Apenas 24 horas depois da Faculdade de Direito da USP divulgar a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa da Democracia e do Estado de Direito, o manifesto obteve mais de 100 mil assinaturas. Nos dias anteriores ao lançamento da Carta, Bolsonaro fez mais uma série de declarações contra as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral, ao mesmo tempo em que participava de comícios e convenções partidárias com Arthur Lira, o homem que poderia abrir seu processo de impeachment - e recebia uma verdadeira blindagem da PGR por meio da vice-procuradora Lindôra Araujo.
E foi em uma dessas convenções partidárias, a do Progressistas em Brasília, que Bolsonaro afirmou não precisar de “cartinha nenhuma” para defender a democracia e mostrar seu apoio às instituições. O mais curioso é que, na Carta, o nome do presidente não é citado. A Carta expressa a preocupação com desvios autoritários que ameaçam democracias, dando como exemplo a invasão do Capitólio, em Washington, nos EUA, e deixou claro o compromisso de todos os que defendem a liberdade democrática em se unir contra esse tipo de agressão.
"Assistimos recentemente a desvarios autoritários que puseram em risco a secular democracia norte-americana. Lá as tentativas de desestabilizar a democracia e a confiança do povo na lisura das eleições não tiveram êxito, aqui também não terão (...) Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia. Sabemos deixar ao lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática. No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições", diz o trecho final da Carta.
Quem assinou
A Carta lançada pela Faculdade de Direito da USP recebeu um apoio massivo de artistas, intelectuais, empresários, políticos e personalidades vinculadas às esquerdas como um todo. Algumas das personalidades que assinaram a carta foram Fernanda Montenegro, Chico Buarque, o banqueiro do Itaú Roberto Setúbal, o economista e ex-presidente do Palmeiras Luiz Gonzaga Beluzzo, os ex-ministros do STF Joaquim Barbosa e Nelson Jobim, entre muitas outras personalidades. A lista completa pode ser lida aqui.
O sucesso foi tanto que até a FIESP desinflou o pato amarelo e prometeu a sua versão. E ainda ganhou o apoio da Febraban. Dessa maneira a carta dos industriais e banqueiros deve vir na semana que vem e, ao que tudo indica, será uma verdadeira pedra no sapato daquele sujeito que nunca deveria ter ocupado a presidência desse país. E sequer uma cadeira no parlamento, como o fez por cerca de 30 anos.