O ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro, Anderson Torres, tem um encontro marcado no dia 9 de março com a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos instalada na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Ele vai prestar depoimento sobre os eventos do dia 8 de janeiro deste ano, quando uma turba de bolsonaristas invadiu e depredou as sedes dos Três Poderes, na capital federal.
À Revista Fórum, o presidente da comissão, deputado distrital Chico Vigilante (PT), garante que a CPI não vai acabar em pizza.
"Não somos pizzaiolos e esta CPI não dará em pizza. Vamos fundo e faremos de tudo para que nunca mais se repita este tipo de coisa no Brasil. A democracia é uma planta tenra, frágil. E só estamos aqui porque existe democracia no Brasil.”
Presidente da CPI dos Atos Antidemocráticos, Chico Vigilante (PT)
O parlamentar petista espera que os integrantes da comissão estejam dispostos a ir a fundo nas apurações. Ele recorda que a movimentação da direita no sentido de atrapalhar a democracia no país começou antes do dia 8 de janeiro.
Ele recorda que Brasília foi coberta de outdoors nas cores verde amarelo depois das eleições de 2022. Quando foram convocados pela Justiça, os financiadores dessas peças simularam que o motivo era a Copa do Mundo. "Também vamos chamar os responsáveis por aqueles outdoors", antecipou o parlamentar.
“Fico aqui pensando nos que citam aqueles ‘coitadinhos’, o que teriam feito caso tivessem sido os trabalhadores rurais sem-terra que tivessem montado um acampamento em frente ao quartel do Exército, em Brasília. Eles não teriam ficado no local nem uma hora", comentou Vigilante.
Conivência e omissão
Torres era o secretário de Segurança Pública do DF no dia dos atos antidemocráticos. Naquele mesmo domingo, por telefone, ele foi exonerado do cargo pelo governador do DF - hoje afastado - Ibaneis Rocha (MDB).
A demissão ocorreu quando Torres estava de férias nos Estados Unidos. Ele foi preso no dia 14 de janeiro assim que desembarcou no Brasil. A prisão preventiva dele foi um pedido da Polícia Federal, decisão referendada pela maioria do Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou a conduta do então secretário conivente e omissa em relação aos atos golpistas.
O depoimento de Torres é considerado um dos mais importantes para a elucidação de diversos pontos sob investigação pela CPI, que foi instalada no dia 14 de fevereiro.
Cronograma de depoimentos
O cronograma divulgado pela comissão prevê, além do de Torres, sete outros depoimentos ao longo de março. O primeiro será nesta quinta-feira (2), quando será ouvido o ex-secretário executivo e secretário adjunto da Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF) Fernando de Souza Oliveira. No mesmo dia, também prestará depoimento a ex-subsecretária de inteligência da pasta, Marília Ferreira Alencar.
No dia 16, serão ouvidos os coronéis Jorge Eduardo Naime e Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues. No dia 23, o ex-secretário de Segurança Pública do DF que ocupou o cargo até o início de dezembro do ano passado, Júlio de Souza Danilo e o tenente-coronel da Polícia Militar do DF Jorge Henrique da Silva Pinto.
O encerramento das tomadas de depoimento de março será feito no dia 30, com a oitiva do ex-comandante da Polícia Militar do DF coronel Fábio Augusto Vieira. Após essa etapa, os parlamentares vão definir as datas dos próximos convidados e convocados para a comissão.
Quebra de sigilo e pedido de informações
A CPI também deu início ao pedido de compartilhamento de informações por outros órgãos. Integram as solicitações dados sobre as investigações pela Polícia Civil do DF sobre os atos antidemocráticos de 12 de dezembro e de 8 de janeiro e a relação de todos os policiais militares designados para o acompanhamento dos manifestantes em 8 de janeiro.
Alem disso, foi pedido da quebra dos sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático de Anderson Torres.
Os integrantes da comissão solicitaram, ainda, à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal, arquivos e imagens internas e externas referentes aos atos do dia 8 de janeiro, e à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) a disponibilização dos alertas feitos à secretaria de Segurança Pública do DF sobre os riscos da manifestação no dia 8 de janeiro.
À corregedoria da PMDF, a CLDF pediu o compartilhamento de todas as informações sobre as investigações internas, além da ordem de serviço detalhada com a organização, a convocação e a distribuição de policiais militares que trabalharam nos dias dos fatos sob apuração.