AUTONOMIA?

Presidente do Banco Central autônomo esteve em churrasco com bolsonaristas durante a pandemia

Pivô de polêmicas com o presidente Lula, Roberto Campos Neto é conhecido publicamente como apoiador de Jair Bolsonaro e votou nas últimas eleições trajando uma camiseta seleção conforme recomendação do ex-presidente

Tarcísio de Freitas, Fábio Faria, Roberto Campos Neto e Ciro Nogueira em agosto de 2021.Presidente do Banco Central autônomo esteve em churrasco com bolsonaristas durante a pandemiaCréditos: Reprodução/Instagram
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O presidente bolsonarista do Banco Central, Roberto Campos Neto, que nos últimos dias tem protagonizado uma briga pública com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve nesta quinta-feira (9) uma foto divulgada nas redes sociais em que aparece confraternizando com ministros de Bolsonaro em 2021. As rusgas com Lula se deram por conta das altíssimas taxas de juros estabelecidas para o país, as maiores do mundo, que levaram o petista a fazer duras críticas ao caráter autônomo do BC e ao próprio chefe da instituição, que tem sua demissão ventilada nos setores progressistas da política brasileira.

Em discurso no Milken South Florida Dialogues, em Miami, Campos Neto defendeu a autonomia do Banco Central dizendo que "quanto mais independente você é, mais eficaz você é, menos o país pagará em termos de custo de ineficiência da política monetária”. E a briga foi para a imprensa, com uma série de artigos na imprensa tradicional criticando a postura do presidente.

Para Lula e os setores progressistas de forma geral, Campos Neto é visto como uma espécie de infiltrado bolsonarista em um Banco Central supostamente autônomo, com a missão de sabotar as políticas econômicas do novo governo que buscam incluir questões de urgência social. E as informações divulgadas nesta data podem reforçar a visão.

Na foto supracitada, Campos Neto aparece fazendo um belo churrasco de costela junto com três ministros bolsonaristas, em 7 de agosto de 2021. Com ele está Tarcísio de Freitas, então ministro da Infraestrutura e atual governador de São Paulo, além de Fábio Faria, então ministro das Comunicações. O autor da publicação, que também marca presença na foto, é o senador Ciro Nogueira, que na data da confraternização havia assumido a Casa Civil fazia poucos dias.

Além disso, conforme mostramos no DataFórum, Campos Neto também deu pistas do seu apoio ao ex-presidente quando, nas últimas eleições, foi votar trajando a camiseta amarela da seleção brasileira. Na época da eleição, o próprio Bolsonaro havia recomendado o figurino aos seus eleitores.

Mas não é apenas pelo bolsonarismo que a esquerda quer Campos Neto fora do Banco Central. Entre as principais críticas da sua gestão, que vão além das maiores taxas de juros do mundo, estariam uma suposta fraude de R$ 65 bilhões para beneficiar Jair Bolsonaro (PL), a não previsão da crise das Lojas Americanas que pode se espalhar para outros setores e o fato de que não teria batido a meta de inflação.

“Lula está certo”

Em entrevista ao Fórum Onze e Meia desta quinta-feira (9), o economista Marcio Pochmann declarou que o presidente Lula está certo em combater a atual política de juros do Banco Central (BC). Pochmann explicou que, caso a atual política seja mantida, economicamente o Brasil pode vivenciar um 2023 pior do que 2022 e isso seria desastroso para o novo governo federal e para a sociedade brasileira. Sobre a atual composição do BC, o economista e professor da Universidade de Campinas (Unicamp) afirma que a instituição virou um bunker do rentismo.

"O Banco Central hoje é uma espécie de bunker desses negócios financeiros (rentismo). É uma face muito difícil que o presidente Lula está enfrentando. O golpe de 2016 não apenas transformou o Banco Central independente, mas também foi asfixiando o Estado brasileiro através da Lei do Teto de Gastos. Ou seja, isso faz parte de um todo. A direção do Banco Central é parte dessa estratégia de asfixia do Estado: política monetária restritiva que temos hoje, de maior taxa de juros e ao mesmo tempo o problema da gestão fiscal, junto com as reformas que foram feitas que rebaixaram demasiadamente o custo trabalho, expondo ainda mais a exploração da força de trabalho brasileira", diz Pochmann.

Para o economista, o presidente Lula entendeu que há um risco da economia em 2023 ser pior do que a de 2022 e que tal contexto precisa ser contornado, mas para isso é necessário alterar a taxa de juros.

Assista a entrevista na íntegra