Mesmo diante de todo o esforço do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de outros integrantes do seu governo, como o ministro da Justiça Flávio Dino, que lutam diariamente para tentar “limpar” a Esplanada dos Ministérios e o Palácio do Planalto da presença maciça de militares profundamente bolsonarizados, o ministro da Defesa, José Múcio, não parece muito disposto a colaborar nessa tarefa.
Uma reportagem do site The Intercept, publicada nesta sexta-feira (20), mostrou que três dos mais próximos assessores do atual chefe da pasta que engloba os militares são oficiais profundamente ligados a figuras centrais do movimento bolsonarista que contaminou os quartéis e o serviço público federal.
Esses homens estiveram a serviço da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, a Minustah, realizada durante os dois primeiros mandatos do Lula, iniciada em 2004, e que só foi encerrada oficialmente com Michel Temer, em 2017. O ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, um dos mais ferrenhos e aguerridos seguidores de Jair Bolsonaro (PL), foi um dos comandantes mais “célebres” dessa empreitada internacional.
O Haiti é visto amplamente como uma espécie de laboratório para aquilo que depois convencionou-se chamar de operações de Garantia da Lei e da Ordem, as GLO’s, que elevaram o Exército, seu protagonista, ao status de coordenador de uma atividade vista como meramente política, trazendo os fardados de volta ao cotidiano de fora dos quartéis, como na intervenção ocorrida no Rio de Janeiro, em 2018.
O tenente-coronel da reserva Jorge Luiz Mendes de Assis, é ainda o assessor de gabinete de Múcio e ele já estava nesse posto no governo Bolsonaro. Assis foi adjunto na Assessoria de Apoio para Assuntos Jurídicos do comandante do Exército à época do general Eduardo Villas Bôas, o mais golpista dos oficiais-generais desde a redemocratização do país, em 1985, que até influenciou na prisão do ex-presidente Lula.
Outro militar em posição central é o coronel da reserva Neyton Araújo Pinto, chefe interino da Assessoria Especial de Comunicação Social, homem próximo de Braga Netto desde os tempos em que o vice derrotado de Bolsonaro estava na Casa Civil, além do capitão reformado Geraldo Calixto de Araújo, que segue no posto de assessor de Atos e Procedimentos da Defesa de José Múcio. Calixo é próximo do general Luiz Eduardo Ramos, ministro bolsonarista “renomado” e ocupou o cargo na Assessoria Parlamentar do Ministério da Defesa, uma excrescência que trata de azeitar as relações entre a caserna e o Congresso, naturalmente atuando em pautas que favorecem os fardados.