ELEIÇÕES 2022

Carta em defesa do Estado Democrático de Direito recebe apoio de empresários

O documento será lançado no dia 11 de agosto, na Faculdade de Direito da USP, e lido pelo ex-ministro do STF, Celso de Mello

Carta é uma reação contra discurso golpista de Bolsonaro.Créditos: Clauber Cleber Caetano/PR
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Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, banqueiros copresidentes do conselho de administração do Itaú Unibanco, além de Candido Bracher, ex-presidente da instituição financeira e atualmente integrante do conselho, assinaram o manifesto em defesa da democracia.

O documento está sendo organizado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e por entidades e representantes da sociedade civil.

Chama-se “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”, evidentemente uma reação à conduta de Jair Bolsonaro (PL) e suas constantes ameaças golpistas ao sistema eleitoral brasileiro.

A Carta será lançada em um encontro na faculdade no dia 11 de agosto, no Pátio das Arcadas do Largo de São Francisco, e lida pelo ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello.

Com quase 3 mil assinaturas, o documento recebeu adesão, no final de semana, de inúmeros outros empresários, como Fabio Barbosa, da Natura, além de artistas, juristas e personalidades como Chico Buarque, Arnaldo Antunes, Walter Casagrande, Armínio Fraga, entre outros, de acordo com informações da coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo.

Os signatários estão sendo convidados a comparecer ao evento, convocado para a defesa dos tribunais superiores, das urnas eletrônicas e da legitimidade dos resultados das eleições.

Entre os organizadores do evento estão professores e ex-alunos da faculdade, o Grupo Prerrogativas, que reúne juristas como Marco Aurélio de Carvalho, Pedro Serrano, Carol Proner, Fernando Augusto Fernandes, entre outros.

Veja a íntegra da Carta:

"Em agosto de 1977, em meio às comemorações do sesquicentenário de fundação dos cursos jurídicos no país, o professor Goffredo da Silva Telles Junior, mestre de todos nós, no território livre do Largo de São Francisco, leu a Carta aos Brasileiros, na qual denunciava a ilegitimidade do então governo militar e o estado de exceção em que vivíamos. Conclamava também o restabelecimento do estado de direito e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.

A semente plantada rendeu frutos. O Brasil superou a ditadura militar. A Assembleia Nacional Constituinte resgatou a legitimidade de nossas instituições, restabelecendo o Estado Democrático de Direito com a prevalência do respeito aos direitos fundamentais. Temos os poderes da República, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, todos independentes, autônomos e com o compromisso de respeitar e zelar pela observância do pacto maior, a Constituição Federal.

Sob o manto da Constituição Federal de 1988, prestes a completar seu 34º aniversário, passamos por eleições livres e periódicas, nas quais o debate político sobre os projetos para o país sempre foi democrático, cabendo a decisão final à soberania popular. A lição de Goffredo está estampada em nossa Constituição: 'Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição'.

Nossas eleições com o processo eletrônico de apuração têm servido de exemplo no mundo. Tivemos várias alternâncias de poder com respeito aos resultados das urnas e transição republicana de governo. As urnas eletrônicas revelaram-se seguras e confiáveis, assim como a Justiça Eleitoral. Nossa democracia cresceu e amadureceu, mas muito ainda há de ser feito.

Vivemos em um país de profundas desigualdades sociais, com carências em serviços públicos essenciais, como saúde, educação, habitação e segurança pública. Temos muito a caminhar no desenvolvimento das nossas potencialidades econômicas de forma sustentável. O Estado apresenta-se ineficiente diante dos seus inúmeros desafios. Pleitos por maior respeito e igualdade de condições em matéria de raça, gênero e orientação sexual ainda estão longe de ser atendidos com a devida plenitude.

Nos próximos dias, em meio a estes desafios, teremos o início da campanha eleitoral para a renovação dos mandatos dos legislativos e executivos estaduais e federais. Neste momento, deveríamos ter o ápice da democracia com a disputa entre os vários projetos políticos visando convencer o eleitorado da melhor proposta para os rumos do país nos próximos anos.

Ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições. Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o Estado Democrático de Direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira.

São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional. Assistimos recentemente a desvarios autoritários que puseram em risco a secular democracia norte-americana. Lá as tentativas de desestabilizar a democracia e a confiança do povo na lisura das eleições não tiveram êxito, aqui também não terão. Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia. Sabemos deixar ao lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática.

Imbuídos do espírito cívico que lastreou a Carta aos Brasileiros de 1977 e reunidos no mesmo território livre do Largo de São Francisco, independentemente da preferência eleitoral ou partidária de cada um, clamamos às brasileiras e aos brasileiros a ficarem alertas na defesa da democracia e do respeito ao resultado das eleições.

No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições. Em vigília cívica contra as tentativas de rupturas, bradamos de forma uníssona:
Estado Democrático de Direito Sempre!".