Um telegrama emitido pela Embaixada do Brasil na França com destino ao Palácio do Planalto durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), tratando do caso Marielle Franco, vereadora carioca assassinada por milicianos em março de 2018, foi revelado pela CNN Brasil nesta sexta-feira (17) e gerou indignação pelo tom grotesco utilizado pelo embaixador Luís Fernando Serra. A emissora teve acesso ao documento usando como base a Lei de Acesso à Informação (LAI).
Em janeiro de 2020, um deputada francesa do Partido Socialista, Christine Pirès Beaune, questionou a representação diplomática brasileira em Paris sobre o andamento das investigações do caso que acabou com o assassinato de Marielle e de seu motorista, Anderson Gomes. Àquela altura, dois PMs, Ronnie Lessa e Élcio Vieira de Queiroz, já tinham sido presos como executores do duplo homicídio, embora até hoje os mandantes do crime nunca tenham sido descobertos.
Indignado com as perguntas da parlamentar francesa e reproduzindo um bizarro discurso bolsonarista, o embaixador Serra informou ao Planalto que “protestou” na resposta dada à política europeia, inclusive “argumentando” que a França “nunca se preocupou com o caso Celso Daniel ou com a facada dada em Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018”.
“Fiz constar nas missivas minha profunda indignação com tratamentos tão díspares em relação a crimes sobre os quais as investigações tinham chegado a conclusões similares (...) Deixei registrado que estes dois crimes (casos Celso Daniel e da facada em Bolsonaro), tão graves quanto aqueles com os quais as parlamentares muito se preocupam, não tinham delas recebido qualquer manifestação”, escreveu o diplomata no telegrama enviado ao Palácio do Planalto.
Governo Lula já pleiteava derrubar sigilos dos telegramas do caso Marielle
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já trabalhava desde o início do mandato para levantar os sigilos de 100 anos impostos por Jair Bolsonaro a inúmeras informações de interesse público. O próprio ex-presidente, em um sinal de desespero, já teria informado a aliados que vai acionar a Justiça caso o novo mandatário revele seus segredos.
Na primeira semana do ano, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), que participou da equipe de transição de Lula, informou que a atual administração federal descobriu um novo sigilo que, quando derrubado, poderia ajudar a elucidar o caso de Marielle Franco, vereadora que, ao lado de seu motorista Anderson Gomes, foi brutalmente assassinada em março de 2018.
Boulos se referia a sigilos impostos por Bolsonaro a telegramas do Itamaraty com informações sobre o caso. "Vai cair o sigilo de 100 anos! O governo Lula descobriu que Bolsonaro decretou sigilo sobre os telegramas do Itamaraty relacionados ao assassinato de Marielle Franco. O que será que o miliciano quer esconder?", escreveu o parlamentar.
O sigilo foi colocado por Bolsonaro em abril de 2020, quando a bancada do PSOL na Câmara dos Deputados solicitou formalmente ao Ministério das Relações Exteriores esclarecimentos sobre orientações do Itamaraty a seus postos no exterior sobre o que deveria ser dito em relação ao assassinato de Marielle. Essas informações estariam em documentos e telegramas que, após o pedido, foram colocadas sob sigilo de 100 anos.