POLITIZAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS

7 de setembro: Forças Armadas anunciam 8 horas de atividades em Copacabana

Em nova reviravolta na disputa por desfile no Rio de Janeiro, militares atendem desejo do presidente e organizam evento de grande porte para celebrar os 200 anos de independência do Brasil

Desfile de sete de Setembro de 2021 na Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio de Janeiro.Créditos: Tomaz Silva/Agência Brasil
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Uma nova reviravolta na novela do desfile de sete de setembro no Rio de Janeiro ocorreu nesta segunda-feira (29) com o anúncio das Forças Armadas de que preparou uma programação de 8 horas de atividades para a comemoração dos 200 anos de independência, no Forte de Copacabana, a ser encerrada com um discurso do atual presidente Jair Bolsonaro (PL). É verdade que não está previsto um discurso do presidente, mas haverá um palco onde Bolsonaro estará presente com toda a infraestrutura para um discurso disponível. Em protesto ao comício organizado pelos militares, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera a corrida eleitoral em todas as pesquisas, convocou um ato na cidade para o dia seguinte.

O que seria uma breve apresentação no mar e no espaço aéreo próximos ao Forte de Copacabana protagonizadas pela Marinha e pela Aeronáutica, de acordo com declaração do prefeito Eduardo Paes (PSD) de 17 de agosto, se transformou em um longo comício organizado pelos militares. Dessa maneira, no próximo sete de setembro estão previstos, a partir das 8 horas da manhã na orla da praia de Copacabana, 29 salvas de tiros de canhão, parada naval com navios militares e a apresentação da esquadrilha da fumaça, conforme já havia sido divulgado. Além disso haverá mais apresentações e a presença do presidente coincidentemente no momento em que uma 'motociata' dos seus eleitores chega ao local.

Às 8 horas da manhã o evento de comemoração dos 200 anos de independência do Brasil começa com a primeira salva de tiros de canhão do Forte de Copacabana, que se repetirá de hora em hora até as 16h, ao final do evento. A parada naval sairá da Barra da Tijuca às 9 horas da manhã e percorrerá as praias da cidade com previsão de chegada às 13 horas em Copacabana.

Já a esquadrilha Fox, composta por três naves privadas, deve fazer uma apresentação às 14 horas enquanto o presidente sobrevoa de helicóptero uma ‘motociata’ organizada por apoiadores e que está marcada para sair do Monumento aos Pracinhas, no bairro do Flamengo.

Bolsonaro chega à orla de Copacabana às 15h junto com a apresentação dos paraquedistas do Exército e com os motociclistas. Ele estará em um palco montado junto de celebridades e autoridades que o apoiam. Antes de Bolsonaro discursar, no encerramento do evento, ainda haverá apresentação de banda da Marinha e da Esquadrilha da Fumaça.

Entenda o histórico

Em 29 de julho o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, comunicou ao Comando Militar do Leste que o presidente Jair Bolsonaro (PL) havia decidido participar do desfile de 7 de setembro no Rio de Janeiro e solicitado que o local do desfile mudasse para a praia de Copacabana – reduto de manifestações de apoiadores do presidente aos finais de semana nos últimos anos.

Na ocasião, o pedido pegou até mesmo o Comando Militar do Leste de surpresa que começou a reorganizar às pressas o desfile ao modo do presidente. Paralelamente, o desejo do presidente ganhou o rótulo de eleitoreiro e golpista, uma vez que promoveria a ida dos oficiais ao reduto dos seus apoiadores a menos de um mês das eleições. E justamente em um 7 de setembro, mesma data em que um ano antes Bolsonaro reprovou no teste de força que promoveu contra as instituições.

Os debates em torno do desfile tiveram idas e vindas, até que em 5 de agosto o prefeito carioca contrariou o presidente e declarou que o desfile não sairia da avenida Presidente Vargas. Doze dias depois, em 17 de agosto – dia seguinte das declarações de posse de Alexandre de Moraes no TSE – veio a desistência em manter o desfile em seu local tradicional anunciada pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD). Na ocasião foi anunciado que haveria duas “breves apresentações” da Marinha e da Aeronáutica nas imediações do Forte de Copacabana.

Mas a recente ação de busca e apreensão nas mansões dos empresários bolsonaristas que defendem discursos antidemocráticos – e são suspeitos de financiar atos com tal conduta – acirrou novamente os ânimos entre Bolsonaro e as instituições. Esse contexto somado ao desejo do presidente de fazer um evento de grande porte para se promover eleitoralmente enquanto comemora os 200 anos da independência do Brasil levaram a reviravolta de hoje.