A reportagem da Fórum teve acesso a dados internos e sigilosos da Presidência da República onde estão os prontuários de todos os servidores militares lotados no Palácio do Planalto que foram flagrados no acampamento golpista do Quartel-General do Exército, em Brasília, e em grupos de radicais bolsonaristas no WhatsApp. A maior parte deles é do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que no governo de Jair Bolsonaro (PL) era comandando pelo general Augusto Heleno. Dos cinco militares, quatro só foram dispensados na quinta (19) e um deles seguem aparecendo como “ativo no cargo”, com acesso ao círculo palaciano mais próximo do presidente Lula (PT), um claro risco em potencial.
Sobre esses agentes recaem suspeitas de envolvimento, com recursos de Inteligência Militar, nos atos terroristas cometidos por seguidores do ex-mandatário em 12 e 24 de dezembro de 2022 e em 8 de janeiro deste ano. Eles apareceram num dossiê produzido pelo Ministério da Justiça, que veio à tona nesta sexta (20), como atores diretos nessas agitações ilegais.
A análise do material revelou que esses militares estavam em cargos muito próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro, o que reforça as acusações que eles estariam nesses acampamentos e grupos de mensagens “em missão oficial”, agindo para gerar instabilidade, fomentando um golpe. A Fórum, por meio de uma fonte que é servidor da PF, lotado na Presidência da República, já vinha apontando as relações do GSI com essas ações de sublevação e sedição desde 13 dezembro, um dia após os primeiros ataques na capital federal.
O major do Exército Alexandre Nunes, lotado no GSI desde 30 de janeiro de 2019, tinha um posto operacional na Coordenação-Geral de Segurança de Instalações. Já Márcio Valverde, sargento da Marinha que foi admitido para o cargo no Planalto em 3 de fevereiro de 2020, estava a serviço da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial, também subordinada ao GSI, assim como o sargento Marcos Chiele, do Corpo de Fuzileiros Navais, investido na função em 3 de fevereiro do mesmo ano.
Fernando Carneiro Filho, da Marinha e único que não pôde ter sua patente confirmada, é outro militar que consta no dossiê do Ministério da Justiça como “participante” dos atos e mensagens golpistas. Ele presta serviço, desde 22 de junho de 2020, à Secretaria de Assuntos Estratégicos, um órgão autônomo e subordinado ao gabinete da Presidência da República, e que sob Bolsonaro foi comandada a maior parte do mandato pelo Almirante Flávio Augusto Viana Rocha.
Por fim, outro militar acusado de envolvimento nas conspirações sediciosas, o sargento da Marinha Thiago Cardoso, consta como ativo nos serviços do Departamento de Coordenação de Eventos, Viagens e Cerimonial Militar, do GSI.
“É mais do que óbvio que esses agentes tinham proximidade com o (ex-presidente) Bolsonaro... Eles estavam em cargos muito próximos dele, eram pessoas do seu cotidiano, que o protegiam pessoalmente, que viajavam com ele, se hospedavam com ele e eram, claro, agentes de Inteligência, afinal estavam num núcleo central do GSI... Agora, o surpreendente mesmo foram eles ficarem até ontem (quinta, 19) com acesso a áreas muito restritas do Planalto e eu diria até próximas do (presidente) Lula, que pelo menos na teoria estava sob algum risco, como ser espionado ou monitorado, enfim... Tudo está aparecendo exatamente da forma como reportei lá atrás, depois dos primeiros ataques... Sabíamos disso, e o que fica claro é que existe, e existiu, uma mistura total entre as funções institucionais do GSI e os interesses pessoais do presidente, ou mesmo do general Heleno, de fomentar, por meio dessa guerra de informações, dessa guerra híbrida, incentivando essa gente a serem agentes produtores do caos, como já relatei depois do dia 12, depois da bomba do Natal que seria utilizada pra explodir o caminhão-tanque, e também com aqueles invasores do dia 8, que saíram do QG... Havia clara e cristalina evidência de uma quadrilha, ou milícia golpista, no exército e no GSI ”, disse o servidor.