ATOS TERRORISTAS

Lula diz que portas do Planalto não foram arrombadas e acredita em conivência

O presidente admitiu erro na estratégia adotada pelo ministro da Defesa, José Múcio, durante monitoramento dos acampamentos no QG do Exército, mas negou demiti-lo

O presidente Lula tomou café da manhã com jornalistas.Créditos: Ricardo Stuckert
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Lula (PT) convidou jornalistas que realizam a cobertura do Palácio do Planalto para um café da manhã nesta quinta-feira (12). O presidente fez um balanço geral dos últimos acontecimentos e foi duro nas críticas ao ato terrorista do dia 8 de janeiro.

“Estou esperando a poeira baixar. Eu quero ver todas as fitas que foram gravadas dentro da Suprema Corte, da Câmara, do Palácio do Planalto. Teve muita gente conivente. É importante dizer”, afirmou o presidente. “Teve muita gente da Polícia Militar conivente, teve muita gente das Forças Armadas aqui de dentro conivente. Eu estou convencido de que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para que gente entrasse, porque não tem porta quebrada. Significa que alguém facilitou a entrada deles aqui”, acrescentou.

O presidente admitiu erro na estratégia adotada pelo ministro da Defesa, José Múcio, durante monitoramento dos acampamentos no QG do Exército, mas negou demitir o ex-TCU.

Quem coloca ministro e tira ministro é o presidente da República. O José Múcio foi eu quem trouxe para cá. Ele vai continuar sendo meu ministro porque eu confio nele, relação histórica, tenho o mais profundo respeito por ele. Ele vai continuar”, disse Lula.

O presidente ainda completou: “Se eu tiver que tirar cada ministro a hora que ele comete um erro, sabe, vai ser a maior rotatividade de mão de obra da história do Brasil. Todos nós cometemos erros”.

Ao assumir o comando da Defesa, Múcio chegou a declarar que os bolsonaristas acampados representavam “uma demonstração da democracia”. Ele também afirmou que tinha amigos e parentes participando desses atos.

Lula desconfia de ajudantes de ordem do Palácio e abriu mão de ser protegido por eles, sobretudo, os ligados ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

O presidente lembrou do episódio em que o motorista do ex-GSI, General Heleno, declarou dar um tiro em sua cabeça e afirmou que os ministros sabem que “não pode ficar ninguém que seja suspeito de ser bolsonarista raiz” no Palácio do Planalto.

Por outro lado, disse que não pretende fazer um “palácio de petistas”. Porém, o quadro será composto por civis que desempenhem um bom trabalho.

“Eu quero saber se a pessoa tem qualidade, se a pessoa tem uma função respeitada, se a pessoa é trabalhadora. Ah, se o cara votou no Bolsonaro eu não vou ficar aqui com o cara porque votou em mim ou não. Se o cara votou no Bolsonaro, é um direito dele votar, se o cara é um funcionário de carreira e ele presta o serviço dele com retidão, por que ele não pode ficar? Eu não quero fazer um palácio de petista. Eu quero fazer um palácio de pessoas sérias, que trabalhem, que tenham compromisso com o país”, disse.

Forças Armadas

Lula ressaltou a boa relação que teve com as Forças Armadas durante os dois primeiros mandatos como presidente, entre 2003 e 2010. Porém, afirmou que os militares foram “poluídos” pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que passou a tratar as Forças Armadas “como se fosse uma coisa dele”, passando sinal que as forças enfrentam uma politização sem precedentes no Brasil pós-redemocratização. Lula afirmou que, ao contrário do que pensam, as Forças Armadas “não são o poder moderador”.

As Forças Armadas não são o poder moderador, como eles pensam que são. As Forças Armadas têm um papel na Constituição, que é a defesa do povo brasileiro e da nossa soberania contra possíveis inimigos externos”, disse Lula.

“Isso é o papel das Forças Armadas e está definido na nossa Constituição Federal. É isso que eu quero que eles façam bem feito. Por isso que eu defendo que eles estejam bem treinados, bem armados”, acrescentou.

O presidente voltou a afirmar que os acampamentos em frente aos quartéis não eram democráticos, porque pediam golpe de estado, e criticou a presença de familiares de militares nesses acampamentos.

“Nós vimos no acampamento mulher de general, mulher e filha de general gritando ‘golpe’. Isso não é normal”, destacou Lula, que afirmou que voltará a se reunir com o ministro da Defesa e os comandantes da Marinha, Aeronáutica e Exército para tratar do assunto.

“Nós temos que colocar um relacionamento civilizado, respeitoso, cada um sabendo o que tem que fazer. E consolidar a democracia na relação com o Congresso Nacional”, ressaltou.

Lula também voltou a afirmar que fará um governo para os mais pobres. Disse que taxar grandes fortunas e cobrança de impostos mais justos para os ricos e pobres são medidas de justiça social. Lula ainda criticou as privatizações e usou como exemplo a Eletrobrás. Demonstrou indignação pelo fato de que membros da diretoria da empresa estão recebendo cerca de R$ 300 mil mensais após a privatização e que os seus conselheiros ganham R$ 200 mil para participarem de uma reunião por mês.