O Ministério da Justiça e Segurança Pública está com um dossiê que comprova que pelo menos oito militares lotados na Presidência da República no governo Bolsonaro, a maior parte deles no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandado à época pelo general Augusto Heleno, frequentavam o acampamento golpista instalado na área do Quartel-General do Exército em Brasília. Foi desse local que saíram os terroristas que atacaram a sede da Polícia Federal e incendiaram veículos na capital federal em 12 de dezembro do ano passado, que posteriormente instalaram uma bomba-relógio num caminhão-tanque que ia para o Aeroporto Juscelino Kubitschek, na véspera de Natal, e que destruíram as sedes dos três poderes no último dia 8.
A Fórum, por meio de uma fonte da PF lotada na Presidência da República, já vinha denunciando que militares do GSI operavam no referido acampamento e teriam ligação com esses extremistas.
O mesmo documento que está nas mãos do ministro Flávio Dino também aponta que esses agentes da Presidência estavam em grupos de WhatsApp que articulavam um golpe de Estado no país e nos quais eram feitas ameaças de morte ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Num vídeo, Lula aparece falando e sobre ele é colocada uma mira telescópica de um atirador de elite.
Os dados do dossiê foram levantados durante o período de transição por integrantes de um grupo de trabalho que se infiltraram nessas reuniões de radicais nos aplicativos de troca de mensagens.
A reportagem da Folha de S.Paulo afirma que entrou em contato com alguns desses militares do GSI e que eles teriam dito que, de fato, iam ao acampamento, mas “sem farda” e “sem se manifestar politicamente” e “sem apoiar pautas antidemocráticas”. Dois desses agentes seguiram lotados nessa Presidência até quinta (19), quando tiveram suas dispensas publicadas no Diário Oficial da União.
O dossiê mostrou que os militares bolsonaristas envolvidos no acampamento golpista incentivavam os outros manifestantes em relação a pautas autoritárias por meio de estímulos com vídeos e áudios, insuflando os extremistas, sendo que um desses agentes propunha explicitamente “ações violentas contra petistas”.
Num dos grupos de WhatsApp analisados pelos integrantes do Ministério da Justiça, guarda-costas pessoais do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que eram do GSI, também aparecem na área dos acampamentos, vestidos com camisas da seleção brasileira e instando outros militares a frequentarem o local.
Entre as fotos que circulavam nesses grupos extremistas, o Ministério da Justiça identificou diretamente o major Alexandre Nunes, do Exército, Márcio Valverde, sargento da Marinha, e um homem identificado apenas como sargento Azevedo, que seria da Aeronáutica. Os dois primeiros foram confirmados como agentes do GSI, sendo que Nunes aparece dizendo diretamente aos radicais que “Lula não subiria a rampa do Planalto”.
Outros militares da Marinha, identificados como Estevão Soares, Thiago Cardoso, Marcos Chiele e Fernando Carneiro Filho, também do GSI, também são apontados nominalmente no dossiê levado ao Ministério da Justiça como agentes do órgão de inteligência da Presidência como frequentadores do acampamento e participantes desses grupos de radicais bolsonaristas.