muito e quando a coisa aperta eles começam a soltar, até porque ninguém vai querer ficar com o rabo preso numa situação dessa gravidade aí, ainda mais agora que o Ibaneis voltou pro governo... Inclusive eu não sei porque a tal grande mídia praticamente não está cobrindo a CPI, e vem saindo muita coisa lá”, concluiu a fonte.