Os desaparecimentos, do servidor licenciado da Funai Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips enquanto viajavam pelo Vale do Javari, no Amazonas trazem novamente à tona, o debate entorno da atuação do governo Bolsonaro para favorecer o garimpo nas terras indígenas com o desmonte da Funai.
Uma das primeiras medidas de Bolsonaro no início de seu governo foi exonerar Bruno Araújo Pereira da chefia da Coordenação geral de Índios Isolados e Recém Contatados, em 2019. Após o ato, o indigenista que é servidor de carreira decidiu tirar licença do órgão.
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Na época o servidor foi retirado do cargo após coordenar uma operação que expulsou centenas de garimpeiros da Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Na ocasião, equipamentos dos garimpeiros foram destruídos e um helicóptero foi apreendido.
Nessa mesma época, os servidores do órgão relataram que houve pressão de setores ruralistas ligados ao governo para que Bruno Pereira deixasse a coordenação de índios isolados.
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Após sair de licença, Bruno Araújo Pereira vinha trabalhando como assessor da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava), principal organização do território indígena.
Segundo o ex-servidor da Funai Antenor Vaz, que já foi o chefe do órgão no Vale do Javari o "Pereira" é uma pessoa aliada e comprometida com a defesa dos direitos dos povos indígenas".
Após o desaparecimento da dupla, a própria Funai afirmou que Pereira "não estava na região em missão institucional, dado que se encontra de licença para tratar de interesses particulares".
Segundo Antônio Vaz, o território vem sofrendo invasões crescentes de caçadores, pescadores, madeireiros e garimpeiros.
Ultimamente, segundo ele, também tem aumentado a ação de narcotraficantes na terra indígena, que fica na fronteira com o Peru e a Colômbia.
Informações da União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI), dão conta de que o indigenista e outros membros da entidade vinham sofrendo ameaças.
“Enfatizamos que na semana do desaparecimento, conforme relatos dos colaboradores da Univaja, a equipe recebeu ameaças em campo. A ameaça não foi a primeira, outras já vinham sendo feitas a demais membros da equipe técnica da Univaja, além de outros relatos já oficializados para a Polícia Federal, o Ministério Público Federal em Tabatinga, o Conselho Nacional de Direitos Humanos e o Indigenous Peoples Rights International”, ressaltou por meio de nota.
Desmonte
No governo de Jair Bolsonaro, a Funai sofreu vários grandes cortes no orçamento e passou a endossar propostas do presidente contrárias aos direitos dos indígenas, como a liberação do garimpo nesses territórios, além da interferência na demarcação dos territórios.
Segundo Antenor Vaz, a "omissão da Funai" no Vale do Javari fez com que os indígenas assumissem por conta própria, a defesa do território e se colocassem em risco de confrontos com invasores.