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Cesta básica sem imposto e IPVA para jet ski: como votou cada deputado na PEC da Reforma Tributária

Aprovação do projeto que moderniza tributação no Brasil é considerada a maior vitória do governo Lula no Congresso Nacional este ano; veja o posicionamento dos parlamentares

Câmara aprova PEC da Reforma Tributária.Créditos: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
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O governo Lula conseguiu uma importante vitória no Congresso Nacional nesta sexta-feira (15) com a aprovação em primeiro turno, por 371 votos a favor e 121 contrários, da Reforma Tributária,que promete alavancar a política econômica e os investimentos públicos no país. O texto tem o objetivo de atualizar o sistema tributário brasileiro, conhecido por suas incongruências.

Entre as mudanças, um breve comparativo pode ilustrar a nova ordem tributária: agora a cesta básica está isenta de impostos, enquanto jet skis e helicópteros passam a pagar IPVA.

A proposta já tinha sido aprovada na Câmara em julho passado. Mas quando foi apreciada no Senado, algumas mudanças foram impostas e precisaram passar novamente pela Câmara. Antes de ir a um segundo turno, os deputados federais votam os chamados destaques, ou seja, as alterações propostas ao longo do processo.

O texto foi costurado entre a equipe econômica do governo Lula, comandada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), além dos relatores deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e senador Eduardo Braga (MDB-AM). “Objetivo é manter um texto comum aprovado pelas duas Casas que permita promulgação imediata”, declarou Ribeiro à imprensa.

"É um dia realmente importante para o Brasil. Depois de muitos anos, são 40 anos, que se fala em Reforma Tributária no Brasil. O Brasil amadureceu, sabe o que precisa enfrentar, essa agenda que é a mais importante das reformas porque ela organiza o sistema produtivo, coloca o Brasil em compasso com o que tem de mais moderno no mundo", declarou Haddad em coletiva de imprensa.

Toda a bancada governista votou a favor do projeto, enquanto parte do PL, partido de Jair Bolsonaro e da oposição votou contra. 

Confira abaixo, por ordem alfabética, como votou cada deputado

O que muda com a Reforma Tributária? 

  • Criação do IVA

A Reforma Tributária cria o IVA (Imposto sobre Valor Agregado), que funciona como a unificação de uma série de impostos. Com a implementação do IVA, cada etapa da cadeia de produção passará a pagar o imposto referente ao valor que adicionou ao produto ou serviço — o que permitirá maior transparência e facilidade no processo que envolve a tributação no Brasil.

Na França e na Dinamarca, por exemplo, onde o sistema já é implantado, o produtor paga o imposto único sobre o total do preço, já que é o primeiro elo na cadeia, porém, o atacadista que revende o produto por um preço um pouco maior paga o tributo somente sobre o valor que adicionou.

O IVA tem sido considerado o maior legado a ser deixado pela reforma tributária. Haverá um IVA federal, chamado de Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e um IVA compartilhado com estados e municípios, o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS).

O IVA deverá absorver o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o Programa de Integração Social (PIS), a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), o Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços (ICMS) e o Imposto Sobre Serviços (ISS).

A esperança do governo é que o IVA reorganize o sistema tributário, equilibrando todos os setores da economia. A partir dele, será possível garantir o financiamento e a execução de políticas públicas com base mais justa e racional. O IVA deverá facilitar a fiscalização, reduzindo o litígio de CPFs e CNPJs com o Fisco.

Além de unificar o tributo, o IVA tem um mecanismo que faz com que sua cobrança não seja cumulativa ao longo da cadeia de produção. As empresas poderiam recolher o imposto com um “desconto” do valor pago que já foi pago anteriormente ao longo da produção. Ou seja, o IVA evita a chamada bitributação, que é o pagamento de tributo sobre tributo.

Entre os impactos causados nas empresas a partir da implementação do IVA está a redução de gastos e de tempo na hora de acertar as contas com a Receita. No Brasil, de acordo com informações do Banco Mundial, essa tarefa hoje toma 1.500 horas de trabalho por ano (o equivalente a 61 dias completos), colocando o país entre os piores quando esse é o assunto.

O IVA deverá trazer também previsibilidade de cálculo do tributo. Isso geraria efeitos positivos na produtividade das empresas, tornando-as mais competitivas, além de gerar maior consumo e empregos no país. A previsão é de que gire em torno de 27% do valor do produto.

  • Fase de transição

A Reforma Tributária também prevê um período de transição para a unificação dos tributos que ocorre entre 2026 e 2032. Durante esse período o IVA será implementado.

2026: alíquota de 0,9% para a CBS (IVA federal) e de 0,1% para IBS (IVA compartilha com estados e municípios)

2027: PIS e Cofins deixam de existir. CBS totalmente implementada. IBS permanece em 0,1%.

2029-2032: Período registrara redução gradual do ICMS e do ISS, com elevação do IBS.

2033: Novo modelo implementado; ICMS e ISS extintos.

  • Cesta básica nacional de alimentos

Um ponto importante da Reforma Tributária é a criação da chamada cesta básica nacional de alimentos, que será livre de impostos. Os IVAs serão zerados para os produtos que compõem a cesta. Uma lei complementar, a ser elaborada, definirá quais são esses produtos.

  • Tributos reduzidos

Ao todo, 13 setores da economia terão um corte de 60% nos tributos. São eles: serviços de educação, de saúde, dispositivos médicos, dispositivos de acessibilidade para pessoas com deficiência, medicamentos, produtos básicos para saúde menstrual, transporte coletivo urbano de passageiros metroviário e rodoviário, alimentos, produtos de higiene pessoal, insumos agropecuários, produtos agropecuários, produção de eventos artísticos, culturais e jornalísticos, bens e serviços relacionados a segurança.

  • Imposto sobre bens e serviços prejudiciais à saúde e meio ambiente

Cigarros, bebidas e outros artigos que se enquadram no perfil devem pagar o chamado “Imposto Seletivo”, cujo objetivo é desestimular o consumo dos bens e serviços prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente. Será cobrado numa única fase da cadeia de produção e distribuição, não devendo incidir em exportações.

Armas e munições estão incluídos entre os produtos atingidos pelo novo imposto.

  • Renda e patrimônio

Entre as mudanças previstas para essa área está a cobrança de IPVA sobre jatinhos, iates, lanchas e jet skis. Até a Reforma Tributária sair, esses veículos eram completamente isentos. A exceção fica a cargo da articulação do agronegócio no Congresso: aeronaves utilizadas para produção e serviços agrícolas ficam de fora das cobranças.

Também haverá a cobrança progressiva do Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), que varia de acordo com o valor da herança ou doação em questão. No caso de heranças, a cobrança será feita no domicílio daquele que faleceu e tem o objetivo de impedir que herdeiros driblem as tributações para locais onde se cobra menos. Heranças recebidas no exterior também podem ser taxadas.