ELEIÇÕES 2022

O desespero e o clima de velório na campanha de Bolsonaro

Aliados marcam encontros e se arranjam com provável novo governo, assessores próximos tentam disfarçar que derrota está horizonte e um presidente enfraquecido em posição humilhante ameaça loucuras de última hora

Créditos: Marcos Corrêa/PR
Escrito en POLÍTICA el

A situação do presidente Jair Bolsonaro (PL), em relação à sua reeleição para o cargo, parece praticamente definida. Não há uma só pessoa que olhe para todas as pesquisas eleitorais, independentemente do método, reputação ou amostragem, e não perceba que a derrota está logo ali, no horizonte, já que pela estabilidade da disputa nos últimos meses, a recente onda crescente em favor de Lula (PT) a dez dias do pleito e a vantagem astronômica do líder de esquerda são muralhas intransponíveis a essa altura.

Os interlocutores dos intestinos da campanha do radical de extrema-direita, diretamente do QG de Brasília, ainda que com ar melancólico, não têm deixado de informar aos jornalistas, sobretudo às graúdas e experientes raposas que cobrem a política no coração do Planalto Central, que o clima no entorno do presidente é de desespero e velório. Com sua personalidade estridente e caótica, pouca gente tenta dar lufadas de realidade para Bolsonaro, que pelo menos da boca pra fora segue com seus delírios de popularidade colossal, respaldados pelo WhatsApp e pelo “Datapovo”.

Assessores muito próximo de Bolsonaro desabafam e garantem que é impossível fazer com que o candidato à reeleição fale ou se dirija para fora de sua bolha de radicais lunáticos. A tentativa de pular esse muro foram as viagens ao exterior aos 45 minutos do segundo tempo, mas ainda assim ele encontrou tempo para estrepolias patéticas, dignas de um adolescente inconsequente, quando fez comício do balcão da embaixada do Brasil em Londres, aos berros, enquanto sua claque tentava agredir opositores, jornalistas e transeuntes, e ao discursar sua bobajada tóxica no púlpito da ONU, de onde saiu e foi para uma churrascaria repetir que é “imbrochável”.

A solidão de Bolsonaro começa a se acentuar. O abandono é a primeira ocorrência no destino dos déspotas e ditadores (no caso dele, um projeto de ditador, inclusive muito mal-acabado). O dinheiro do agronegócio, que ele jurava que jorraria como um gêiser em sua campanha, já que o setor adora acariciá-lo, não veio. Os valores foram muito baixos e os magnatas do campo julgaram prudente não dar mais para não ficarem marcados em futuras investigações, como ocorreu com o grupelho de desmiolados bacanas que estimulavam um golpe de Estado num grupo de WhatsApp.

Deputados do Centrão têm se aproximado de interlocutores de Lula, sejam pelas bancadas do PT no Congresso ou ainda por emissários que circulam por Brasília e pelas principais capitais estaduais, mostrando disposição em conversar e se entender, já com vistas ao um futuro governo do ex-presidente. O papel de candidatos a governador e senador aliados por todo país também retratam o tamanho do isolamento de Jair Bolsonaro, já que eles escondem a figura do chefe de Estado para não comprometerem seus votos.

No núcleo duro da campanha, há quem ainda não esteja satisfeito com todos os papelões e com os resultados negativos da postura belicista, violenta e selvagem de Bolsonaro durante o período eleitoral, o instigando a radicalizar ainda mais nesses últimos dias antes da abertura dos colégios de votação. Muitos acham que um clima de terror total e declarado seria uma hipótese para o presidente se manter no cargo, embora eles só não expliquem como isso aconteceria.

Na melhor das hipóteses, dizem alguns, se o presidente aceitasse uma guinada no modelo de campanha e procurasse ajudar candidatos à Câmara e ao Senado, poderia então forma uma “tropa” de choque no Congresso para tentar protegê-lo politicamente dos processos e ações penais que certamente virão pela frente após sua saída do Palácio do Planalto, algo em alguma medida semelhante com o que ocorreu com o genocida ditador chileno Augusto Pinochet.

Ainda que tudo parece confuso até esse momento, a única certeza mesmo no centro de operações da campanha bolsonarista é que as pesquisas tendem a confirmar o que ocorrerá no dia 2 de outubro e o futuro de Bolsonaro e do Brasil seguem incertos.