A deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP) tinha um plano quando levou Walter Delgatti Neto, o “Vermelho”, para participar de reuniões em Brasília na última semana: ela queria que seu partido contratasse o "hacker de Araraquara" para integrar uma equipe de consultores contratados para fiscalizar as urnas eletrônicas.
A parlamentar levou Delgatti a um encontro, na terça-feira (9), com Valdemar Costa Neto, presidente do PL, na sede do partido, e a outra reunião, na quarta (10), com Jair Bolsonaro (PL), no Palácio da Alvorada.
Delgatti foi preso em 2019, na Operação Spoofing. Ele foi o responsável por invadir o Telegram e copiar diálogos de integrantes da Lava Jato.
A ideia de Carla Zambelli era que ele fosse contratado como um especialista em ataques cibernéticos pelo Instituto Voto Legal, indicado pelo PL ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para auditar as eleições.
A deputada acreditava que os partidos de esquerda não contestariam o trabalho do hacker que revelou a Vaza Jato, que ajudou a dar fim às condenações do ex-presidente Lula (PT).
Carla disse, apenas, que pagou a hospedagem de Delgatti e do advogado Ariovaldo Moreira, no Hotel Phenícia, em Brasília, cujas diárias custam perto de R$ 200.
Delgatti foi à reunião com Valdemar para conversar sobre esse trabalho que ele poderia exercer como “fiscalizador das eleições”. Já o assunto do encontro com Bolsonaro não foi revelado.
A parlamentar confirmou que foram tratadas “informações valiosas”, mas se recusou a dizer quais eram: “Isso eu não posso falar”, declarou, segundo reportagem de Eduardo Gonçalves e Patrik Camporez, em O Globo.
Carla afirmou que Moreira, defensor de Delgatti na ação da Operação Spoofing, pediu dinheiro para continuar as negociações. O advogado negou.
“Ele virou para perguntar para mim quanto valia a democracia. Eu falei a ele que a democracia não tinha preço. E ele: ‘Mas eu queria ouvir um valor’”, contou a deputada.
Ela relatou, também, que Moreira ficou “nervosinho” com a recusa, decidiu ir embora e tentou levar Delgatti. Porém, o hacker falou, segundo Carla: “Não, eu vou ficar”. “E aí ele vazou o encontro para a imprensa, porque ele ficou nervosinho e queria dinheiro”, acrescentou a deputada.
“Ela pediu que ele (Delgatti) fizesse coisas que eu achei que ele não devia fazer”, rebateu o advogado
Moreira negou que tivesse pedido dinheiro e a acusou de mentirosa: “Em momento algum foi pedido dinheiro. Pelo contrário, ela pediu que ele (Delgatti) fizesse coisas que eu achei que ele não devia fazer”, rebateu.
“Eu não vou falar o que ela pedia. O que ela queria eu não ia fazer, só isso. Não pedi dinheiro em momento algum. Ela pode fazer a acusação que ela quiser. Agora, se eu queria dinheiro e o Walter ficou lá? Não é estranho isso?”, questionou o advogado.