GOVERNO BOLSONARO

Léo Índio, sobrinho de Bolsonaro, faz lobby para venda de simulador de tiro ao governo

Episódio revela a prática corriqueira de misturar interesses públicos e privados, algo que Jair Bolsonaro condenava reiteradamente em sua campanha para o Palácio do Planalto

Léo Índio e BolsonaroCréditos: Reprodução / Divulgação redes sociais
Escrito en POLÍTICA el

Apesar de ter reduzido as aparições no palácio, Leonardo Rodrigues de Jesus, o Léo Índio, primo dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, segue atuante e fazendo a ponte entre empresas privadas e governo.

A negociação da vez envolve uma empresa argentina fabricante de simuladores de tiro.  Trata-se do grupo Davnar, com sede em Buenos Aires e que busca oferecer os simuladores a órgãos oficiais.

A empresa vinha tentando cavar um espaço na agenda do governo, até que um amigo do clã Bolsonaro entrou em cena e pôs Léo Índio para intermediar a negociação com os órgãos federais.  A ideia era facilitar a entrada da empresa nos órgãos oficiais. 

O responsável por apresentar o simulador de tiro a Léo Índio é o ex-agente penitenciário em Minas Gerais e sócio de uma empresa de segurança, Rafael Moreno de Almeida, que se apresenta publicamente como Rafael Guerra. 

Foi o ex-agente que articulou  uma reunião com a empresa do simulador de tiro para apresentar o equipamento a Léo Índio. Um representante da empresa foi até Brasília especialmente para apresentar o sistema ao primo dos filhos de Jair Bolsonaro. 

A entrada de Léo Índio pavimentou o caminho para  o início de uma empreitada ambiciosa da empresa de vender os simuladores para as forças de segurança  vinculadas ao governo.

Entretanto, nenhum desses órgãos admite a participação do sobrinho de Bolsonaro nas tratativas, mas um levantamento feito pelo portal Metrópoles mostra que algumas portas foram abertas para a Davnar, como no Exército, por exemplo.

Em agosto do ano passado, oficiais do 2º Batalhão de Polícia do Exército, em Osasco, São Paulo, chegaram a autorizar a realização de uma sessão experimental de tiros com o equipamento, dentro do quartel.  Em Brasília, o produto foi apresentado para as Polícias, Federal e Rodoviária Federal. 

A empresa apresenta a tecnologia como uma novidade capaz de revolucionar o mercado, especialmente por dispensar o uso de munições de verdade nos treinamentos. O equipamento, uma espécie de cabine virtual de tiro, simula sessões de tiro ao alvo e situações de combate. 

Na versão básica, um único módulo do produto custa R$ 70 mil. Modelos mais completos chegam a R$ 2 milhões, a depender de quanto o cliente está disposto a gastar com os adicionais.  Em escala, as vendas para órgãos públicos podem render à Davnar contratos na casa das centenas de milhões de reais dos cofres públicos. 

Representantes do grupo permanecem aguardando  o sinal verde para a assinatura de contratos.

Procurado, Léo Índio não atendeu às tentativas de contato feitas pela reportagem. Por telefone, Rafael Guerra se limitou a dizer que "foi convidado para conhecer o simulador de tiro e, depois, resolveu levar o amigo Léo Índio a uma apresentação organizada pela empresa".  Ele também afirma que tinha interesse em adquirir o produto, mas desistiu em razão do custo dos simuladores.

A Davnar, por sua vez, negou que tenha recorrido a dupla de amigos para facilitar a oferta dos simuladores ao governo. Juan Molnar, o dono da empresa, disse que, por orientação de sua área jurídica, só poderia se manifestar a partir de um “pedido formal” dos repórteres.

O Centro de Comunicação Social do Exército declarou, em nota, que “a aquisição de simuladores é regulada pela Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021)”. O texto diz ainda que “militares do 2º Batalhão de Polícia do Exército (2º BPE) testaram, de forma gratuita, simulador da empresa em questão” e que “não há intenção, planejamento ou orçamento destinado à aquisição do equipamento”.

Já a Polícia Federal confirmou a apresentação do simulador de tiro, durante um congresso em Santa Catarina em dezembro de 2021, porém  negou que familiares do presidente Jair Bolsonaro tenham intercedido em favor da empresa.

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar