Documento secreto da CIA revela uma reunião de março de 1974 entre o general Ernesto Geisel, à época recém-empossado presidente da República, com três assessores: o general que estava deixando o comando do Centro de Informações do Exército (CIE), o general que viria a sucedê-lo e o general João Figueiredo, indicado por Geisel para o Serviço Nacional de Inteligência (SNI).
No documento toma-se conhecimento de que Geisel foi informado da execução sumária de 104 pessoas no CIE durante o governo Médici e, ao novo presidente, é pedido autorização para continuar com a política de assassinatos. Inicialmente, Geisel diz ter dúvidas e pede um tempo para pensar. No dia seguinte, o ditador dá luz verde para que Figueiredo dê continuidade com a política de execução de militantes políticos contrários ao regime militar.
“Em 30 de março de 1974, o presidente brasileiro Ernesto Geisel reuniu-se com o general Milton Tavares de Souza (denominado General Milton) e o general Confucio Danton de Paula Avelino, respectivamente chefes do Centro de Inteligência do Exército (CIE). Também esteve presente o general João Baptista Figueiredo, Chefe do Serviço Nacional de Inteligência (SNI).
O general Milton, que fez a maior parte da conversa, esboçou o trabalho do CIE contra o alvo interno subversivo durante a gestão do ex-presidente Emilio Garrastazu Médici. Ele enfatizou que o Brasil não pode ignorar a ameaça subversiva e terrorista, e disse que métodos extra-legais devem continuar a ser empregados contra subversivos perigosos. Nesse sentido, o general Milton disse que cerca de 104 pessoas nesta categoria foram sumariamente executadas pelo CIE durante o último ano ou assim. Figueiredo apoiou essa política e pediu sua continuidade."
Em seguida, o documento revela o momento em Geisel dá sinal verde para que a política de execução sumária continue:
"O presidente, que comentou sobre a seriedade e aspectos potencialmente prejudiciais desta política, disse que queria refletir sobre o assunto durante o fim de semana antes de chegar a qualquer decisão sobre [Página 279]se ele deve continuar. Em 1 º de abril, o presidente Geisel disse ao General Figueiredo que a política deveria continuar, mas que deve ser tomado muito cuidado para garantir que apenas subversivos perigosos sejam executados. O Presidente e o General Figueiredo concordaram que, quando o CIE prender uma pessoa que possa se enquadrar nessa categoria, o chefe do CIE consultará o General Figueiredo, cuja aprovação deve ser dada antes da execução da pessoa. O Presidente e o General Figueiredo também concordaram que o CIE deve dedicar quase todo o seu esforço à subversão interna, e que o esforço global do CIE deve ser coordenado pelo General Figueiredo."
Com a revelação de tal documento, fica claro que a política de executar militantes da esquerda brasileira era uma ação deliberada e que contava com a anuência do alto escalão da Ditadura Militar brasileira (1964-1985).