O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tentou gerar pânico na população com um discurso mentiroso, negacionista e antivacina em audiência pública realizada na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (28).
Com a presença da ministra da Saúde, Nísia Trindade, a reunião tinha como objetivo debater iniciativas da pasta para incentivar a vacinação e aumentar a cobertura vacinal no país.
O Ministério da Saúde, empenhado em intensificar as campanhas de imunização, anunciou recentemente a inclusão da vacina contra a Covid-19 para crianças no Calendário Nacional de Vacinação a partir de 2024. A decisão fundamenta-se em evidências científicas globais e dados epidemiológicos locais sobre casos e óbitos pela doença.
Em conformidade com as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), que preconiza a priorização da vacinação em populações de alto risco, a estratégia visa abordar a realidade epidemiológica e implementar a vacinação infantil. Mais de 60 países, incluindo Brasil, adotaram a vacinação para crianças a partir do final de 2021. Exemplos notáveis são Austrália, França, Itália, Israel, Canadá, Japão, Reino Unido, Portugal, Espanha, Indonésia, Peru, Chile e Uruguai.
Resgatando o discurso 'anticiência' que marcou o governo de seu pai, Jair Bolsonaro, principalmente ao longo da pandemia do coronavírus, Eduardo Bolsonaro pediu a palavra na audiência e disparou fake news, fazendo uma correlação entre mortes súbitas e vacinação infantil contra a Covid.
"Parece que o mundo inteiro está vivendo uma epidemia de mortes súbitas. Parece que está coincidindo com a questão da vacina. Não consigo entender por que está querendo se tratar de obrigatoriedade justamente naquele grupo de pessoas menos suscetíveis a ter óbito por conta de Covid. Será que não é muito extremo obrigar o filho do pobre a se vacinar?", disparou o parlamentar de extrema direita.
A ministra Nísia Trindade, então, respondeu destacando o pânico que Eduardo Bolsonaro estava tentando gerar e trazendo dados científicos para rebater as mentiras do deputado, que se calou.
"Na sua fala, deputado, é muito preocupante uma correlação entre vacina e mortes súbitas. Gente, onde vamos parar gerando esse pânico na população? Fatos científicos: mais de 110 mortes de crianças em 2023 por Covid-19, crianças menores de 5 anos. É em cima desses dados que estamos trabalhando para colocar a vacina de Covid-19 no Calendário de Vacinação. Não há nenhuma morte de criança associada à vacinação, isso eu posso afirmar com base em nossos estudos. Nenhuma morte de criança em decorrência de vacinação".
Assista ao trecho:
Maioria dos brasileiros aprova vacinação infantil
A Rede de Pesquisa Solidária em Políticas Públicas e Sociedade, em colaboração com a Fundação José Luiz Egydio Setúbal, realizou uma pesquisa que demonstra que a maior parte da população brasileira está vacinando crianças e adolescentes.
Foram entrevistadas mais de 2 mil pessoas entre os meses de julho e agosto. Segundo o levantamento, 98,1% dos responsáveis por crianças e adolescentes de 14 anos de idade ou menos responderam que os vacinaram com todas as doses estabelecidas pelo Plano Nacional de Imunização (PNI).
A região Nordeste registrou 100% de adesão à vacinação, o Sudeste 97,8%, região Sul com 97,5%, Centro-Oeste com 96,1% e Norte brasileiro com 95,3%.
“Os dados analisados sugerem que no atual contexto brasileiro os pais expressam opiniões favoráveis à vacinação de seus filhos com diferentes imunizantes e reportam altos níveis de adesão à imunização. Essa tendência é observada em todas as regiões do país, embora possam ser observadas pequenas oscilações entre as regiões e entre os imunizantes abordados no estudo”, diz o texto da pesquisa.
A alta aceitação das vacinas e a conscientização de sua importância é um resultado direto das campanhas de vacinação realizadas nos últimos meses. Em 2021, no meio da pandemia de Covid-19, o movimento antivacina ganhou força no Brasil, preocupando a condição da saúde pública no país.
Em março de 2023, o Ministério da Saúde acionou o Conselho Federal de Medicina a fim de estabelecer ações que desmentissem fake news espalhadas quanto às vacinas e para cobrar um posicionamento efetivo do órgão quanto a isso.
O negacionismo se fez presente dentro do próprio CFM, quando os médicos apoiaram e prestigiaram representantes da Associação Médicos pela Vida em 2022, a qual foi responsável por realizar um manifesto em favor do ineficaz “kit Covid”. Além disso, Jair Bolsonaro foi aplaudido pelos integrantes do conselho ao mencionar que não havia se vacinado contra o coronavírus.
O Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) de São Paulo fez um levantamento sobre a vacinação infantil contra o Covid-19, entre crianças de 5 a 11 anos de idade. O estudo apontou que, quanto maior a escolaridade dos responsáveis, menor é a intenção de vacinar as crianças.
Além disso, quanto maior a classe econômica, mais baixo é o intuito da vacinação. Ao todo, 84% dos pais e mães de São Paulo aprovam a imunização do coronavírus através da vacinação. Daqueles que consideram a vacina importante, 99% possuem a intenção de imunizar seus filhos.