NÃO CONVENCEU

Embaixadores sobre Bolsonaro: "ameaça à democracia", "teoria da conspiração" e "Power Point amador"

Presidente piorou sua imagem diante de embaixadores estrangeiros após mentir sobre o sistema eleitoral brasileiro e atacar ministros do STF e TSE

Bolsonaro em reunião com embaixadores.Créditos: Clauber Cleber Caetano/PR
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Embaixadores que participaram de reunião com Jair Bolsonaro (PL) nesta segunda-feira (18) não foram convencidos pelas declarações do presidente, que voltou a colocar em xeque a confiabilidade do sistema eleitoral brasileiro. O efeito foi exatamente o contrário: os representantes diplomáticos estão preocupados com a estabilidade democrática do país.

Segundo o jornal O Globo, que o ouviu alguns dos embaixadores que estiveram no Palácio da Alvorada, eles devem reportar aos governos de seus países que Bolsonaro não apresentou qualquer prova sobre suas alegações de que as urnas eletrônicas são passíveis de fraude. 

Um dos embaixadores, por exemplo, disse que Bolsonaro ameaça a democracia ao atacar ministros de tribunais e que o presidente brasileiro insiste em "teorias da conspiração". Outro afirmou que está "preocupado" com a democracia brasileira e que torce para que as instituições e o Poder Judiciário garantam eleições tranquilas. 

Representantes diplomáticos também deram depoimentos, em condição de anonimato, ao jornal Estadão. Um deles disse que a reunião com Bolsonaro se tratou de um "ato de campanha". Outro classificou a apresentação de Power Point exibida pelo presidente como "amadora"

O único embaixador que se manifestou publicamente sobre a reunião com Bolsonaro foi Pietro Lazzeri, da Suíça. "Participei hoje no Palácio da Alvorada do encontro do Presidente da República com Chefes de Missão Diplomática. No ano do Bicentenário do Brasil, desejamos ao povo brasileiro que as próximas eleições sejam mais uma celebração da democracia e das instituições", escreveu em suas redes sociais. 

Aplausos tímidos 

A reunião que Jair Bolsonaro (PL) fez com embaixadores estrangeiros nesta segunda-feira (18) para mentir sobre o sistema eleitoral brasileiro terminou de maneira constrangedora.

Ao final da apresentação, o presidente agradeceu e recebeu aplausos tímidos dos embaixadores presentes. A ideia seria que, após o discurso de Bolsonaro, representantes diplomáticos fizessem perguntas. Nenhum deles, no entanto, se inscreveu para perguntar e o evento foi finalizado. 

Crime eleitoral? 

Ao utilizar a TV Brasil, uma emissora pública, para disseminar informações falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro, durante reunião com embaixadores estrangeiros nesta segunda-feira (18), o presidente Jair Bolsonaro (PL) comete crime eleitoral e pode vir a ser cassado, caso se reeleja, ou mesmo ficar inelegível

A avaliação é de Renato Ribeiro de Almeida, advogado especializado em direito eleitoral. À Fórum, Almeida explicou que a atitude de Bolsonaro em colocar em xeque a confiabilidade das urnas eletrônicas, atacar ministros do STF e TSE e seu principal adversário, o ex-presidente Lula (PT), em reunião com embaixadores transmitida por um meio de comunicação social, se assemelha ao caso do ex-deputado estadual Fernando Francischini, que teve seu mandato cassado por disseminar os mesmos tipos de mentiras através das redes sociais.

"Há a possibilidade [na reunião de Bolsonaro com embaixadores transmitida pela TV Brasil] de abuso dos meios de comunicação social. Se assemelha ao caso do Francischini, que foi cassado pela Justiça Eleitoral e perdeu o mandato devido a condutas de disseminação de fake news por meio das redes sociais", diz o advogado. 

Segundo Almeida, há um "agravante" no caso de Bolsonaro pois "se trata de uma TV pública, portanto de recursos públicos, que foram utilizados para disseminar mentiras, ataques aos adversários, especialmente Lula, sistema eleitoral, ministros, promovendo, especialmente diante de embaixadores, fake news e promovendo a desordem no país". 

"Temos uma situação que, por mais inusitada que seja, pode gerar consequências, inclusive cassação do eventual segundo mandato e também inelegibilidade por 8 anos", atesta o advogado.