Ainda que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tenha perdido o sono nos últimos meses com a possibilidade de ser preso, alguns dos seus aliados no Congresso Nacional aparentemente veem alguma vantagem no revés. A avaliação é de que se for preso, Bolsonaro e o bolsonarismo poderiam retomar protagonismo no debate político.
Segundo a informação divulgada nesta quinta-feira (16) pela coluna de Daniel Cesar, no Último Segundo – Ig, o chamado núcleo duro do bolsonarismo faz uma leitura de que de estão perdendo força após as reações dos poderes à patética tentativa de golpe de estado do último dia 8 de janeiro e, em especial, pela ausência do líder. Bolsonaro está nos EUA desde 31 de dezembro, tendo deixado o Brasil no dia anterior. Ele anunciou um retorno ao país para o próximo mês.
De acordo com conversas do grupo em aplicativos de mensagens obtidas pela coluna, o foco do bolsonarismo parece começar a sair da figura do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. “Apenas criticar o STF e incitar os seguidores não trará resultados, porque as pessoas estão desmobilizadas”, teria dito um deputado federal. Na sua opinião, “é preciso mais” para conseguir mobilizar grandes contingentes de apoiadores do ex-presidente e sua prisão catalisaria o processo.
“A cena de um líder popular como o Bolsonaro sendo preso iria correr o mundo e revoltaria parte da sociedade”, teria concordado um senador. O cálculo político está baseado sobretudo na trajetória do principal adversário de Bolsonaro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Quando preso na Polícia Federal de Curitiba, Lula mobilizou uma multidão de apoiadores que permaneceram no local durante todo o tempo em que esteve preso. A mobilização ficou conhecida como “Acampamento Lula Livre” e o fim da história todos conhecemos: Lula foi eleito e reconduzido ao Palácio do Planalto.
Os parlamentares bolsonaristas apostam que no caso de uma prisão, além da mobilização permanente de apoiadores com o choque as cenas podem trazer, poderiam conquistar uma presença maior não apenas no engajamento nas redes mas sobretudo no jornalismo profissional. Para um dos deputados que estava no grupo, esta seria a “única chance”. No entanto, ainda falta combinar com o próprio Bolsonaro.
O ex-presidente não faz o tipo mártir. Ele já teria avisado que não está disposto a se sacrificar nesse sentido e toparia até mesmo largar a política para não perder a liberdade.
Trégua com o “Xandão”
Para além da avaliação de que uma guerra permanente com o ministro Alexandre de Mores não trará os resultados políticos esperados, há também um grande temor por parte dos bolsonaristas de mais perseguições judiciais, como definem os processos que levaram Roberto Jefferson e Daniel Silveira à cadeia. Em especial em um momento no qual o governo Lula vai se consolidando e a “intentona bolsonarista”, além de virar pó, vai sendo respondida pelos poderes da República em sentido que traz em paralelo uma desmobilização da militância de extrema direita.
De acordo com a coluna da Malu Gaspar, em O Globo, os parlamentares bolsonaristas ainda temem que o governo Lula lance alguma espécie de “pacote de maldades” contra eles, que poderia envolver a revogação indesejada de sigilos. A coluna ainda relata um ressentimento dos aliados com a estadia do ex-presidente nos EUA – parlamentares do PL estariam sentindo-se “abandonados” por Bolsonaro.
Agora, mesmo tende recebido 11 pedidos de impeachment por parte de aliados de Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes parece ter se blindado dos bolsonaristas por uma razão circunstancial. A avaliação é de que sua saída possa abrir caminho para um “controle total” petista sobre a Suprema Corte. Após as aposentadorias de Ricardo Lewandowski e Rosa Weber, que completam 75 anos ainda neste ano, Lula poderá indicar dois novos ministros ao STF. Se o “Xandão” sair por impeachment, abre uma terceira vaga para indicação do atual presidente.
“Qualquer ministro do STF que cair agora vai ser ruim, porque trocaria alguém que a gente já conhece por um nome escolhido de forma maquiavélica por Lula”, resumiu a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Zambelli é alvo de investigações no inquérito das milícias digitais e investigada por outro ministro do STF, Gilmar Mendes, por conta do episódio em que perseguiu, armada, um eleitor petista pelas ruas de São Paulo na véspera do segundo turno das eleições.
*Com informações de Último Segundo – Ig e o O Globo