CERCO SE FECHANDO

Os processos e investigações que tiram o sono de aliados de Bolsonaro

Preocupados com a sobrevivência política do líder de extrema direita, aliados mapearam processos que oferecem maior risco ao ex-presidente

Jair Bolsonaro (PL), ex-presidente.Os processos e investigações que tiram o sono de aliados de BolsonaroCréditos: Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil
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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) responde a cerca de 100 processos em diversas instâncias e tribunais pelo país mas apenas 4 deles, entre processos já em andamento e linhas de investigação, realmente assustam os seus aliados preocupados com a sobrevivência política do líder de extrema direita.

As informações foram publicadas nesta sexta-feira (10) pela coluna da Malu Gaspar, no jornal o Globo, que falou com alguns desses aliados. Os bolsonaristas teriam mapeado e avaliado quais seriam as ações mais complicadas para o futuro político do ex-presidente. Curiosamente, não aparece nada relacionado à péssima gestão da pandemia de Covid-19.

Maria do Rosário

Entre as principais preocupações dos aliados de Bolsonaro está o processo em que ele é réu por injúria e apologia ao estupro, por conta de episódio em que discutiu (e ofendeu) com a deputada petista Maria do Rosário em 2014. Na ocasião, Bolsonaro afirmou que a deputada seria “feia” e que, por essa razão, “não merecia ser estuprada”.

As ações que envolvem o caso acabaram suspensas durante o mandato presidencial, entre 2019 e 2022, pois o então presidente não poderia ser responsabilizado criminalmente por ações cometidas antes do seu mandato. No entanto, com a derrota nas eleições e a perda do cargo, o ministro Dias Toffoli, relator do caso, deve enviar o processo para a primeira instância da Justiça federal em breve.

Os advogados do ex-presidente veem este processo como uma causa perdida e consideram que a condenação é inevitável. Além disso, politicamente pode jogar mais lenha na fogueira que acusa o ex-presidente de ser misógino e machista, o que pode ser explorado pelos seus adversários políticos, em especial o PT.

Wal do Açaí

Outro caso que tira o sono dos aliados do ex-presidente é o que envolve a acusação de improbidade administrativa em torno da sua ex-secretária Walderice Santos da Conceição, conhecida como Wal do Açaí. Acusada de ser uma funcionária fantasma, Wal trabalhou com Bolsonaro entre 2003 e 2018 em seu gabinete, nos tempos de deputado federal.

Mas o Ministério Público aponta que ela sequer ia para a capital federal assinar seu ponto. Com provas descritas na coluna como “robustas”, a causa é considerada perdida pelo entorno do ex-presidente assim como o caso da deputada Maria do Rosário.

Às vésperas da posse de Lula, em 28 de dezembro, Wal do Açaí se juntou a Carla Zambelli e Eduardo Bolsonaro, no movimento de retirar a sua defesa do guarda-chuva da AGU (Advocacia-Geral da União). Na ocasião, aliados de Bolsonaro estavam preocupados com a iminente troca de comando da AGU por um nome de confiança de Lula e abriram mão do direito de serem defendidos pelo órgão.

8 de janeiro

Outra questão que tira o sono dos aliados de Bolsonaro que buscam sua sobrevivência política tem a ver com a investigações sobre o ex-presidente ser um dos mentores e incentivadores dos ataques que seus apoiadores perpetraram contra as sedes dos três poderes da República, em Brasília, no último dia 8 de janeiro.

PT e PDT pediram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a inclusão de tais investigações, e em especial a minuta golpista encontrada pela Polícia Federal na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, nas ações que apuram abusos de poder econômico e político durante a campanha eleitoral.

As ações que correm no TSE podem deixar o ex-presidente inelegível e o pedido para incluir os ataques teria um efeito catalisador de acordo com os adversários políticos. Na última semana a defesa do ex-presidente pediu a exclusão desses elementos dos processos que correm no TSE, mas não foi atendida.

Isso corre em paralelo com os inquéritos dos atos antidemocráticos e de milícias digitais, presididos pelo desafeto número um do bolsonarismo, o ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Genocídio Yanomami

Por fim, a crise humanitária vivida pelo povo yanomami, em Roraima, é outra razão da falta de sono dos aliados de Bolsonaro uma vez que no último dia 25 de janeiro foi aberto um inquérito na Polícia Federal que busca apurar um provável crime de genocídio contra os indígenas, interligado com prevaricações e crimes ambientais.

Além da própria acusação de genocídio, que pode levá-lo para a cadeia, os aliados de Bolsonaro temem que seja criada uma pressão internacional em torno do tema que force a ida do ex-presidente ao Tribunal Penal Internacional (TPI).

*Com informações de O Globo.