A candidata à presidência Soraya Thronicke (União Brasil) e a vice de Simone Tebet (MDB), Mara Gabrilli (PSDB-SP), foram beneficiadas nos últimos três anos com um total de R$ 114 milhões com emendas do orçamento secreto.
De acordo com ofícios enviados ao Supremo Tribunal Federal (STF), que pediu transparência no esquema aos parlamentares, Soraya teria recebido um total de R$ 7,9 milhões em 2020, R4 45,6 milhões em 2021 e mais R$ 41,7 milhões até agosto de 2022. O total pelo qual a candidata teria se beneficiado chega a R$ 95,2 milhões.
Já a tucana Mara Gabrilli recebeu R$ 19,2 milhões em 2020. Tebet declarou que não recebeu nada relacionado ao orçamento secreto. As três mulheres são as únicas parlamentares que concorrem à presidência neste ano - portanto, as únicas presidenciáveis que poderiam haver recebido recursos do esquema bolsonarista.
O orçamento secreto
Um dos maiores escândalos de corrupção do governo Bolsonaro, o orçamento secreto foi abordado nas sabatinas dos presidenciáveis ao Jornal Nacional e no debate da Band do último domingo (28), pelos candidatos que fazem oposição ao atual presidente Jair Bolsonaro (PL). O ex-presidente Lula (PT), quando questionado por William Bonner sobre o mensalão que chacoalhou o final do seu primeiro mandato, afirmou que o orçamento secreto de Bolsonaro seria algo muito pior. Também Ciro Gomes(PDT) e Simone Tebet (MDB) questionaram a prática.
Mas mesmo com todos os candidatos prometendo acabar com o esquema, o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL) articula uma manobra para mantê-lo em 2023. E para manter o esquema bolsonarista de governabilidade independente do vencedor das eleições, Lira aposta em disponibilizar um montante de R$ 19 bilhões no ano que vem. O objetivo é manter o controle sobre o orçamento que exerce atualmente, mesmo no caso de uma vitória de Lula.
Revelado pelo Estadão, o orçamento secreto nada mais é que a liberação de verbas federais para deputados e senadores a fim da aprovação de emendas e projetos, sem qualquer transparência. O esquema de compra de governabilidade foi montado em 2020 e dispôs de R$ 20 bilhões naquele ano. Em 2022, a estimativa é de que esteja próximo dos R$ 17 bilhões. Não é possível saber ao certo quanto de cada verba é repassado para qual parlamentar; o que se sabe é que o repasse é carimbado como “emendas RP-9” pelo relator-geral do Orçamento no Congresso.
Os montantes das presidenciáveis foram revelados pelos seus próprios gabinetes ao STF, que cobrou o governo a respeito da transparência do esquema.
O que dizem as candidatas?
Soraya Thronicke declarou nas suas redes sociais que as verbas não eram secretas e que destinou o total do montante recebido para seu Estado, o Mato Grosso do Sul. E realmente em sua prestação de contas constam os repasses para obras de infraestrutura de municípios como Dourados e Aparecida do Taboado.
“Minhas emendas foram destinadas 100% ao meu Estado, e todas foram anunciadas. De secreto, nada! Quem cobre os passos dos parlamentares com responsabilidade sabe disso. Para quem não, estou republicando. Meu MS está cansado de ser deixado para trás, e eu o ajudarei com tudo o que for possível”, escreveu na sua conta do Twitter.
Já Mara Gabrilli repassou os R$ 19,2 milhões de 2020 para 19 municípios paulistas, a fim de serem usados para melhorar postos de saúde e hospitais. Ela afirmou para a imprensa que destinou toda a verba para fortalecer o combate à pandemia no interior de São Paulo e defendeu que deve haver transparência na prática.