PATRIMÔNIO SUSPEITO

Na mira da PF: Ex-esposa de Bolsonaro deve ser investigada por compra de mansão

Pedido de investigação contra Ana Cristina Valle foi motivado pelo escândalo da compra de 51 imóveis em dinheiro vivo pelo clã Bolsonaro

Ana Cristina Valle.Créditos: Reprodução/Redes Sociais
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Ana Cristina Valle, ex-esposa de Jair Bolsonaro (PL), deve ser alvo de investigações pela compra de uma mansão em área nobre de Brasília. O pedido de abertura de apuração foi feito pela Polícia Federal (PF) junto à Justiça Federal, a partir de um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de combate à lavagem de dinheiro.

O documento indica “transações atípicas” na compra do imóvel, que seria, conforme a PF, “aparentemente incompatível com o exercício da função pública de assessora parlamentar” e que teria sido realizada “por meio de pessoa interposta”.

A suspeita da PF se refere a uma mansão onde mora Ana Cristina e o filho do presidente, Jair Renan Bolsonaro. Conforme o relatório do Coaf, a ex-esposa do presidente transferiu R$ 867 mil para uma empresa de transporte de cargas do Distrito Federal.

A firma é de propriedade de Geraldo Antonio Moreira Junior Machado, que teria utilizado parte desse valor, R$ 580 mil, para pagar a entrada da compra da mansão, avaliada em R$ 2,9 milhões, em junho de 2021. O restante do valor foi financiado.

Ana Cristina é assessora parlamentar na Câmara dos Deputados e negava ser a proprietária da mansão. Contudo, recentemente, ela apresentou nova versão.

Candidata a deputada distrital, declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ser a dona do imóvel, que, conforme ela mesma, valeria R$ 829 mil.

A matrícula mostra que a casa ainda está registrada no nome do empresário Junior Machado, de acordo com reportagem de Aguirre Talento, Daniel Gullino e Patrik Camporez, em O Globo.

Os investigadores consideram que a utilização de uma terceira pessoa na transação feita por Ana Cristina demonstra “possível dissimulação da propriedade do bem imóvel adquirido”, o que pode caracterizar crime de lavagem de dinheiro.

Além disso, a PF afirma que “há indícios da utilização de terceira pessoa interposta para obtenção de financiamento imobiliário” e que “tal conduta possui alcance típico de delito contra o sistema financeiro”.

Clã Bolsonaro comprou metade do seu patrimônio com dinheiro vivo

Desde a década de 90, quando ingressou na política, até os dias de hoje, Bolsonaro, seus irmãos e filhos negociaram 107 imóveis, dos quais pelo menos 51 foram comprados total ou parcialmente com uso de dinheiro vivo, segundo declaração dos próprios integrantes do clã.

Foram registrados em cartórios com o modo de pagamento "em moeda corrente nacional", expressão padronizada para repasses em espécie, R$ 13,5 milhões. Em valores corrigidos pelo IPCA, o valor equivale hoje a R$ 25,6 milhões.

Não consta nos documentos de compra e venda a forma de pagamento de 26 imóveis, que somaram valores de R$ 986 mil (ou R$ 1,99 milhão em valores corrigidos). Transações por meio de cheque ou transferência bancária envolveram 30 imóveis, totalizando R$ 13,4 milhões (ou R$ 17,9 milhões corrigidos pelo IPCA).