O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou lacrar no X, antigo Twitter, com uma fake news contra o presidente Lula (PT) mas, além de cometer um erro ridículo de matemática, também se esqueceu de checar uma informação básica que, uma vez revelada, desmonta todo seu proselitismo de extrema-direita. E o mais curioso de mais esse episódio de mau uso da liberdade de expressão pelo inelegível, é que o primeiro internauta a verificar essa informação básica e a expor nos comentários, abusando do deboche nas palavras, foi o humorista Marcelo Adnet.
Bolsonaro fez uma longa postagem falando a respeito de sua “luta do bem contra o mal”. Ou melhor, contra o PT que, para ele e seus apoiadores, encarna o “mal do mundo”. A partir desse ponto de vista, o inelegível tenta dizer que Lula só foi eleito graças aos votos dos cidadãos que estão sob custódia do Estado brasileiro. Atribuiu a Lula irreais 4 milhões de votos supostamente vindos do sistema carcerário. Mas é tudo uma grande cascata.
“No sistema carcerário encontramos 750 mil detentos, que representam 4 milhões de votos, quase todos dados à partidos de esquerda”, escreveu.
Nos comentários só faltou Adnet imitar o ex-presidente. O humorista reproduziu a “conta matemática de Bolsonaro” com muito deboche. “750 mil detentos que representam 4 milhões de votos? Então o voto nas prisões tem peso 5?”, escreveu Adnet.
A seguir, Adnet traz outra informação sensível que desmonta a argumentação de Bolsonaro: “Apenas 12 mil de quase um milhão de presos estiveram aptos a votar nas últimas eleições”.
Adnet se refere aos 3% de presos provisórios que, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, estavam habilitados para votar em 2022. Ao todo eram 12.693 presos entre os 400 mil presos provisórios – que correspondem a mais de 50% do total da população encarcerada. Segundo a Constituição, presos provisórios e jovens em cumprimento de medida sócio-educativa estão aptos a votar, mas o direito é amplamente negado. Mayra Balan, advogada da Pastoral Carcerária Nacional, explicou ao Brasil de Fato a razão desta cifra.
“O Estado, aliado ao senso comum que este mesmo produz, entende que o que é de interesse de pessoas presas é diametralmente oposto ao interesse das ‘pessoas de bem’. Por isso, há a racionalidade punitiva de que pessoas presas - ainda que sem condenação, como é o caso dos presos provisórios - não podem votar. O boicote consiste numa política genocida de Estado da população pobre, indígena, negra e periférica. Não basta apenas jogar estes corpos indesejáveis nos depósitos humanos que são as prisões: tem também que matá-las em vida, retirando delas todo e qualquer direito”.