VISÃO DE MUNDO BOLSONARISTA

A grotesca declaração do governador de RR sobre a crise humanitária Yanomami

Bolsonarista apelou a um senso comum ultrajante e eximiu de culpa o ex-presidente de extrema direita. Ele saiu em defesa do garimpo e ainda debochou de ação da Cufa, que distribui alimentos

Jair Bolsonaro e Antonio Denarium.Créditos: Facebook/Reprodução
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O governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), deu declarações grotescas a respeito da crise humanitária enfrentada pelo povo indígena Yanomami, que em sua maioria habita as terras do estado administrado por ele. Mundo afora, a situação revelada recentemente, após uma visita do presidente Lula (PT) à área e a divulgação de imagens de crianças, idosos e mulheres cadavericamente magros e totalmente desnutridos, acometidos pelas mais diversas doenças, sem qualquer assistência médica, foi vista como um potencial genocídio dessas populações originárias.

Denarium disse que a situação “não é exclusiva de Roraima”, é “restrita a alguns grupos” e que o problema “ocorre há décadas”, eximindo de culpa Jair Bolsonaro (PL), de quem é aliado de primeira hora e confesso admirador. As informações são da coluna Painel, do diário paulista Folha de S.Paulo.

“Foi dada publicidade a um problema que é recorrente há 20 anos. Estão criando um fato que não é de hoje”, disse o governador, que ainda defendeu o garimpo, um elemento amplamente reconhecido como culpado em grande parte pela situação, uma vez que a atividade invade terras indígenas, impõe violência, expulsa os habitantes autóctones e contamina os rios e o solo daquela região. Para Denarium, há 50 mil famílias que dependem dos garimpos e elas não podem ficar desempregadas.

O chefe do Executivo roraimense ainda deu a entender que é a favor da aculturação dos indígenas do estado e quer que eles participem economicamente das atividades geradoras de riquezas, ignorando completamente qualquer preceito cultural ou antropológico desses povos. Para ilustrar esse entendimento, ele usou como exemplo indígenas dos EUA, uma analogia frequentemente usada por bolsonaristas e extremamente rasa e ancorada no senso comum.

“Imagine você desempregado, pobre, passando fome, doente. Dentro da sua casa tem um quadro do Picasso que vale US$ 1 bilhão. O que você faria? Venderia. Aí pega o dinheiro e melhora sua qualidade de vida. Igual aos indígenas americanos... Os cassinos nos EUA ficam todos dentro de área indígena. Os hotéis de luxo próximos a Nova York ficam todos dentro de área indígena. Os indígenas ganham royalties”, comparou o bolsonarista.

Denarium ainda desmentiu e “contextualizou” as notícias comprovadas com imagens que circularam o planeta sobre a condição desumana de desnutrição enfrentada pelos Yanomami e disse que “há desnutrição em todo o país”.

“Quando fala de desnutrição, tem no Brasil inteiro. Se for em São Paulo, tem crianças com desnutrição. E estou falando da população normal, não-indígena. Se for na Bahia, que tem estrada e tudo, eles moram praticamente dentro da cidade. Eu estava vendo reportagem sobre índios Pataxó com desnutrição. Aqui em Roraima, 80% dos indígenas já são aculturados, ou seja, tem um bom convívio e relacionamento com os brancos”, afirmou o político de extrema direita.

Para encerrar seu “raciocínio”, o governador ainda teve tempo de debochar de uma iniciativa humanitária legada a cabo pela organização Central Única das Favelas, a Cufa, que vem distribuindo alimentos em Roraima, na tentativa de diminuir os índices de desnutrição e miséria na unidade federativa do extremo norte do Brasil.

“A Cufa está entregando cestas de alimentos aqui. Você vê nas filas, nos vídeos que eles publicam, não tem nenhum desnutrido. Todo mundo bem arrumadinho, tudo certinho. O problema é localizado, não é generalizado”, disparou, ironicamente.

Por fim, Denarium, um bolsonarista empedernido, ainda falou que os indígenas “têm que se aculturar e deixar de viver no meio do mato como bichos”.

“Tenho 260 escolas em comunidades indígenas. Eles querem ser advogados, professores, médicos. Eu acho correto. Eles [indígenas] têm que se aculturar, não podem mais ficar no meio da mata, parecendo bicho. Eles têm que estar lá com condição, com estrada, escola, posto de saúde, fazendo agricultura deles, produzindo macaxeira, farinha”, finalizou.