DIGA-ME COM QUEM ANDAS

Bolsonaro quer visita de príncipe acusado de assassinato, mas saudita pede imunidade

País árabe aguarda resposta do Itamaraty para que herdeiro do trono não possa ser preso aqui. Presidente brasileiro e Mohamed Bin Salman, que teria ordenado morte de jornalista, já se conhecem e “se dão bem”

Jair Bolsonaro e Mohamed bin Salman.Créditos: Presidência da República/Reprodução
Escrito en POLÍTICA el

O governo da Arábia Saudita fez um pedido de imunidade total de chefe de Estado ao Itamaraty para o príncipe Mohamed bin Salman, acusado de mandar matar e esquartejar o jornalista Jamal Khashoggi, seu compatriota, para que ele então possa vir ao Brasil visitar o presidente Jair Bolsonaro, sem que haja qualquer risco de que o nobre do país árabe seja preso por tribunais daqui. Bolsonaro e Salman já se viram algumas vezes e o pedido da visita partiu do mandatário brasileiro, que se disse “encantado” e “ter bastante afinidade” com o herdeiro do trono saudita, tratado pela comunidade internacional como um assassino sanguinário.

Salman governa de fato a Arábia Saudita, mas formalmente ele não é o rei, cargo ocupado por seu pai, Salman bin Abdulaziz al-Saud, que tem 86 anos, o que tecnicamente não o confere o status oficial de chefe de Estado. Prevendo que algum tribunal superior brasileiro possa pedir sua prisão, já que o crime atribuído a ele é o de violação aos direitos humanos, o mandachuva da mais poderosa monarquia do Oriente Médio preferiu se precaver e exigir a proteção legal para poder visitar o “amigo” brasileiro.

Jamal Khashoggi, um crítico do governo saudita que estava exilado nos EUA e escrevia para o jornal Washington Post, foi morto e teve o corpo picado e dissolvido em solução ácida dentro do consulado de seu país em Istambul, na Turquia, em 2018, quando foi pedir a renovação de seu passaporte. O serviço de inteligência turco, por meio de grampos e outros expedientes escusos, conseguiu inclusive gravar em áudio a sessão de tortura que culminou em seu assassinato, e para toda a comunidade internacional parece não haver dúvidas de que a ordem para executá-lo partiu de Mohamed bin Salman.

Entusiasta das ditaduras monárquicas do Oriente Médio, Jair Bolsonaro afirmou recentemente que deseja muito a vinda de diversos dignatários desses países a Brasília para visitá-lo. “Estamos trabalhando para receber ainda este ano em Brasília o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, o emir do Qatar, o rei do Bahrein e o novo presidente dos Emirados Árabes”, disse o brasileiro.

Chefes de Estado já têm a imunidade total quando vão a uma nação estrangeira, ou seja, eles não estão de forma alguma sujeitos às leis e decisões judiciais daquele país visitado. No caso do saudita, como ele não é oficialmente o rei, em tese pode ter um pedido de prisão decretado por tribunais internacionais ou até mesmo do Brasil.