O Plano de Governo de Jair Bolsonaro (PL), que busca um novo mandato presidencial, tem fake news sobre fome e miséria logo em sua introdução. O texto introdutório dá a entender que durante as gestões de Lula (2022-10) e Dilma Rousseff (2010-16) a miséria aumentou no país.
Além disso, o texto traz uma defesa do acesso às armas pelos cidadãos, pois, para o candidato à reeleição tal política é importante “na defesa das liberdades individuais”. O plano registrado ainda traz contradições sobre a vacina contra a Covid e privatização da Petrobras.
Fome e miséria no Brasil
Assim como faz nas redes sociais, Bolsonaro e sua equipe distorcem dados sobre fome e miséria para afirmar que os governos de Lula (2002-10) e Dilma Rousseff (2010-16) aumentaram a miséria. Insinuação que vai de encontro a todas as informações disponíveis sobre tal assunto.
"De acordo com o Banco Mundial, em 2002 existia no mundo 1,58 bilhão1 de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. No Brasil, eram 47,4 milhões de pessoas, de acordo com o IBGE", diz o texto do Plano de Governo de Bolsonaro.
Em seguida, o texto de introdução do plano de governo de Bolsonaro associa a miséria ao modelo de gestão adotado pelos governos do PT. "Dados comprovam que entre 2003 e 2016 a pobreza no mundo caiu 53,5%, mas no Brasil aumentou 11%. Pode-se afirmar que, em comparação com o mundo, o modelo de gestão adotado no Brasil nesse período impediu 30,6 milhões de brasileiros de sair da linha da pobreza".
Posteriormente, afirma-se que "em 2019, com a eleição de Jair Bolsonaro, iniciou-se um novo modelo de gestão, onde o caminho para a prosperidade da nação foi fundamentado na economia liberalista que investe em políticas públicas que combatem a pobreza e reduzem a desigualdade através da geração de emprego e renda".
Como se vê, o método de falseamento dos dados para construir uma narrativa ficcional por parte de Bolsonaro e de sua hoste não se limita às redes sociais, mas é um modo de ser. No entanto, as coisas só pioram no restante do programa.
Legítima defesa e acesso às armas de fogo
O acesso às armas de fogos por cidadãos comuns que foi ampliado na atual gestão de Bolsonaro também figura logo no início do plano sob o tópico "Liberdade para a Defesa de Direitos".
Para a coligação de partidos que dá suporte à reeleição de Bolsonaro, o fato de o cidadão ter acesso a arma de fogo lhe garante a "proteção dos seus direitos fundamentais e aqui neste ponto o texto inclui que a "dignidade sexual" - sem especificar o que seria isso - pode ser defendida mediante o aceso a arma.
Dessa maneira, o texto defende as políticas de flexibilização de acesso as armas e promete expandi-las em eventual novo mandato de Bolsonaro.
"O acesso às armas de fogo também é importante instrumento de prática desportiva e cultural. Motivo de orgulho para os brasileiros, pois trata-se de nossa primeira medalha de ouro olímpica. Assim, neste segundo mandato serão preservados e ampliados o direito fundamental à legítima defesa e à liberdade individual, especialmente quanto ao fortalecimento dos institutos legais que assegurem o acesso à arma de fogo aos cidadãos", diz o texto.
Empreendedorismo, a solução de Bolsonaro para trabalho e renda
A principal proposta de Bolsonaro para gerar trabalho e renda no Brasil é investir no empreendedorismo e promover "capacitação" das pessoas. Como isso será feito, não é dito.
"Gerar emprego e renda é objetivo de qualquer governo democrático e que acredita na liberdade econômica. Para que isso aconteça, um dos fatores fundamentais é o estímulo ao empreendedorismo [...] Uma visão de médio e de longo prazo do Estado, com a definição das áreas estratégicas a serem perseguidas e a capacitação daqueles que desejem empreender", promete.
Sem citar os crimes em torno da prática de mineração ou estabelecer como elas se darão, o plano de Bolsonaro promete expandi-la. "A mineração é indispensável ao desenvolvimento socioeconômico do Brasil, sendo um dos setores básicos da economia nacional, com estaque para a extração de minério de ferro, manganês, nióbio, alumínio e grafeno [...] a atividade deve ser estimulada para que se atinja o desejado desenvolvimento socioeconômico e a proteção do patrimônio ambiental, binômio que representa o desenvolvimento sustentável".
Bolsonaro se orgulha de ter vacinado o povo brasileiro
Ao longo da pandemia, Bolsonaro debochou de pessoas convalescentes diante da Covid e fez campanha contrária às vacinas. Adeptos de "teorias da conspiração", o presidente não se vacinou e, entre várias afirmações absurda, disse que a vacina poderia transformas as pessoas em jacaré e também aumentar a incidência do HIV/Aids, fake news que a realidade desmontou.
No entanto, no entanto no tópico destinado à Saúde, o plano de Bolsonaro se vangloria de ter vacinado toda a população brasileira contra a Covid-19, faz firme defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) e promete expandir o acesso à saúde universal.
Privatização e Estado mínimo
Desde que assumiu a presidência da República, Bolsonaro defende a venda de todas as empresas estatais. Recentemente, esteve em reuniões com agentes do setor privado aos quais prometeu, caso seja reeleito, privatizar a Petrobras.
Tal assunto é tema do tópico "Ampliar e Fortalecer o Processo de Desestatização e Concessões da Infraestrutura Nacional". De pronto, o texdto deixa claro que, em eventual segundo mandato a política de privatização será aprofundada como forma de "liberar o Estado para que ele possa ser mais eficiente naquilo que é sua vocação foi uma das premissas do governo atual e continuará sendo no próximo mandato".
Porém, apesar de defender a privatização de empresas públicas e, assim como no caso das vacinas, a venda da Petrobras, defendida por Bolsonaro, não foi incluída no seu plano de metas de "desestatização".
Ao justificar sua predileção por vender empresas públicas, o plano de Bolsonaro usa a Eletrobras, que foi vendida, como modelo a ser seguido em um eventual segundo mandato.
"A desestatização da Eletrobras é um bom exemplo de que é possível e de que os resultados positivos são praticamente imediatos, pois estimula a oferta de energia, a competitividade e a livre concorrência (com a ampliação e a melhoria da qualidade e a redução dos preços dos serviços) e a captação de mais investimentos para o setor", defende o plano.
Como se vê, entre o discurso virulento das redes sociais e o Bolsonaro do plano de governo há uma longa distâncias, mas, são as suas próprias falar que colocam por terra as ideias apresentadas em seu plano de governo.