Em entrevista ao Fórum Onze e Meia desta quinta-feira (15), o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais e Sem Terra (MST), João Paulo Rodrigues, fez um balanço das campanhas estaduais do campo da esquerda. Além disso, Rodrigues falou de como será a relação do MST em um eventual novo mandato do ex-presidente do Lula.
João Paulo Rodrigues avalia que a fala de Lula sore o MST durante a sabatina no Jornal Nacional teve um efeito paradoxal: trouxe para o conhecimento popular o fato de que o Movimento ser o maior produtor de arroz da América Latina, mas também fez com que o grupo ocupasse o lugar da Venezuela e Cuba nas linhas editoriais da imprensa tradicional.
Todavia antes de falar sobreo MST na contemporaneidade, Rodrigues faz um breve histórico do Movimento. “Nós estamos há 38 anos fazendo lutas políticas e ao longo desses anos, nós estamos prestando contas do que foi a luta pela terra. É uma luta muito difícil que, em seu primeiro momento foi invisibilizada; no seu segundo momento, uma mobilização feita no país inteiro que foram as marchas pelo Brasil todo, fomos à Brasília em 1997 e depois as conquistas que tivemos tanto no governo Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) como no governo Lula (2002-10) de assentar, pelo menos, um milhão de famílias e parte dessas famílias são bases ligadas ao MST”, revela.
Em seguida, o coordenador nacional comentar a fala de Lula no JN. “Nós temos muita alegria de ver como o presidente Lula com muito orgulho e com muita tranquilidade dizer o seguinte: nós temos um movimento que está aí hoje e ele está prestando contas do que foi as difíceis batalhas da luta pela terra na década de 1990 e por isso ele até errou na informação, porque o MST não é o maior produtor de arroz do Brasil, é o maior produtor de arroz da América Latina. Isso foi fruto de muito trabalho e dedicação dos camponeses”, comenta.
“Essa mensagem do presidente Lula foi muito boa porque coloca o MST em evidência, mas você percebeu que depois disso todo o debate, toda a entrevista que o Lula vai, que o Haddad vai a pergunta que se faz é: o que vocês vão fazer com o MST? Nós ficamos mais importantes nos editoriais deles (imprensa tradicional) do que Cuba, Venezuela, do que a Coreia do Norte e do que a região do mundo Árabe. Então o MST virou a dúvida do que nós vamos ser no próximo período além de produtor de arroz orgânico”, diz João Paulo Rodrigues.
Relação com eventual novo governo lula
Questionado sobre como será a relação do MST com um eventual novo mandato de Lula, Rodrigues pondera e afirma que isso não dá para saber, mas que tem certezas de uma coisa: não será um governo fácil e os grupos da direita e extrema direita estarão mais unidos e coesos para tentar impedir um novo governo do PT. “É muito difícil saber o que vai ser o governo Lula, acho que nem o Lula sabe como vai ser. Eu brinco por aí que não haverá tédio, vai ser um governo bastante divertido. Divertido porque vai ser um governo com maior dificuldade econômica e nós vamos ter um Lula muito mais animado em fazer coisas com menos tempo e eu acho que não haverá muito espaço para o que nos chamávamos no passado de "conciliação de classes", avalia.
“Desconfio que a direita clássica vai manter um grupo de oposição muito mais forte do que houve no passado e essa oposição de direita conservadora, que tem o apoio do agro, de setores econômicos, vai nos dar muito trabalho. Então, eu acho que o MST vai ter que continuar lutando pela terra e pela reforma agrária e ao mesmo tempo ajudar a construir uma base de sustentação do governo Lula, uma base de sustentação política e popular para que nós não permitamos que haja retrocesso e eles [oposição] podem querer brincar de inviabilizar o governo Lula por tudo que representa a direita brasileira. Agora, o MST vai continuar sendo o mesmo: um movimento de luta popular e por reforma agrária”, diz o coordenador nacional do MST.
Campanhas estaduais
Ao tecer uma análise de conjuntura sobre o estado das coisas na campanha nacional e nas estaduais do campo da esquerda, Rodrigues afirma que o olhar não pode estar atrelado ao contexto do centro-sul brasileiro, pois, as situações são muito díspares entre as regiões brasileiras.
“Eu acho que tem, pelo menos, umas oito campanhas diferentes do Lula. O problema é quando a gente faz uma avaliação do centro-sul e olha a Avenida Paulista como se fosse uma referência. Eu tenho rodado o país e assim: o centro-oeste é uma situação muito difícil para nós. Não temos candidaturas de governadores, senadores que faça campanha que o povo vá pra rua. Ao mesmo tempo, nós tempo campanhas no Nordeste, pega o caso da Bahia, da Paraíba, e mesmo no Rio Grande do Norte e Ceará, tem um volume de campanha na rua muito grande”, comenta.
O coordenador do MST avalia que a situação em Minas é preocupante. “Na campanha de Minas, por exemplo, você não tem nenhuma candidatura proporcional de pessoas ligadas ao nosso time da esquerda, do PT. Imagina, está o Kalil (PSD), um senador que não é da nossa turma... e, porque você tenha um vice, é muito difícil ira pra rua fazer campanha pro Kalil com bandeiras nossas [...] temos que tomar cuidado para a candidatura do Kalil não começar a puxar o Lula para baixo”, alerta Rodrigues.
“De um modo geral a campanha do Rio de Janeiro está boa, apesar da esquerda não estar tão redonda. Você tem uma campanha na Zona Sul que é muito mais próxima do Molon (Alessandro, candidato do PSB ao Senado). Você tem a campana do Ceciliano (André, candidato do PT ao Senado) que é popular, mas não necessariamente leva a cor do vermelho, é uma cor azul, inclusive. E você tem uma campanha no centro-sul do país, no Rio Grande do Sul que, na minha opinião, é uma campanha de rua, o povo está indo pra briga pra defender o Edegar (Pretto, candidato do PT ao governo do estado) e o voto no Olívio Dutra (candidato do PT ao Senado)”, afere o membro do MST.
São Paulo e a vitória em primeiro turno
Para Rodrigues, a campanha do PT em são Paulo, que tem Fernando Haddad como o candidato ao governo do estado, é uma das mais coesas e acertadas do país. Para o dirigente, a campanha petista vive uma onda favorável que pode levar o pleito a ser resolvido no primeiro turno.
“São Paulo, é uma situação assim: nós estamos à frente, a campanha está bem, mas ao mesmo tempo nós confiamos em uma aliança muito ampla e que ainda não conseguimos transformá-la em popular. Com a entrada do Marcio França (candidato do PSB ao Senado), da Marina Silva (candidata da Rede à Câmara dos Deputados) e com a entrada do Alckmin (candidato a vice-presidente na chapa de Lula), é uma campanha de figurões. É muito difícil você levar essas pessoas na periferia ou qualquer canto ou em bandeiraço, porque eles são muito grandes. E o Haddad também é um figurão grande, o cara está lá na frente. Essa é uma campanha que talvez esteja sendo mais detalhada em agendas escolhidas com mais carinho, não é uma campanha de mutirões”, analisa.
Por fim, Rodrigues avalia a possibilidade de vitória no primeiro turno em nível nacional e no estado de São Paulo. “O Haddad tem comprovado que a estratégia de campanha dele tem dado certo: ele está na frente, tem conseguido trazer uma coesão muito grande e eu acho que nós corremos o risco de ganharmos as duas candidaturas no primeiro turno: São Paulo e a nível nacional. Há uma onda (em SP). Essas ondas, quando aparecem! Claro, ainda faltam 20 dias, mas nós podemos ganhar no primeiro turno”, finaliza.