“ÓBITO TAMBÉM É ALTA”

Vítimas da Prevent Sênior acionam STF contra arquivamento de ações da CPI da Covid

Durante as investigações no Senado, a empresa foi acusada de usar pacientes como cobaias e prescrever hidroxicloroquina mesmo com todas as evidências científicas contrárias ao uso

Pedro Benedito Batista Júnior responde a denúncias apresentadas à CPI por médicos e pacientes da Prevent SeniorCréditos: Pedro França/Agência Senado
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Organizadas junto a Associação Nacional Vida e Justiça, vítimas da rede Prevent Sênior acionaram o STF contra pedido feito pela vice-procuradora-geral da República Lindôra Araujo de arquivamento das ações e investigações contra Bolsonaro e seus correligionários, decorrentes da CPI da Covid.

Conforme apurado pela CPI da Covid ao longo do ano passado, pacientes da empresa receberam tratamento para a Covid-19 com hidroxicloroquina, o mesmo medicamento que o governo federal determinou que fosse produzido em massa nos laboratórios das Forças Armadas e que é comprovadamente ineficaz no tratamento da doença, além de gerar efeitos colaterais nos pacientes que podem levar a óbito.

A petição das vítimas da Prevent Sênior ainda lembra que a empresa adquiriu cerca de 5 milhões de comprimidos de hidroxicloroquina e distribuiu aos pacientes, tratados como verdadeiras cobaias de laboratório. “Estes medicamentos conhecidamente ineficazes foram distribuídos a ministrados a milhares de pessoas (cobaias), de modo que, infelizmente, muitos faleceram. Este plano, pacto ou aliança acabou resultando na morte de milhares de brasileiros de maneira direta ou indireta porque impediu que os doentes recebessem o tratamento médico adequado”, diz o documento.

A associação também pede esclarecimentos do procurador-geral da República, Augusto Aras, a respeito dos pedidos assinados por sua vice, Lindôra Araujo, de arquivamento das ações e processos decorrentes das investigações da CPI da Covid. Em nota, divulgada pela coluna de Lauro Jardim, no jornal O Globo, a Prevent Sênior limitou-se a negar as acusações e dizer que confia nas “investigações técnicas que irão restabelecer a verdade dos fatos”.

A Prevent Sênior na CPI da Covid

A Prevent Sênior se lançou no mercado como uma empresa de planos de saúde voltados à terceira idade com preços pra lá de competitivos e teve um rápido crescimento por conta da sua alta competitividade. Os donos da empresa utilizaram os lucros, entre outras coisas, para promover seu lazer, uma banda de rock chamada Doctor Pheabes, que pagava caro para participar de grandes festivais, como o Lolla Pallooza e o Rock in Rio. A banda ainda produziu um hino para a empresa, que obrigava seus funcionários a cantarem-no à capela semanalmente.

Mas foi na CPI da Covid, no Senado, que o Brasil ficou sabendo que mais do que um hino de mau gosto, a empresa forçava seus médicos a prescrever o famigerado “tratamento precoce” para a Covid-19 aos seus pacientes, além de usar pacientes como cobaias e de adulterar prontuários com a finalidade de manobrar resultados de pesquisas com os medicamentos em questão.

Em depoimento à CPI, o representante da empresa Pedro Benedito Batista Júnior culpou um suposto ataque hacker, que teria adulterado planilhas de atendimento, pelas denúncias oferecidas em dossiê e amplamente divulgadas na imprensa. Na mesma sessão, foi aberta uma conversa por telefone entre o mesmo representante da empresa, o senhor Pedro Batista, e um dos médicos que denunciou a empresa. “É muito triste isso [denunciar a empresa] para a sua vida, olha o que você fez com a sua família! Você se expôs de uma maneira que não tem volta”, disse para o médico, que, em resposta, indagou se estava sofrendo uma ameaça.

Na sequência o médico pergunta porque haviam adulterado o prontuário do Anthony Wong, o que tirou o representante do sério. Wong era um médico defensor do tratamento precoce que, ao contrair a Covid-19 foi tratado de acordo com suas convicções e acabou morrendo. A empresa foi acusada de ter ocultado a causa da morte de Wong para que a ineficácia do tratamento precoce não fosse levantada a partir do seu caso. Além dele, há o caso da morte da mãe do empresário Luciano Hang, das lojas Havan, no qual seu prontuário teria sido modificado com a mesma finalidade e ganhou apoio do próprio filho da vítima que, após sua morte, defendeu publicamente o tratamento precoce como uma possível saída para a falecida enquanto ainda era viva.

Em outra sessão da CPI da Covid, o paciente Tadeu Andrade denunciou o que a empresa chamava de “Tratamento Paliativo” que serviria, de acordo com o depoente, como uma estratégia para “eliminar pacientes que ofereciam altos custos” para a empresa. O próprio Andrade se declarou um sobrevivente dessa prática e explicou na sessão como conseguiu se salvar.

“Inclusive, se eu tivesse uma parada cardíaca, havia a recomendação da Prevent Sênior para que eu não fosse reanimado. Felizmente minha filha não concordou pelo telefone, o que não impediu a médica da Prevent Sênior de inserir no meu prontuário o início do tratamento paliativo,” declarou. Ao longo do depoimento, Tadeu Andrade ainda confirmou todas as acusações contra a empresa.