Com o título “Uma dúvida paira sobre as eleições no Brasil: Haverá um golpe?”, o diário The New York Times, o mais influente dos EUA, destacou na sua edição de segunda-feira (22) o pandemônio instaurado no país com as ameaças autoritárias de Jair Bolsonaro, caso perca as eleições de outubro para Lula, e todo o clima de incertezas que a situação traz para aquela que se orgulhava de ser a maior democracia da América Latina.
Assinado por Jak Nickas e André Spigariol, a reportagem relembra todo o inventário de intimidações e truculência do atual mandatário de extrema-direita brasileiro, que há meses ataca o sistema eleitoral, convoca seguidores fanáticos para seus atos de arruaça e os conclama a ir “à guerra”.
O texto pondera que o fenômeno autoritário que ocorre por aqui vem na esteira de uma agenda global, que em cara hora pipoca em um canto da Terra, mas reforça que o Brasil se transformou na “vanguarda” desses movimentos radicais e antidemocráticos, e que Bolsonaro usa do mesmo expediente que outros líderes, como questionar a lisura das disputas eleitorais, espalhar desinformação e criar um clima de polarização extrema.
Para o NYT, é muito claro que Jair Bolsonaro carece de apoio institucional e de vários outros setores para levar a cabo uma ruptura da ordem democrática no país. O jornal traça um paralelo com o Golpe Militar de 1964, que levou a uma “brutal ditadura que durou 21 anos”, e considera que naquele momento da história os golpistas tinham amplo apoio dentro da sociedade, das elites econômicas e na comunidade internacional liderada pelos EUA, bem diferente de agora, momento em que o presidente brasileiro grita sozinho.
A publicação novaiorquina fala ainda das estrepolias do clã político e de seus seguidores mais próximos, que emulam os feitos celerados de Donald Trump nos EUA, após ser derrotado por Joe Biden em 2020, e destaca que já há forte reação dos segmentos mais influentes da sociedade, como as cartas em defesa da democracia assinadas por centenas de milhares de intelectuais, políticos, juristas e outras figuras proeminentes do país.
A cena de Bolsonaro sendo soterrado pelas palavras duras do ministro Alexandre de Moraes quando assumiu a presidência do TSE, momento em que foi aplaudido de pé e o chefe de Estado brasileiro ficou sentado com cara de birra, também é resgatado pelo jornalão norte-americano.
Por fim, o NYT diz que a maior aposta e o mais provável, no momento, é que no caso da derrota de Jair Bolsonaro, cada vez mais iminente, uma transição pacífica ocorra no país, sem sobressaltos e sem desdobramentos nas aspirações autoritárias do futuro derrotado.
O jornal com sede em Manhattan não é o primeiro órgão estrangeiro a tratar das tensões e problemas provocados pela síndrome de mau-perdedor de Bolsonaro. Jornais da Europa, sobretudo da França, Espanha e Reino Unido, vêm dando destaque ao ambiente hostil criado pelo mandatário brasileiro, que aumenta ao passo que ele percebe que dificilmente conseguirá outro mandato à frente do Palácio do Planalto.