O presidente Bolsonaro e as Forças Armadas articulam novo tensionamento com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O Ministério da Defesa, instado pelo mandatário, planeja remeter novo ofício cobrando respostas do TSE a três questionamentos sobre a segurança do sistema de votação.
A ação do Ministério da Defesa tem relação direta com estratégia adotada pelo comitê de campanha de Bolsonaro que, em sua live semanal desta quinta-feira (7), exigiu que o TSE permita a auditoria de votos a ser realizada pelas Forças Armadas. O objetivo do presidente da extrema direita é um só: colocar em dúvida a confiabilidade das urnas eletrônicas.
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O objetivo das Forças Armadas, segundo informações do Estadão, é insistir em uma reunião específica entre militares do Comando de Defesa Cibernética e técnicos civis da Justiça Eleitoral. O objetivo, segundo generais, seria discutir alguns critérios adotados pela Corte e a ampliação dos testes públicos de segurança, que devem incluir um novo modelo de urna a ser usado pela primeira vez em 2022.
A pressão das Forças Armadas sobre a Justiça Eleitoral fez com que o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa reagisse a tais ímpetos golpistas. "Insistir nessa agenda de pressão desabrida e cínica sobre a Justiça Eleitoral, em clara atitude de vassalagem em relação a Bolsonaro, que é candidato à reeleição, é sinalizar ao mundo que o Brasil caminha paulatinamente a um golpe de Estado", declarou Barbosa.
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Além de retomar a tese de que as eleições foram fraudadas em 2018, mesmo que tenha vencido o pleito, Bolsonaro declarou, durante a sua live nesta quinta-feira (7), que os seus apoiadores "já sabem o que fazer" caso a auditoria das urnas não seja realizada.
"O senhor Fachin declarou que auditoria não serve para mudar resultado das eleições. Ou seja, auditoria para quê? Se o Comando de Defesa Cibernética detectar fraude não vai valer de nada esse trabalho. Não preciso aqui dizer o que estou pensando, o que você está pensando. Você sabe o que está em jogo e sabe como deve se preparar, não para um novo Capitólio, ninguém quer invadir nada, mas sabemos o que temos que fazer antes das eleições", ameaçou Bolsonaro.
O presidente Bolsonaro é respaldado pelo ministro da Defesa, general Paulo Sérgio de Oliveira, que declarou em reunião ministerial que não há diálogo com o TSE e ele afirma que o tribunal não respondeu a maioria das sugestões encaminhadas por sua equipe.
Segundo o general, as Forças Armadas vão elaborar um cronograma para "exigir" do TSE as respostas aos seus questionamentos. Além disso, afirma que, se preciso for convocarão a comissão de transparência do tribunal para prestar os esclarecimentos que consideram necessários.
Caso o ministério da Defesa não seja atendido, a auditoria será feita por conta própria, declarou o ministro em reunião, só não disse como.
As ameaças de Bolsonaro em sua live e agora de parte das Forças Armadas, levam a crer que, caso o presidente, como indicam as pesquisas, perca a eleição, o resultado do pleito não deve ser acatado.
James Green: "Não descarto uma tentativa de invasão ao STF"
Em entrevista ao Fórum Café desta sexta-feira (8) o pesquisador e professor da Universidade Brown (EUA) James Green fez uma análise sobre as recentes ameaças golpistas por parte do presidente Bolsonaro e de uma ala das Forças Armadas. Green também destaca o fato de que os filhos de Bolsonaro possuem relação com Steve Bannon, criador da Cambridge Analitica e mentor de um projeto global de extrema direita.
O pesquisador afirma que não descarta uma invasão do Supremo Tribunal Federal (STF) por parte da militância bolsonarista e também traça alguns cenários para o pleito brasileiro deste ano.
"Eu não descarto a possibilidade de uma invasão ao STF. Se há uma confusão sobre os resultados criada pela direita e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o ministro Alexandre de Morais declara que Lula é o vencedor, pode haver mobilização [bolsonarista] e isso pode acontecer. Bolsonaro tem capacidade de mobilizar e há uma parcela da sociedade que está envenenada pelo seu discurso, assim como há nos EUA uma parcela bastante grande do partido Republicano que acredita nele”, alerta o pesquisador.
Com informações da Veja e Estadão.