Preso e investigado por suspeita de omissão durante os atos terroristas do dia 8 de janeiro, em Brasília, o coronel Fábio Augusto Vieira, ex-comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF), fez graves acusações em relação à atuação do Exército durante os ataques às sedes dos Três Poderes.
Em depoimento à Polícia Federal, o coronel declarou que a PM tentou conter a ação dos terroristas inúmeras vezes. Porém, os agentes foram impedidos pelo Exército.
Além disso, ainda conforme depoimento, no dia do atentado em Brasília, o Exército impediu a entrada de PMs no local para prender os golpistas.
Vieira afirmou, ainda, que o acampamento golpista de bolsonaristas em frente ao Quartel-General (QG) do Exército “contribuiu muito” para os atos terroristas. A TV Globo e o G1 tiveram acesso à íntegra do depoimento.
Reunião para desmobilizar acampamento
O coronel informou que, depois do dia 12 de dezembro, quando houve o primeiro ataque terrorista de vulto, com vândalos tentando invadir a sede da PF e colocando fogo em veículos, em Brasília, ocorreu uma reunião entre a cúpula da Secretaria de Segurança do DF e o Exército, com o objetivo de traçar estratégia para desmobilizar o acampamento.
Vieira disse que, “por duas vezes tentaram fazer essa desmobilização dos acampamentos, mas não obtiveram êxito por solicitação do próprio Exército; que a PMDF chegou a mobilizar cerca de 500 policiais militares, mas o Exército entendeu que era melhor eles fazerem essa desmobilização utilizando seus próprios meios”.
No dia dos atos, “já restabelecida a ordem, foram tentando encurralar o efetivo para tentar realizar prisões de quem estava no lugar”. O coronel afirmou que foi marcada “uma reunião em frente à Catedral Rainha da Paz, e o Exército já estava mobilizado para não permitir a entrada da Polícia Militar”.
Previsão era de ato pacífico, alega coronel
Ele também revelou que estava prevista a participação de 440 militares durante os atos. Porém, setores de inteligência de inúmeros órgãos afirmaram que a previsão era de um ato pacífico.
“A informação era de que havia ânimo de tranquilidade para essa manifestação específica”. Depois dos ataques, ainda conforme depoimento do militar, o efetivo passou de 2,6 mil servidores. Contudo, a PM não conseguiria controlar a situação sozinha.
“Disse que para conseguir deter as invasões não bastaria quantitativo de policiais; que há necessidade de participação de outras instituições como as seguranças do Congresso, STF e Planalto; que, na ocorrência do ‘efeito manada’ não basta a linha de policiais”, explicou. E garantiu que não participou de “nenhuma tentativa” de facilitar os ataques.