A extrema direita brasileira é sui generis. Esse segmento do espectro político, no mundo (e não é de hoje), é dado às mais variadas extravagâncias megalomaníacas paranoicas e à indigência intelectual. É como se a brutalidade decorrente do desarranjo cognitivo fizesse uma força hercúlea para vencer um embate onde o pensar é aceito como arma.
Uma frase dita pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o ícone máximo dessa grotesca e nauseabunda fração política da sociedade brasileira atual, proferida no final de agosto de 2021, resume bem do que se trata a extrema direita verde-amarela: “Tem idiota que diz ‘ah, tem que comprar é feijão’... Cara, tem que comprar é fuzil”. Pois bem, dito isso...
Uma dupla das mais obtusas do parlamento brasileiro, formada pelos deputados Gustavo Gayer (PL-GO) e Julia Zanatta (PL-SC), foi até Washington, capital dos EUA (naturalmente com dinheiro dos contribuintes), para realizar uma tarefa muito importante e vital para a sociedade brasileira: pedir para que congressistas norte-americanos “tomem providências” contra brasileiros que assinaram uma suposta “lista de apoio ao Hamas” (em tradução livre: aqueles que não se ajoelham e entram em delírio coletivo para venerar Israel). Ao fim da gravação, postada nas redes sociais, eles ainda admitem que a intenção “é tirar os vistos” dos brasileiros da tal relação, “para que eles não possam mais ir à Disney”.
Os dois, em claro deslumbre, vestem-se a rigor para a “grandiosa tarefa”, decerto passada diretamente “por Deus”, “em defesa da família” e “para honra da pátria”. Ela veste casaco de pelos reluzentes e aveludados, ele usa sobretudo de feltro excelentemente bem cortado, além dos óculos escuros para se proteger da claridade do sol que pouco aquece a fria capital do “império”.
“Ô, Gayer... Eu ouvi dizer que tem gente se borrando de medo porque nós estamos aqui, nos EUA... Aquele povo que assinou a lista de apoio ao Hamas, sabe?”, começa dizendo Julia Zanatta, a parlamentar que exerce o mais descomunal dos lobbies a favor da indústria de armas no Congresso Nacional e que já ameaçou veladamente o presidente Lula (PT) com um fuzil na mão e uma camisa em alusão ao petista.
“As entidades, parlamentares de esquerda ficaram superchateados com a gente porque a gente deu a lista para a embaixada (dos EUA), e agora a gente tá aqui nos EUA, a 100 metros do Capitólio, e vamos ter reunião com congressistas, e nesse ponto eles estão certos de estarem borrando de medo mesmo”, responde Gustavo Gayer, o parlamentar “ultramoralista” que o tempo todo é lembrado nas redes sociais de um caso em que ele supostamente teria matado duas pessoas por dirigir embriagado, quando era jovem.
“Medo de perder o visto e não poder mais ir para Disney... Uma pena”, ainda emenda Julia. “Pra Cuba não precisa de visto, né”, retruca Gayer, que ainda ouve a resposta “não, não precisa”. Pior que a piada é tão ruim que, para ir a Cuba, é sim necessário visto.
Veja esta pérola da política brasileira: