A campanha para eleger o ex-presidente Lula (PT) já no primeiro turno ganha cada vez mais adeptos. O petista vem recebendo diariamente novos apoios e reforçando a ação de antigos aliados.
Professoras e professores da Universidade Federal do ABC (UFABC), em São Paulo, divulgaram, nesta quinta-feira (22), manifesto em defesa de “Lula presidente já”.
“Não é sensato, neste momento, lançar mão de eufemismos ou de falsas simetrias: há um risco desenhado no chão e do lado de lá está o abismo”, diz um dos trechos da carta.
Veja a íntegra do manifesto:
Em outubro de 2022, o Brasil realizará suas eleições mais importantes desde, pelo menos, o início da Nova República. Como em outras eleições recentes, estão em disputa diferentes projetos de país e de sociedade. Mas desta vez a disputa tem em um de seus polos uma candidatura aberta e explicitamente propagadora do ódio, da violência, da ditadura, dos negacionismos científico, ambiental, sanitário e histórico.
Não é sensato, neste momento, lançar mão de eufemismos ou de falsas simetrias: há um risco desenhado no chão e do lado de lá está o abismo.
Enquanto pesquisadoras e pesquisadores, que atuam como professoras e professores de universidade pública, sabemos muito bem o que está em jogo. Assistimos, ao longo dos últimos anos, à magnitude dos ataques materiais e simbólicos que vêm sendo mobilizados pelo governo Bolsonaro à educação, à ciência, à tecnologia e à cultura. Os efeitos do negacionismo são excessivamente contundentes para negá-los.
Com 682.358 mortes confirmadas em 19 de agosto de 2022, o Brasil é o segundo pior país do mundo em número absoluto de mortes por Covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos. Comparando com os países do BRICS, o Brasil tem a mais alta taxa de mortalidade por milhão de habitantes, apresentando, assim, a pior resposta à pandemia dentre os grandes países do Sul Global. Como resultado, apesar de ter apenas 3% da população mundial, o Brasil acumula 11% das mortes pela doença do planeta.
Na área ambiental, o desastre é semelhante. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o desmatamento da Amazônia cresceu 56,6% durante o governo Bolsonaro, sendo a maior parte deste em terras públicas.
Segundo estatísticas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o país quebrou todos os recordes de incêndios florestais, sendo a pior situação no bioma do Pantanal, com 22 mil focos de incêndio e 14% do território queimado em 2020.
Uma das consequências mais graves dessa política de destruição ambiental foi o aumento recorde do assassinato de lideranças indígenas e ambientalistas, o que coloca o Brasil como o quarto país que mais mata ativistas ambientais do mundo, entre eles o indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips.
Essas questões se somam a um empobrecimento geral da população, com a redução do poder de compra e o retorno da tragédia da fome. São 33 milhões de pessoas em situação de fome no Brasil, segundo dados deste ano publicados pela Rede de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. O desmonte das políticas públicas de combate à fome acompanham toda a trajetória do governo Bolsonaro — desde a extinção do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), em 2019, à desarticulação de um conjunto de políticas setoriais e de assistência social e à extinção do Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e do Bolsa Família.
O cenário de destruição das conquistas sociais e a degradação das condições de vida da população brasileira abalam as perspectivas de futuro de muitos e muitas de nossa comunidade interna e externa à Universidade.
Estamos, ainda, diante de constantes ataques à democracia e à liberdade de expressão por parte das ações cotidianas do presidente e de seus apoiadores. As milícias no território e as milícias digitais têm atacado sistematicamente opositores do governo, com um crescimento da violência política — reforçada pelo armamento crescente da população, graças ao incentivo do governo.
Diante dos ataques frequentes a jornalistas, Bolsonaro passou a figurar na lista de “Predadores da Liberdade de Imprensa” da organização Repórteres Sem Fronteiras. Os maiores alvos do presidente e de seus familiares e apoiadores são jornalistas mulheres.
A militarização da política e as ameaças aos outros poderes se somam ao questionamento das eleições e à desinformação massiva como táticas de comunicação política. Esse conjunto de ameaças transforma um eventual segundo turno das eleições num campo privilegiado para a ação dessas forças antidemocráticas.
No setor de educação, cultura, ciência e tecnologia, os impactos do negacionismo são igualmente trágicos. Em levantamento feito pelo Observatório do Conhecimento, as perdas acumuladas pelo orçamento do conhecimento — que reúne gastos e investimentos com educação, ciência e tecnologia — podem chegar a R$ 100 bilhões entre 2014 e 2022, a maior parte delas no governo Bolsonaro.
Para termos uma ideia, em 2021, o orçamento do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações representava 34,4% do orçamento do mesmo ministério em 2014. Considerando o orçamento do MEC, os gastos correntes se reduziram a aproximadamente 20% dos números de 2014, e os investimentos na expansão do sistema de educação pública não chegam, em 2021, a 9% das cifras de 2014.
O resultado dessa política conhecemos bem. Estamos sofrendo com uma brutal falta de verbas para a pesquisa. Nossos salários, congelados desde 2017, estão absolutamente defasados. Muitos docentes de ensino superior pensam em abandonar a carreira, considerando a precariedade das nossas condições de vida e de trabalho. A universidade pública perdeu a sua capacidade de investimento e planejamento, e precisa se defender constantemente de acusações de desvio de função provenientes de um governo que apregoa escolas militarizadas e ensino domiciliar como modelos educativos.
O número de inscritos no SISU foi o menor da história em 2021, acumulando uma redução de mais de 60% desde 2015. A democratização do acesso às universidades públicas também é posta em risco pela redução dos recursos indispensáveis à permanência estudantil. É uma geração inteira que se perde entre a incompetência, a paranoia e o projeto de destruição dos responsáveis pela política de educação; perda que afeta especialmente a juventude negra e periférica.
É à luz desse cenário de caos e destruição, e a partir da comparação deste projeto nefasto com o que já foi feito e com os compromissos assumidos pela candidatura Lula nessas áreas essenciais — saúde, meio ambiente, educação, ciência, tecnologia e cultura e combate à pobreza; com ações como Brasil sem Fome, a retomada do Ministério da Cultura e do Ministério da Mulher, Brasil Sustentável, Mais Universidade, a valorização do salário mínimo, a retomada do Bolsa Família, do Farmácia Popular e do Minha Casa, Minha Vida, entre outras — que pedimos não apenas o seu voto, mas, principalmente, o seu urgente, imediato e total engajamento para eleger Lula presidente no primeiro turno no dia 02 de outubro de 2022.
Uma frente de apoio bastante ampla e diversa está reunida em torno da candidatura de Lula. Sabemos que esta não é a única candidatura do campo democrático, mas é a única com condições de derrotar Bolsonaro e de criar as condições para voltarmos a ter um governo que defenda a vida, o meio ambiente, a educação, o conhecimento e a cultura.
Muita coisa está em jogo nessas eleições, e a posição de cada um e de cada uma de nós será decisiva. Por isso, juntos e juntas dizemos: é Lula presidente já! Viva a democracia! Viva o povo brasileiro! Viva a educação pública! Vamos juntos e juntas pelo Brasil!
Confira aqui a lista de professoras e professores que assinaram o manifesto.