O deputado federal Rubens Pereira Jr (PT-MA) avalia que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre os atos golpistas de 8 de Janeiro foi positiva, pois não deixou a sociedade brasileira esquecer o que se passou no país. Nesta terça-feira (3), o presidente da CPMI, Arthur Maia (União-BA), cancelou a sessão que ocorreria nesta quinta (5) e marcou a apresentação do relatório final, que será lido pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA), no dia 17. Os parlamentares que integram a comissão devem votar o relatório no dia seguinte, 18, se ninguém pedir vistas.
“Ao meu ver, a CPMI alcançou o seu objetivo, porque, como é uma investigação política e pública, colocou a pauta do 8 de janeiro na ordem do dia. Sem a CPMI, é possível que nós já estivéssemos esquecido os atos golpistas do dia 8 e os atos preparatórios”, afirmou Rubens em entrevista ao programa Fórum Onze e Meia desta quarta (5).
“Com a CPMI, esse assunto ficou em evidência, ficou permanentemente sendo debatido pela imprensa, pela sociedade, no parlamento. De alguma forma, contribuiu para que nós tivéssemos avanços nas outras investigações. Sem a CPMI, a gente não teria tido, por exemplo, a delação do Mauro Cid. Isso é muito grave, ele é o homem que viu e ouviu tudo, e ele pode dizer para a sociedade justamente quem dava as ordens para ele”, disse.
Outros pontos levantados pelo deputado, membro titular da comissão, são a prisão do ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques, acusado de interferir no segundo turno da eleição para favorecer Jair Bolsonaro, e o depoimento do hacker Walter Delgatti Neto. “A gente não teria aprofundado na questão do hacker de Araraquara, que foi procurado por Bolsonaro para invadir as urnas eletrônicas. E no dia 10 de agosto do ano passado, em pleno período eleitoral, teve uma reunião com o ex-presidente lá no Palácio da Alvorada. Eu fico imaginando como é que o presidente da República abre a sua agenda para se reunir com o hacker com esse objetivo, de atentar contra a democracia.”
Militares e financiadores dos atos golpistas
Para Rubens Pereira Jr, apesar da avaliação positiva, a CPMI não conseguiu fazer tudo que queria. “Ouvimos muito poucos financiadores, poucos militares de uma forma geral, mas o trabalho dela foi absolutamente satisfatório e conseguiu contribuir com a investigação. Não gostaríamos de reacender uma crise militar do governo Lula, hoje está mais ou menos pacificado, então desde o início a gente tinha esse cuidado, mas sem que isso se confundisse com blindagem ou anistia. Justiça seja feita, ao fim e ao cabo, parte das Forças Armadas não topou o golpe. Teve a tentativa, mas o alto comando, de alguma forma, na hora H, por mais que eles torcessem pelo golpe, eles não deram o comando para que fosse de fato perpetrado. E sem a participação dos militares, o golpe deixa de existir na sua totalidade, fica incompleto.”
Rubens ressalta que antes da CPMI existiam duas teses para o que ocorreu no 8 de janeiro: que era uma manifestação política e que alguns se excederam e fizeram atos de vandalismo, e outra que apontava que foram vários atentados à democracia com o objetivo de impedir o mandato legitimamente concedido pelo povo ao presidente Lula.
“Ao final da investigação, a primeira tese cai quase que no anedotário. É uma espécie de terraplanismo, é uma ficção científica. Ninguém hoje acredita, em sã consciência, que foi um ato isolado. É mais uma vitória da CPMI, ficou provado que, de fato, foram vários atos preparatórios, vários atentados à democracia, que culminaram no dia 8.”
Interdição de rodovias depois da eleição, acampamentos em frente aos quarteis, invasão à sede da Polícia Federal no dia da diplomação do presidente Lula e tentativa de explodir bomba na véspera do Natal, no aeroporto de Brasília, foram alguns dos acontecimentos antes do dia 8 de janeiro.
“A CPMI, portanto, ajudou a mostrar que foram vários atos contra a democracia que culminaram no dia 8. É mais uma vitória da CPMI ter deixado clara essa narrativa de invenção em relação a um ato isolado e ter provado que foram vários atos preparatórios até chegar ao dia 8 de janeiro.”
E o Bolsonaro? Para Rubens, a CPMI fez certo em não ouvi-lo e nem convocá-lo, já que o ex-presidente está inelegível e procurando um palanque para ser lembrado. “Ele quer uma oportunidade de estar falando, de se vitimizar, de estar em evidência.” No entanto, na sua opinião, Bolsonaro deve ser indiciado.
“A gente quer isolar os radicais, esse pessoal que nega ciência, que nega vacina, que nega a democracia, que nega a estatística, a gente quer isolar na sociedade e aqui no parlamento, e quer dialogar com o centro democrático, a gente não dialoga com quem é negacionista da democracia, esses aí têm que ser isolado inclusive na sociedade.”